“O erro é uma aprendizagem para a evolução do negócio”: Joana Paredes Alves, co-fundadora da APlanet

É co-fundadora da APlanet, uma startup internacional que tem como missão levar a sustentabilidade à estratégia central das organizações, através de soluções tecnológicas que lhes permitem gerir e reportar a sua informação ESG (ambiental, social, governance) de maneira automatizada e mais eficiente.
Em quatro anos de existência, a empresa recebeu vários prémios internacionais, entre eles ganhou o primeiro lugar dos Prémios Expansión como sendo a empresa tecnológica mais inovadora em Espanha.
Com sede em Espanha, a APlanet tem escritórios em Madrid, Bilbau, Rio de Janeiro e São Paulo. Tem também uma forte presença em Portugal, Itália, França e Reino Unido. Além de ter clientes noutros países como México, Colombia e Estados Unidos. Líder nos mercados onde opera tem clientes como EDP, Walmart, L’Oreal, Globo, Ambev, Klabin, Sonae, Wizink, Deloitte, BNP Paribas, entre outros.

O que diz Joana…
A par da criatividade a cooperação é essencial pois a equipa tem de funcionar como uma orquestra dentro duma visão sistémica da empresa

Quando surgiu a ideia de criar a APlanet?
A ideia surgiu no princípio de 2019 em Madrid, altura em que já estando a trabalhar no ecossistema da tecnologia ao serviço da sustentabilidade nos apercebemos que existia uma lacuna no mercado e uma oportunidade de ajudar as empresas, que são o motor do desenvolvimento sustentável, a melhorar os seus impactos. As empresas viam-se cada vez mais pressionadas a gerir e reportar informação ESG (ambiental, social, governance), tanto pela cada vez mais exigente regulação europeia, como pela crescente pressão dos seus stakeholders internos (accionistas, investidores, colaboradores) e externos (clientes, consumidores). Por outro lado, a grande parte delas ainda utilizava métodos manuais para recolher, gerir e reportar este enorme manancial de dados ESG o que acarreta inúmeros desafios diários e lhes deixa pouco tempo para se dedicarem ao mais importante: melhorar os seus impactos ambientais e sociais e transformarem-se em verdadeiros agentes de mudança. 

Em que consiste o projecto?
A APlanet é uma startup tecnológica especializada em desenvolver plataformas de software (SaaS) para a gestão da sustentabilidade. Temos duas plataformas principais: a APlanet Sustainability que incluindo os standards da sustentabilidade mais comummente reconhecidos permite às empresas recolher, gerir e reportar informação ESG de forma automatizada e a APlanet Neutrality, que possibilita às empresas medir a sua pegada carbónica. A nossa missão consiste em através da nossa tecnologia possibilitar às empresas poupar tempo e recursos e ser mais eficientes na gestão da sustentabilidade, para que possam assim dedicar-se a melhorar os seus impactos.

Como foi o seu percurso profissional/académico até chegar a este momento?
Estudei Direito e trabalhei como advogada durante 10 anos. Especializei-me em Direito internacional e vivi entre Londres, Nova Iorque e Madrid. No entanto desencantei-me com a profissão devido ao facto de me aperceber durante a minha carreira que direito e justiça nem sempre coincidiam e queria ser eu a escolher as minhas próprias causas. Paralelamente, como sempre fiz muitas viagens sozinha pelo mundo onde fui observando os efeitos nefastos das alterações climáticas e desigualdades sociais, decidi deixar o Direito e dedicar a minha vida profissional à sustentabilidade.
Primeiramente, comecei a colaborar com a non-profit do Al Gore e outras ONGs dedicadas a fazer advocacy de alterações climáticas. Depois comecei a trabalhar em projectos com uma abordagem mais holística da sustentabilidade, focados além de questões ambientais, em questões sociais e de governance. Sendo uma apaixonada pelo poder da inovação e tecnologia ao serviço da sustentabilidade, comecei a trabalhar no mundo das startups tecnológicas em Madrid, porque vi que havia mais inovação, agilidade e potencial para resolver problemas em concreto. Foi num desses projectos que conheci os outros co-fundadores da APlanet e decidimos arriscar e montar esta que tem sido a maior viagem da minha vida.

Liberdade, competição, criatividade ou cooperação.
O que considera mais importante para o trabalho de um empreendedor?
Criatividade. Um empreendedor tem de começar por ser um criativo e ter uma ideia de um produto ou serviço que seja inovador e venha acrescentar valor ao mercado. Mas não basta ter uma boa ideia, o mais difícil é conseguir implementá-la. Para conseguir que a implementação do seu produto ou serviço seja bem-sucedida, o empreendedor terá de estar atento às respostas do mercado e ser criativo caso seja necessário fazer interacções rápidas. Na APlanet temos uma estrutura horizontal para fomentar a criatividade e agilidade da equipa na resolução de problemas. A par da criatividade a cooperação é essencial pois a equipa tem de funcionar como uma orquestra dentro duma visão sistémica da empresa.

Que principal diferença encontra entre a realidade portuguesa e a do estrangeiro relativamente ao empreendedorismo?
Regra geral no estrangeiro, falando de economias maiores que a portuguesa, existem mais fundos de investimento e mais liquidez. Por outro lado, os empreendedores têm menos medo de arriscar porque é mais permitida a falha. Por mais paradoxal que pareça, a característica principal dos empreendedores de sucesso é estar dispostos a fracassar. Os seres humanos são sociais e a morte de um projecto pode ter consequências nefastas, mas para se ser um empreendedor visionário tem de se superar este instinto. O medo de falhar é o principal inibidor dos empreendedores. O fracasso pode ser um presente para quem tenha a humildade e capacidade de aprender com os erros. 

Enquanto empreendedora qual é o seu principal sonho?
O meu principal sonho é que possa criar projetos inovadores que contribuam para um impacto positivo na sociedade. 

A sede da APlanet está em Madrid, mas trabalha em diversos mercados e geografias. Como é o seu dia-a-dia de trabalho?
A sede da APlanet está em Espanha e trabalhamos com vários mercados na Europa, América do Sul, México e Estados Unidos. A pandemia trouxe mudanças significativas no mundo do trabalho e permitiu-me voltar para Portugal e trabalhar maioritariamente em modo remoto. No meu dia-a-dia de trabalho tenho várias apresentações e reuniões on-line com clientes, potenciais clientes e parceiros nos vários mercados onde operamos. Além disso vou com assiduidade ao nosso escritório de Madrid porque é importante ter contacto directo com a equipa e viajo para outros países sempre que haja um evento relevante de sustentabilidade.

Que conselhos dá a quem gostaria de criar um negócio próprio?
O mais importante é que o empreendedor crie um negócio alinhado com o seu propósito e a sua paixão. Vai ser isso que o vai permitir ser suficientemente resiliente perante os obstáculos inevitáveis que encontrar pelo caminho. Em segundo lugar, arriscar sem ter medo de errar. O erro faz parte do processo e é uma oportunidade de aprendizagem para a evolução do negócio.

Tendo morado tantos anos fora de Portugal, como “matava” as saudades do nosso país?
Morei cerca de 10 anos fora de Portugal e as tecnologias sempre ajudaram a matar saudades da família e amigos através de vídeo-chamadas. Além disso, tentava descobrir um restaurante ou café português para relembrar as nossas iguarias e pôr a conversa em dia. Por último visitava o meu país sempre que tinha oportunidade, no mínimo duas vezes por ano, no Verão e Natal. 

Ler Mais