Quem fica de fora? «Os países ricos vão ter vacina e os mais pobres não deverão ter acesso»
Há pelo menos duas vacinas para a COVID-19 que parecem promissoras que poderão começar a chegar muito em breve. Mas a quem? Os grupos de risco deverão ser os primeiros a receber este meio de prevenção, mas não se trata apenas de dividir a população em categorias consoante a idade ou doenças crónicas, por exemplo. Primeiro que tudo, há que perceber se a vacina irá chegar a todos os países e territórios.
Segundo um centro de investigação norte-americano, já foram vendidas pelo menos 6,4 mil milhões de doses de potenciais vacinas. Outros 3,2 mil milhões estarão em negociações ou reservadas como opção de expansão dos negócios já firmados.
A BBC, que dá conta das estimativas da Universidade Duke, indica que comprar medicamentos ou vacinas em avanço é uma prática comum na indústria farmacêutica, uma vez que pode ajudar a incentivar o desenvolvimento e a financiar ensaios clínicos. Porém, também significa que quem puder pagar o preço mais alto estará em vantagem em relação aos restantes.
A investigação revela que a grande maioria das doses de vacina já compradas tem origem em países com um nível de vida mais elevado. Algumas geografias médias com capacidade de produção também conseguiram negociar com as farmacêuticas, oferecendo as suas infra-estruturas.
Índia, EUA, União Europeia, Canadá e Reino Unido estão entre os países ou comunidades que reservaram a maioria das doses. Como ainda não é claro quais as vacinas que vão funcionar (entre as dezenas em desenvolvimento), os países com essa capacidade têm investido em diferentes opções.
“É compreensível que os líderes queiram proteger as suas pessoas primeiro – ele são responsáveis pelos seus cidadãos – mas a resposta a esta pandemia global deve ser colectiva”, alerta a Organização Mundial da Saúde.
Neste momento, a situação não parece animadora para quem ainda não assegurou uma vacina. Segundo Andrea Taylor, que lidera a investigação da Universidade Duke, a combinação de compras antecipadas e do limite de doses que é possível produzir significa que «caminhamos para um cenário em que os países ricos terão vacinas e em que os mais pobres não deverão conseguir acesso».