“Tóxico” e “inoportuno”: Governo reage a declarações de Marcelo sobre reparar crimes do colonialismo

As declarações do Presidente da república sobre como reparar crimes da escravatura e do colonialismo apanharam o Governo de surpresa, que classifica o assunto de “tóxico” e inoportuno”.

Com os Presidentes dos PALOP em Lisboa para participarem, esta quinta-feira, nas comemorações dos 50 anos do 25 de abril, fontes do Executivo, citadas pelo Expresso, temem ruído na cooperação: “Não podemos deixar perturbar toda a cooperação que temos vindo a fazer com os PALOP”, sublinham.

“Nada disto foi articulado nem connosco nem com o anterior Governo”, adiantaram ao Expresso as mesmas fontes.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa afirmou na terça-feira à noite que Portugal é responsável pelos crimes cometidos durante a escravatura transatlântica e o período colonial, sublinhando a necessidade de indemnizações e reparações.

Durante um evento com correspondentes estrangeiros, o Presidente Rebelo de Sousa declarou: “Portugal assume a responsabilidade total pelos erros do passado” e que esses crimes, incluindo massacres coloniais, tiveram “custos”.

“Devemos suportar esses custos”, afirmou, questionando: “Existem ações que não foram punidas e responsáveis não foram detidos? Existem bens roubados que não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto”, explicou.

Na sequência destas declarações, o Brasil já veio pedir “ações concretas” por parte de Portugal. “Pela primeira vez a gente está fazendo um debate dessa dimensão a nível internacional”, frisou a ministra da Igualdade Racial do Brasil, acrescentando ainda que tais declarações são “fruto de séculos de cobrança da população negra”.

Ainda assim, Anielle Franco sublinhou que “essa declaração precisa vir seguida de ações concretas, como o próprio Presidente [de Portugal] parece estar ali comprometendo-se a fazer”.

“A nossa equipa já está em contacto com o Governo português para dialogar sobre como pensar essas ações e a partir daqui quais passos serão tomados”, disse.

A ideia de pagar reparações ou fazer outras formas de compensação pela escravatura transatlântica tem ganho momentum a nível mundial, incluindo esforços para criar um tribunal especial sobre o assunto. Ativistas argumentam que reparações e políticas públicas para combater desigualdades causadas pelo passado de Portugal, incluindo racismo sistémico, são essenciais.

O Presidente Rebelo de Sousa já tinha defendido, no ano passado, que Portugal deveria pedir desculpa pela escravatura e pelo colonialismo, mas sem chegar a um pedido de desculpas completo. Na sua intervenção desta terça-feira, enfatizou que reconhecer e assumir a responsabilidade pelo passado é mais importante do que pedir desculpa.

“Pedir desculpa é a parte fácil”, afirmou Rebelo de Sousa.

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