“Nos próximos anos esperamos uma expansão significativa do negócio”, aponta Diretor-Geral da Excelência Robótica

A promoção da saúde é o grande impulsionador de diversos sectores – como as Aecnologias médicas, pesquisa biomédica e indústria farmacêutica – que geram empregos altamente qualificados e estimulam a inovação. Em entrevista à Executive Digest, Pablo Díez, director-geral da Excelência Robótica analisa os principais desafios e oportunidades no sector da Saúde.

Qual a sua principal missão como novo director-geral da Excelência Robótica?
A minha missão é muito clara e objectiva: assumi o compromisso de facultar a adopção do sistema robótico da Vinci – que considero a mais avançada opção em cirurgia minimamente invasiva – a cada vez mais pacientes e cirurgiões, em Portugal.

Qual o plano estratégico da Excelência Robótica para os próximos anos no nosso país?
Continuar a investir em actividades de promoção e de sensibilização para que, especialmente nos serviços de saúde pública, cada vez mais hospitais possam adoptar a tecnologia robótica para beneficiar mais doentes, particularmente, pacientes oncológicos.

Quais são os principais desafios e oportunidades para a concretização desse plano estratégico?
O principal desafio é que o Sistema Nacional de Saúde decida, à semelhança dos restantes países europeus, fazer da cirurgia robótica uma prioridade para o tratamento dos seus doentes, face ao recurso à cirurgia aberta – que ainda regista uma elevada percentagem em Portugal – ou à cirurgia laparoscópica.

Como analisa a actividade da empresa Excelência Robótica em Portugal?
Estamos a registar crescimentos positivos, em Portugal. Nos próximos anos esperamos – depois de algum tempo de arranque inicial – uma expansão significativa do negócio devido à rápida adopção de vários hospitais públicos. Começamos a sentir que, para os cirurgiões portugueses, a cirurgia robótica já não é um desejo, mas sim uma necessidade.

Considera que a Saúde será, cada vez mais, um dos principais motores do desenvolvimento económico?
Sim, claro. A saúde impacta o desenvolvimento económico em várias dimensões. Na Europa, a evolução demográfica da população evidencia índices de longevidade crescente, o que, naturalmente, se traduz no aumento dos níveis de consumo e de crescimento económico.
Por outro lado, uma gestão eficiente dos sistemas de saúde também pode reduzir os custos associados ao tratamento das doenças e melhorar a qualidade de vida, para promover uma população mais activa. E indivíduos saudáveis são mais produtivos no mercado de trabalho.
Para além disso, a promoção da saúde é o grande impulsionador de diversos sectores – como as tecnologias médicas, pesquisa biomédica e indústria farmacêutica – que geram empregos altamente qualificados e estimulam a inovação.
A adopção de tecnologias avançadas que se está a verificar actualmente no sistema de saúde é, sem dúvida, um reflexo do esforço de todos os que trabalham neste sector, para actualizar e melhorar o nosso sistema de saúde, o que já é claramente evidenciado pela integração e crescimento da cirurgia robótica, na saúde.

Dentro do sector da Saúde, quais são as áreas de conhecimento intensivo que poderão contribuir para um maior Valor Acrescentado Bruto?
A tendência actual em que estamos focados – centrada na digitalização e na incorporação de tecnologia nos cuidados de saúde – mostra que o progresso e o ajuste do sistema de saúde estão a avançar para uma abordagem mais inovadora e centrada no doente. 

O da Vinci é um desses exemplos, o de contribuir para um maior valor acrescentado?
A cirurgia robótica, representada em Portugal pelo sistema cirúrgico da Vinci, demonstra como a tecnologia, quando integrada estrategicamente no sistema de saúde, pode ser essencial para aumentar a qualidade dos cuidados médicos e trazer benefícios muito significativos para os pacientes, equipas cirúrgicas e unidades hospitalares, o que, naturalmente, se traduz em ganhos de eficiência para o SNS.
Ao longo de quase duas décadas, o nosso compromisso com a inovação levou-nos a desenvolver quatro gerações do sistema cirúrgico da Vinci. Cada uma delas apresentou avanços notáveis em relação à sua antecessora em termos de tecnologia, instrumentação, precisão e campo de visão, entre outras melhorias.
A utilização e o desenvolvimento progressivo desta tecnologia cirúrgica de vanguarda permitiram-nos obter resultados muito positivos. Desde a sua chegada à Península Ibérica – Espanha em 2005 e Portugal em 2010 – já foram tratados quase 100 mil pacientes. Só em 2022, foram realizadas mais de 19 mil intervenções, o que representa um aumento impressionante de 58% em relação a 2021.

A Saúde é um dos mercados onde tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial, a Realidade Virtual ou a Sensorização vão ganhar mais preponderância no futuro?
Sem dúvida, esse é o caminho e ainda bem que, cada vez mais, estamos a conseguir colocar as inovações tecnológicas ao serviço da saúde. A robotização das salas de operações é imparável. Neste sentido, prevê-se que o mercado quintuplique nos próximos anos, liderado pelas empresas capazes de inovar constantemente e de gerar valor para o paciente, bem como aos profissionais médicos e ao sistema de saúde em geral.
Gradualmente, também assistiremos ao aparecimento de modelos de robots adaptados a várias patologias.
Por outro lado, outras tecnologias de diagnóstico precoce facilitarão tratamentos menos invasivos e mais económicos para os doentes. Na oncologia, a precisão desempenhará um papel fundamental no
aumento da eficácia, na redução da duração do tratamento e dos efeitos adversos.
É evidente que se avizinham progressos imparáveis na digitalização dos dados e nos sistemas de Big Data, bem como na aplicação da Inteligência Artificial ao diagnóstico e à telemedicina. Além disso, estes avanços contribuirão para tornar mais eficiente o recurso mais escasso do sistema de saúde nacional durante a próxima década: os profissionais de saúde.

Como pode Portugal aproveitar este momento para ganhar espaço ou vantagem a esse nível?
Desde a crise pandémica, os sistemas de saúde pública estão sob grande pressão, um pouco por todo o mundo. Tal como está a ocorrer em Portugal, estão a surgir vários desafios que cada país terá que superar para assegurar a prestação de cuidados de saúde de qualidade às populações e de forma mais sustentável.
Sabemos que a implementação de programas de cirurgia robótica nos hospitais tem estimulado uma maior equidade no acesso a cuidados de saúde com tecnologia de vanguarda, em toda a Europa. Para além disso, a implementação de programas de formação em cirurgia robótica é um factor estratégico para a retenção de talentos nas unidades hospitalares e para atrair cirurgiões especializados.
Em Portugal, este aspecto pode tornar-se ainda mais relevante se pensarmos nas unidades hospitalares fora das regiões das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, tendo em conta o actual contexto de falta de recursos humanos nos hospitais de diversas cidades, de norte a sul do País.
Acredito que Portugal tem todas as condições para acompanhar esta tendência global de descentralização no acesso a serviços de saúde de elevada qualidade. Ao mesmo tempo, os programas de cirurgia robótica constituem um forte contributo para atrair os cirurgiões que querem trabalhar com as mais recentes tecnologias e abordagens cirúrgicas. E esta é também uma forma de aumentar a coesão territorial e minimizar as assimetrias crónicas entre as várias regiões do País. 

Considera que a Saúde terá um papel crucial na edificação de uma nova Europa?
Não tenho a menor dúvida! Já estão a ser desenvolvidos regulamentos para a avaliação e aprovação de fármacos e tecnologias de saúde, a nível da União Europeia. O objectivo final é consagrar os recursos financeiros, de forma equitativa em toda a Europa, às soluções que se revelem de maior valor para os doentes. A Europa tem de avançar para um projecto comum para além do económico, e a saúde é o factor mais relevante para todas as populações. 

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