Não, não é um episódio do ‘Black Mirror’: marcas automóveis podem estar a ‘espiar-nos’ para denunciar hábitos de condução às seguradoras

Um processo judicial movido pelo estado do Texas, nos EUA, contra a General Motors abriu uma ‘caixa de Pandora’ pela suposta venda de registos de condução dos proprietários dos respetivos modelos, naquela que poderá ser uma grave invasão de privacidade que implica a recolha de informações das marcas sobre a utilização dos condutores.

Segundo a acusação, os dados de 1,5 milhões de texanos foram negociados sem o seu conhecimento ou consentimento. A ação ocorre depois de o procurador-geral Ken Paxton ter lançado uma investigação sobre a recolha e venda de dados de condução por marcas automóveis no início de junho. “A tecnologia dos veículos modernos permite que os fabricantes recolham milhões de dados sobre os motoristas”, sustentou o procurador-geral na época.

De acordo com a ação, o sistema telemático OnStar, implementado nos modelos da General Motores, terá recolhido dados de 16 milhões de motoristas para serem depois vendidos a seguradoras de veículos, o que gerou um aumento no preço dos prémios de seguros e até mesmo cobertura de sinistros para muitos clientes.

Entre os dados fornecidos estão hábitos de condução como horários de início e fim das viagens, excesso de velocidade ou travagem brusca, quando os condutores utilizam ou não cinto de segurança: contém também dados sobre quando conduzem à noite – os dados geravam um sistema de pontuação de condução que permitia depois avaliar os condutores, num sistema digno de um episódio da série ‘Black Mirror’.

Segundo os queixosos, “em momento algum a General Motors informou os seus clientes que a sua prática consistia na venda de quaisquer dos seus dados, muito menos dos seus dados de condução”, salientando que a GM “atingiu o seu objetivo através da utilização de práticas enganosas e confusas”, através de aplicações móveis GM ou serviços de veículos conectados, que consistiam em mais de 50 páginas de documentação antes da tomada de posse do veículo na concessionária.

Paxton alegou também que a General Motors enganou os clientes, dizendo-lhes que, como parte do processo de “integração” do carro, teriam de se inscrever em vários produtos ou certos recursos de segurança seriam desativados, o que incluiu o OnStar, ‘vendido’ como proteção contra roubo ou ferramenta de segurança para, em caso de colisão, ter uma resposta automática de contacto com os serviços de emergência.