Mulheres ganham cada vez menos. Desigualdade salarial volta a subir após nove anos a descer
A diferença salarial entre homens e mulheres agravou-se em 2022, pondo fim a uma tendência de redução que durava nove anos. De acordo com o barómetro das diferenças remuneratórias da Segurança Social, os homens ganharam, em média, mais 13,2% do que as mulheres, representando um agravamento de 0,1% em relação a 2021. Este estudo inclui informações fornecidas por todas as empresas em 2022.
Em 2022, o salário médio das mulheres foi de 1049,80 euros, enquanto o dos homens foi de 1209,70 euros. Quando se considera o ganho total, que inclui subsídios, prémios e outras regalias, a diferença salarial sobe para 16%.
Carla Tavares, presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), destaca ao Jornal de Notícias (JN) que as desigualdades “continuam a existir” e que este fenómeno é observado a nível europeu. “À semelhança de outros países da Europa, após um período de redução, estamos perante uma estagnação”, afirmou Tavares. Acrescentou ainda que os dados de 2022 não refletem o impacto das notificações da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) durante 2023, que podem ter levado à correção de algumas diferenças.
O litoral centro de Portugal apresenta as maiores assimetrias salariais de género, com Coimbra a liderar a lista de distritos com maior desigualdade, seguido por Aveiro e Leiria. Coimbra registou o segundo maior aumento nacional na desigualdade salarial, só superado pelos Açores.
Por setores de atividade, a área da “cultura e desporto” é a que apresenta maiores desigualdades. Os homens nesta área ganham, em média, 2250 euros, enquanto as mulheres recebem 1049 euros. Sandra Ribeiro, da Comissão para a Igualdade de Género (CIG), destacou a desproporção salarial no desporto, especialmente no futebol, onde as mulheres profissionalizadas são pouquíssimas e a diferença salarial é particularmente acentuada.
Sandra Ribeiro alertou para a tendência dos homens ganharem mais nas atividades com maior mão de obra feminina não qualificada, como o setor têxtil ou social, enquanto as mulheres tendem a ganhar mais em áreas como a construção, onde são menos, mas têm melhores salários.
Ribeiro também salientou a necessidade de “olhar para os setores mais bem pagos”, como as tecnologias, onde a participação das mulheres “é absolutamente irrisória”. Defendeu ainda maior apoio para a conciliação do trabalho com a família, uma das principais razões para as mulheres não progredirem nas suas carreiras.
Os especialistas sublinham que o agravamento da diferença salarial entre homens e mulheres é um retrocesso preocupante. A estagnação das reduções das desigualdades salariais indica que são necessárias medidas mais eficazes e abrangentes para promover a igualdade de género no mercado de trabalho.
O aumento da participação das mulheres em setores tecnológicos e a melhoria das condições de conciliação entre trabalho e vida familiar são apontados como passos essenciais para inverter esta tendência. O apoio contínuo e reforçado para a igualdade de género no emprego é crucial para garantir que todas as pessoas, independentemente do género, tenham acesso a oportunidades justas e equitativas no mercado de trabalho.