Medicamento essencial para tratar doentes com cancro em falta desde abril. Hospitais já estão a implementar planos de contingência

Desde meados de abril que um medicamento crucial para o tratamento de cancros enfrenta uma rutura no abastecimento, e as reposições de stock só estão previstas para começar em junho. Hospitais como o de Guimarães e a Unidade Local de Saúde do Alto Ave já foram obrigados a ajustar os esquemas terapêuticos de alguns doentes e a implementar planos de contingência.

De acordo com informações obtidas pela Renascença, pelo menos 11 autorizações de utilização especial foram concedidas para este medicamento com rotulagem em língua estrangeira, o que demonstra uma procura urgente em diversos hospitais para repor os seus stocks.

A reposição do stock está prevista apenas para 11 de junho pelo laboratório Accord e possivelmente só a partir de 1 de julho pela Hikma.

O oncologista Paulo Cortes esclarece que o medicamento em questão é o Fluorouracilo, uma solução injetável de 50 mg/ml, que é frequentemente utilizado em vários esquemas de combinação de quimioterapia.

“É um medicamento que realmente é parte integrante de muitos esquemas terapêuticos. Por exemplo, para o cancro do cólon e do reto, quer em fases iniciais quer, sobretudo, em fases mais avançadas. É um medicamento importante em alguns casos de cancro de mama. Enfim, é transversal a vários esquemas de tratamento”, indica à rádio.

O especialista alerta para a gravidade da rutura deste medicamento, considerando-o “barato e eficaz”. Embora existam algumas alternativas, como o medicamento oral Capecitabina, estas não são viáveis em todos os casos, especialmente porque há esquemas de tratamento planeados com base no Fluorouracilo, os quais não podem ser facilmente substituídos.

O oncologista aponta o preço acessível como um dos motivos para as frequentes ruturas deste medicamento, uma vez que já perdeu a patente e é produzido em países terceiros. Esta situação não afeta apenas Portugal, mas também o resto da Europa e do mundo.

“Nós não podemos estar dependentes de fornecedores que podem deixar de fornecer estes fármacos. Enfim, não acho que seja admissível. Acho que devia haver aqui uma estratégia pensada a nível global”, defende Paulo Cortes.

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