Portugal terá sete em cada 10 anos de seca severa e temperaturas vão atingir 51ºC, avisam cientistas

Portugal vive atualmente uma situação de seca, com tendência a agravar-se, mas os alarmes são para mais do que o imediato. Segundo as projeções do “Roteiro Nacional para a Adaptação 2100”, de uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), o nosso País poderá vir seca severa em sete de cada 10 anos no sul, no pior cenário possível – em vez das duas a três secas severas por década.

Pedro Matos Soares, coordenador da equipa, explica ao Expresso que isso significa que haverá “mais de metade de uma década em seca, no período 2071-2100. As secas severas calculadas serão também mais duradouras, chegando a durar 22 meses, segundo as previsões.

Para evitar este cenário, era necessário cumprir “as promessas feitas no acordo de Paris de 2015”: cortar as emissões de gases de efeito de estufa de modo a que as temperaturas não subissem mais de 1,5ºC até ao final do século. Segundo o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), isso implicaria um corte global de 45% nas emissões de gases poluentes até 2030, e atingir a neutralidade de emissões em 2050.

A realidade que se verifica é que os termómetros continuam a subir, e a média da temperatura global já aumentou 1,2ºC desde o século XIX.

Atualmente Alentejo e Algarve, 34% do País está em seca severa ou extrema, para o que contribuiu a pouca chuva que caiu em fevereiro. Mas Pedro Matos Soares avisa que a situação será muito pior com o passar do tempo, se nada for feito.

No final do séculos haverá quebras de um quinto na precipitação anual no sul, uma situação “gritante” em que chega a chover menos 45% na primavera no barlavento algarvio e oeste do Alentejo.

Com mais ondas de calor, e aumento das temperaturas, os solos ficarão quase sem água. De acordo com os modelos usados pela equipa da FCUL, os termómetros chegarão a 51ºC no final do século em algumas estações meteorológicas nacionais. O aumento das temperaturas poderá atingir a mais 2 a 4ºC já a meio do século. A sul do Tejo, passariam a contar-se mais 95 dias com temperaturas máximas acima de 35º.

As ondas de calor chegarão a durar até 12 dias no final do século, segundo as projeções e, no interior e sudeste, em vez das 3-4 que ocorrem, passarão a ser entre 10 e 12.

Depois de finalizada a projeção de cenários no “Roteiro Nacional para a Adaptação 2100”, a equipa tratará de avaliar o custo-benefício de medidas para travar este cenário, como adaptações para o uso eficiente de água, redução de perdas na rede de distribuição, utilização de águas residuais para rega e armazenamento da água da chuva para consumo urbano ou agrícola.

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