Uma nova geopolítica da energia: mesmo com a saída da Rússia, mercados energéticos conseguem reinventar-se

A guerra na Ucrânia está a fazer disparar os preços de uma multitude de produtos, desde o pão à energia, tocando, com maior ou menor intensidade, toda a gama de produtos e serviços sobre os quais se alicerçam as economias. As bombas caem em terras ucranianas, mas os tremores são sentidos em todo o mundo.

A OCDE calcula que já este ano o PIB mundial venha a contrair 1% e que a taxa de inflação suba mais 2,5%, tudo isto sobre economias já fragilizadas pelos impactos da pandemia de COVID-19.

A inflação subiu 7,7% em fevereiro na área da OCDE, face aos 1,7% do mesmo mês de 2021, atingindo assim o valor mais alto desde dezembro de 1990. Especificamente para o segmento alimentar, a inflação chegou mesmo, nesse mês, a alcançar os 8,6%.

Analistas citados pela ‘Fortune’ preveem que o Brent chegue mesmo aos 200 dólares por barril, caso se concretize aquele que é tido como o pior cenário: a NATO ser sugada para o conflito entre Rússia e Ucrânia. Contudo, não existem ainda quaisquer certezas quanto à probabilidade de esse cenário se vir a verificar.

O Brent já valorizou mais de 50% desde o início do ano, estando hoje, dia 26 de abril, nos 103 dólares por barril. Avança a corretora XTB que não só a guerra na Ucrânia está a fazer subir os preços do petróleo, mas também a política de “tolerância zero” seguida pela China no que toca ao ressurgimento de surtos de Covid-19 no país estão a fazer aumentar os preços, visto que a China é um dos maiores importadores de petróleo de todo o mundo e que, com a suspensão da atividade de vários setores económicos, pode assistir-se a uma forte quebra na procura chinesa, o pode fazer subir os preços para equilibrar.

Neste jogo económico de avanços, recuos e poucas certezas nos mercados energéticos, a Rússia surge como o principal perdedor. Com uma economia altamente dependente do petróleo e do gás natural, o país liderado por Vladimir Putin está a sofrer fortes impactos negativos, principalmente sob o peso das sanções lançadas pelos países ocidentais e aliados e devido à saída do país de várias empresas, que optaram por abandonar o mercado russo como protesto face à guerra contra a Ucrânia e à instabilidade e fragilidade da economia do país. Apesar de uma proibição conjunta da UE ainda não ser consensual entre os 27, a saída das empresas da Rússia causou sérios prejuízos à economia fortemente dependente das exportações de petróleo e gás natural.

Também os países importadores de produtos energéticos russos têm muito a perder nesta estratégia de corte com Moscovo. Contudo, o afastamento da Rússia poderá criar espaço ao fortalecimento de exportadores de segunda linha e está, inclusivamente, a ser avaliada por Washington a possibilidade de aliviar as sanções sobre a Venezuela, para que o país possa retomar a atividade de exportações de petróleo.

Por outro, mas não de somenos importância, as energias renováveis podem encontrar caminho livre para o seu desenvolvimento e consolidação, como forma de mitigar o vazio deixado pela Rússia no suprimento das necessidades energéticas da UE e dos EUA, por exemplo. Neste campo, tecnologias de captura e armazenamento de carbono e de produção do chamado “hidrogénio verde” poderão conquistar um novo patamar no leque de fornecedores de energia.

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