Regresso do serviço militar obrigatório à Europa? “Não é essa a solução para evitar escalada na guerra com a Rússia”

O presidente da Letónia, Edgars Rinkēvičs, fez recentemente um apelo contundente à Europa para realizar um “debate sério” sobre a reintrodução do serviço militar obrigatório. Rinkēvičs enfatizou a importância de uma postura defensiva robusta, declarando: “Ninguém quer lutar no exército. Mas ninguém quer ser invadido como aconteceu na Ucrânia”. Rapidamente, outros líderes de estados-membros da Nato juntaram-se à discussão do tema.

Krisjanis Karins, ministro dos Negócios Estrangeiros da Letónia, alinhou-se com Rinkēvičs, sugerindo que a reintrodução do serviço militar em potências europeias, como o Reino Unido, poderia fazer uma “diferença significativa” nas defesas europeias contra a Rússia.

Em resposta aos crescentes receios geopolíticos, desencadeados pela invasão da Rússia á Ucrânia, vários países têm tomado medidas significativas. A Letónia e a Suécia já reintroduziram o serviço militar obrigatório, enquanto a Dinamarca anunciou planos para estender o recrutamento militar de quatro para 11 meses e incluir as mulheres no serviço a partir de 2026. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, esclareceu a intenção por trás destas medidas, afirmando: “Não nos rearmamos porque queremos a guerra. Rearmamo-nos porque queremos evitá-la.”

Apesar das crescentes preocupações e das medidas tomadas por alguns países, o debate sobre o retorno do serviço militar obrigatório é controverso. Vincenzo Bove, professor de Ciências Políticas da Universidade de Warwick, questiona a eficácia desta medida, afirmando em declarações ao El Confidencial: “É muito pouco provável que [o serviço militar obrigatório] seja a solução.” Bove também sublinha a necessidade de tempo para formar adequadamente um soldado: “Inclusive para papéis de infanteria ‘básicos’, demora-se muito para que os recrutas estejam formados”, considera.

Elisabeth Braw, especialista em Defesa do American Enterprise Institute, expressa preocupação quanto ao modelo de recrutamento da Guerra Fria, defendendo que está “obsoleto”. Braw argumenta que “precisamos de mais militares do que os que temos agora, e a melhor maneira de o fazer é motivá-los e capacitá-los”.

Além dos desafios de recrutamento, a retenção de soldados nas forças armadas também é uma preocupação crescente. Sébastien Lecornu, Ministro da Defesa francês, apresentou um plano para reter talento nas Forças Armadas após relatórios indicarem que 1.537 soldados abandonaram a Bundeswehr alemã em 2023.

Vincenzo Bove atribui a crise de recrutamento a uma “desconexão” cultural entre a comunidade militar e a sociedade civil europeia. Bove observa que “Existe uma crescente separação ideológica entre a comunidade militar e a comunidade civil”. Além disso, fatores económicos, como salários mais atrativos no setor civil, tornam o serviço militar menos atraente para os jovens.

Elisabeth Braw ressalva que o apoio político ao esforço militar não se traduz necessariamente num aumento de recrutamento: “É necessário que as Forças Armadas sejam bem administradas para que as pessoas possam manter um forte respeito por elas.”

Enquanto a Europa enfrenta ameaças geopolíticas crescentes, o debate sobre o serviço militar obrigatório é intensificado. Especialistas e líderes europeus enfatizam a necessidade de abordagens mais modernas e eficazes para garantir a defesa e a segurança do continente.

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