Movimento das ondas do mar liberta mais ‘químicos eternos’ para o ar do que os poluidores industriais, revela investigação

Um novo estudo descobriu que as ondas que rebentam nas praias de todo o mundo libertam mais PFAS (conhecidos como ‘químicos eternos’) para o ar do que os poluentes industriais, levantando preocupações sobre a contaminação ambiental e a exposição humana ao longo das zonas costeiras.

A investigação avaliou os níveis de PFAS libertados das bolhas que estouram quando as ondas rebentam, dispersando aerossóis no ar. Constatou-se que os níveis no ‘spray marinho’ eram centenas de milhares de vezes superiores aos níveis presentes na água.

Ian Cousins, investigador da Universidade de Estocolmo e autor principal do estudo, afirmou, em entrevista ao The Guardian: “Existe evidência de que o oceano pode ser uma fonte importante [de emissões de PFAS para o ar]. Definitivamente está a impactar a linha costeira.”

Os PFAS são uma classe de cerca de 15.000 produtos químicos usados em dezenas de indústrias para conferir resistência à água, manchas e calor aos produtos. Embora sejam altamente eficazes, estão também associados ao cancro, doenças renais, defeitos congénitos, imunidade reduzida, problemas hepáticos e uma série de outras doenças graves.

Conhecidos como “químicos eternos”, não se degradam naturalmente e são altamente móveis no ambiente, movendo-se continuamente pelo solo, água e ar. Os PFAS já foram detetados em todos os cantos do mundo, desde ovos de pinguim na Antártida até ursos polares no Ártico.

Investigações anteriores realizadas pela equipa de Estocolmo descobriram que os PFAS libertados pelas ondas do oceano são dispersos no ar em torno das zonas costeiras, podendo viajar milhares de quilómetros pela atmosfera antes de regressarem à terra.

A nova pesquisa analisou os níveis no spray marinho ao longo das ondas, testando amostras oceânicas entre Southampton, no Reino Unido, e o Chile. Cousins esclareceu que os níveis dos químicos eram mais elevados no hemisfério norte, em geral, devido à maior industrialização e à menor mistura de água através do equador.

Ainda não está claro o que estes resultados significam para a exposição humana. A inalação de PFAS é uma preocupação, mas a quantidade de químicos inalados e as concentrações de ar mais afastadas das ondas permanecem desconhecidas.

Investigações anteriores encontraram uma correlação entre níveis mais elevados de PFAS em amostras de vegetação e a proximidade do oceano, indicou Cousins, acrescentando que a sua equipa está a realizar um estudo semelhante.

Cousins destacou que os resultados demonstram como os PFAS são surfactantes potentes que se concentram na superfície da água, o que ajuda a explicar a sua transferência do oceano para o ar e a atmosfera.

“Achávamos que os PFAS iriam para o oceano e desapareceriam, mas eles circulam e regressam à terra, podendo continuar durante muito tempo no futuro”, concluiu.

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