“Os portugueses merecem que se invista mais neles”, diz António Gonçalves

Dos 38 anos de actividade profissional, dedicou 30 à indústria internacional de serviços e logística-integrada em locais remotos e/ ou inseguros (remote sites services), cinco dos quais exercendo as funções de Operations and Commercial Manager, outros cinco na qualidade de Regional Manager e 20 anos como Chief Executive Officer – C.E.O de três empresas líderes de mercado: a GCC services (Kuwaiti), a Ecolog International (Alemã) e a ES-KO (Monegasca).  Até agora residiu oficialmente em 12 países e dirigiu operações na maioria dos países de África, da ex-União Soviética, dos Balcãs, do Próximo e Médio Oriente, das Américas, Antilhas, da Austrália, da Ásia Central, Sudoeste Asiático, Antártica e Oceano Pacífico. Nascido em 1961, casado há 33 anos com uma portuguesa e pai de três filhos portugueses, é licenciado em Gestão e Técnica Hoteleira pela Escola de Hotelaria e Turismo do Porto e pós-graduado em Administração e Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É conselheiro no Conselho da Diáspora Portuguesa desde  2016 e membro da direção desde 2023.

O que diz ANTÓNIO…
O capital humano faz toda a diferença no sucesso dos negócios

Quando surgiu a ideia de criar a ea ventur?
Nos turbulentos anos 2010 a 2014, estava eu residente nos Emirados Árabes Unidos. 

Em que consiste o projecto?
O sector de Remote Sites Services reorganizava-se a nível internacional e a oportunidade de ajudar a concentrar (mergers) algumas PMEs competentes e sediadas em diversos países ou/ e a desenvolve-las individualmente para se expandirem a nível global, estimulou-me a criar um veículo empresarial de prestação de serviços de consultadoria B2B que ajudasse a transformar essa oportunidade em algo concreto. 

Liberdade, competição, criatividade ou cooperação.
O que considera mais importante para o trabalho de um empreendedor?
Na maior parte da minha vida professional fui um típico Intrapreneur. Aprendi e pratiquei nas diferentes organizações multinacionais que tive o previlégio de trabalhar:

  • Que a saudável mas agressiva competição potenciava os bons resultados e o posicionamento claro da personalidade ambiciosa das empresas que dirigi; 
  • Que a criatividade é fundamental mas (quase) sempre fruto da experiência e da formação constante tanto minha como da dos colaboradores; 
  • Na actividade de Remote Sites Services, onde a maior parte das operações/ contratos são prestados em condições extremas e radicais (humanas, climáticas e territoriais), só com franca colaboração se consegue executar a actividade com sucesso (o espírito de equipa interno, o desenvolvimento de relações próximas com as autoridades formais e informais de cada país ou região, fornecedores locais,populações locais e colaboradores locais). 
  • Actualmente, como empreendedor, tenho reconfirmado que os referidos substantivos, praticados juntos na medida certa e no momento certo são factor de sucesso. Como Intrapreneur a liberdade era-me concedida. Como empreendedor ganhei a liberdade de não haver dúvidas que o verbo “arriscar” diz-se praticamente só na primeira pessoa do singular. Mas esse risco (que se torna neste contexto quase-sinónimo de Liberdade) é minimizado com as boas práticas de gestão, de liderança e bons valores, o que promove o sentimento positivo de liberdade.

Que principal diferença encontra entre a realidade portuguesa e a do estrangeiro relativamente ao empreendedorismo?
Estive fora da realidade portuguesa quase quatro décadas mas posso afirmar que Portugal precisa de evoluir mais rápido na melhoria das condições/ no estímulo de se ser empreendedor em Portugal, precisa de evoluir mais rápido na melhoria das condições/ no estímulo de reter competência e conhecimento no país. Os portugueses merecem que se invista mais neles. Temos que exigir e trabalhar para que isso aconteça!

Enquanto empresário/empreendedor qual é o seu principal sonho?
Assegurar que estou a acrescentar (bom) valor.

Onde vive e como é o seu dia-a-dia de trabalho?
Ainda resido e tenho por base o Principado do Mónaco, mas estou a preparar o meu regresso definitivo a Portugal. Tenho 62 anos de idade e devido à minha actividade professional tive o previlégio de viver quase 40 anos a viajar em todos os continentes e oceanos do planeta Terra, de ter trabalhado e convivido com muitas das suas gentes. A hora de regressar e viver em Portugal aproxima-se.
Hoje, o meu dia-a-dia de trabalho é mais focado em actos de coordenação e actos de decisão que executo do escritório, minimizando ao máximo as viagens. No entanto isso obriga-me a não ter horários pois as frequentes reuniões com intervenientes que estão em fusos horários que se distanciam até 10 horas tanto para Leste como para Oeste obriga-me a ter uma grande flexibilidade e disponibilidade.

Que conselhos dá a quem gostaria de criar um negócio próprio?
O sucesso dos negócios em que estive envolvido, por serem de prestação de serviços em que o capital humano fazia toda a diferença, é que a escolha dos colaboradores  passe primeiro por sentir e assegurar os valores em que eles acreditam e defendem são compatíveis ou complementares aos nossos. Sentir de antemão a predisposição que os colaboradores demonstram para executar o que se espera deles é detalhe que fará a diferença. A competência técnica de um colaborador é fundamental, mas dos três critérios é sempre o mais fácil de obter. Isto é, na minha opinião, o caminho para montar uma equipa sólida e de sucesso na criação e desenvolvimento de qualquer negócio que necessite de colaboradores. 

Estando mais longe de Portugal, como “mata” saudades do nosso País?
Ao longo dos anos sempre mantivemos comunicação muito frequente com os familiares e amigos que residem em Portugal. Periodicamente recebemos a visita deles nos países onde vamos residindo.  Passamos sempre uns dias de férias em Portugal todos os Verões e finais-de-ano, tendo sempre mantido uma habitação própria no país. Em casa falamos português com os nossos três filhos (que nunca residiram em Portugal) e uma boa parte da nossa biblioteca é em língua portuguesa. Nos anos mais recentes tivemos a sorte “de aterrar” no Mónaco onde, nas vilas e cidades francesas que fazem fronteira com o Principado, existe uma enorme comunidade lusa e de luso-descendente. Aí podemos ir a um café e falar português, ir a restaurantes que servem culinária portuguesa e comprar bacalhau numa mercearia… de portugueses! E assim se vão matando as saudades. Que sempre existiram!  

 

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