Revista oficial dos Serviços Secretos Estrangeiros da Rússia contradiz versão de Putin sobre troca de prisioneiros que alegadamente envolvia Navalny

A mais recente edição da revista Razvedchik, publicação oficial do Serviços Secretos Estrangeiros da Rússia (SVR), revelou detalhes sobre a troca de prisioneiros entre Moscovo e o Ocidente que ocorreu em 1 de agosto deste ano, contradizendo diretamente as declarações anteriores do presidente Vladimir Putin. O artigo, intitulado “O longo caminho para casa”, indica que as negociações que culminaram na troca de prisioneiros foram ordenadas pelo Kremlin e decorreram durante cerca de 18 meses. Esta revelação contrasta com as afirmações de Putin, feitas em março de 2024, de que a ideia de incluir Alexey Navalny, líder da oposição russa, surgiu apenas poucos dias antes da sua morte.

O artigo da Razvedchik refere-se, segundo o jornal independente Meduza, a “figuras políticas odiosas” incluídas na lista inicial de prisioneiros a serem trocados, sem mencionar Navalny diretamente, mas sugere que a sua inclusão, seguida pela sua morte em circunstâncias ainda nebulosas, atrasou significativamente o processo de troca. Segundo o texto, Sergey Naryshkin, diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira, liderou as negociações em nome de Moscovo.

Isto contrasta com a versão pública dos acontecimentos oferecida por Putin. Numa conferência de imprensa a 17 de março de 2024, poucos dias após sua reeleição, Putin afirmou que ficou a par da ideia de trocar Navalny apenas dias antes da sua morte. “Alguns colegas mencionaram, não do meu governo, apenas pessoas, que havia a possibilidade de trocar Navalny por alguns dos nossos presos no Ocidente. Concordei imediatamente, sob a condição de que ele não voltasse à Rússia, mas infelizmente o que aconteceu, aconteceu”, disse Putin. A conferência foi a primeira vez que o presidente russo mencionou Navalny pelo nome em público.

As primeiras notícias sobre a possível inclusão de Navalny numa troca de prisioneiros surgiram no final de fevereiro de 2024, quando a presidente da Fundação Anti-Corrupção, Maria Pevchikh, exilada, acusou Putin de usar a libertação de Navalny como moeda de troca em negociações com o Ocidente. Pevchikh alegou que Putin, temendo o impacto que Navalny poderia ter se fosse libertado e acolhido no Ocidente, ordenou secretamente a sua morte, antes que a troca pudesse ocorrer.

Estas alegações, somadas às revelações da revista do SVR, alimentam especulações sobre os bastidores da política russa e sobre o verdadeiro motivo por trás da morte de Navalny, cuja trágica perda continua a levantar questões sobre a atuação das autoridades russas.

A troca de prisioneiros de 1 de agosto

A troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente, que finalmente se realizou a 1 de agosto no Aeroporto de Ancara, incluiu a libertação de várias figuras proeminentes da oposição russa e cidadãos ocidentais. Entre os libertados estavam Vladimir Kara-Murza, Ilya Yashin, Oleg Orlov, Andrey Pivovarov, Sasha Skochilenko, Liliya Chanysheva, Ksenia Fadeeva, Vadim Ostanin, bem como os cidadãos americanos Paul Whelan, Evan Gershkovich, Alsu Kurmasheva, e o cidadão alemão Patrick Schebel. A Bielorrússia também participou, libertando o cidadão alemão Rico Krieger.

Em troca, a Rússia recuperou uma série de agentes de inteligência e hackers que estavam detidos no Ocidente. Entre eles estava Vadim Krasikov, um oficial do Serviço Federal de Segurança (FSB), que havia sido condenado à prisão perpétua na Alemanha pelo assassinato do ex-comandante checheno Zelimkhan Khangoshvili.

No regresso a Moscovo, os prisioneiros libertados foram recebidos pessoalmente por Vladimir Putin no aeroporto Vnukovo-2. Numa cerimónia simbólica, o presidente afirmou: “A pátria nunca se esqueceu de vocês, nem por um minuto.” Putin também prometeu condecorar os prisioneiros por seus serviços ao país. O diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira, que também participou na receção, afirmou que os agentes libertados retomariam as suas funções após um breve período de descanso.

As revelações sobre as negociações prolongadas e a inclusão precoce de Navalny na lista de troca complicam ainda mais a imagem do governo russo no cenário internacional. Embora as autoridades russas tenham negado repetidamente qualquer envolvimento direto na morte de Navalny, as acusações de que a sua inclusão na troca foi estrategicamente planeada para ser evitada levantam questões sobre a integridade e os objetivos reais das negociações.

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