Mercado de trabalho: empresas “mais humanas” têm mais sucesso na captação e retenção de talento
Um estudo lançado pela consultora de recursos humanos Mercer conclui que a marca e a reputação das organizações são fatores essenciais para captar e reter talento, atrás da estabilidade no emprego.
No ‘Global Talent Trends 2022 – The Rise of the Relatable Organization’, que abrangeu perto de 11 mil executivos, gestores de RH e colaboradores, é apontado que os trabalhadores estão mais motivados para integrar e se manterem em organizações com as quais se consigam identificar e nas quais consigam ver refletidos os seus próprios valores. Assim, organizações mais humanas têm uma maior vantagem na competição pelos melhores profissionais.
“As organizações têm, agora, uma profunda oportunidade para aproveitarem as ferramentas com foco nas pessoas que foram aperfeiçoadas durante a pandemia, e para construir uma nova forma de parceria mais confiável e sustentável”, sublinha Tiago Borges, Business Leader da área de Career da Mercer Portugal.
O responsável reconhece que “existe agora uma pressão crescente para que as organizações contribuam para a sociedade de uma forma que reflita os valores dos seus stakeholders (clientes, colaboradores e investidores)… enquanto lidamos com pressões inflacionistas derivadas de crises existentes ou a emergir, e que nos fazem refletir acerca de diferentes visões diferentes sobre o futuro do trabalho”.
O estudo identifica cinco grandes tendências para o mercado de trabalho e para a cultura das organizações em 2022.
- Reiniciar para a relevância
Para se manterem relevantes, as organizações devem adaptar-se à mudança das expetativas dos clientes, colaboradores e investidores. Para tal, devem redefinir prioridades e um novo modelo de trabalho que seja adaptável, que promova uma maior ligação entre as pessoas e o trabalho e que proporcione novas experiências ao talento. As organizações que falam sobre os seus valores relacionam-se melhor com os seus stakeholders e poderão obter melhores resultados de negócio. O desafio é desenvolver modelos de trabalho suficientemente adaptáveis que permitam que os colaboradores tomem decisões orientadas para a criação de valor no dia-a-dia.
- Trabalhar em parceria
O estudo revela que as pessoas já não querem trabalhar para uma empresa, mas sim com a empresa. Quase todos os executivos (96%) afirmam que estamos num mercado de trabalho centrado nas pessoas, e 70% dos profissionais de Recursos Humanos estão a prever um turnover superior ao normal este ano – sobretudo no que diz respeito aos colaboradores mais jovens e aos que estão no espaço digital. As organizações mais próximas dos seus colaboradores valorizam a “parceria” em detrimento da “liderança”.
- Proporcionar o bem-estar total
A pandemia expôs, e veio mesmo agravar, as disparidades nos campos da saúde e das finanças entre diferentes grupos populacionais, sublinhando que a acessibilidade e os baixos custos dos cuidados de saúde não são suficientes. Mudar o foco da redução dos custos relacionados com a saúde para a otimização do investimento, de modo que as pessoas permaneçam saudáveis e empenhadas, é fundamental para a sustentabilidade social.
- Construir para a empregabilidade
Apesar de a pandemia ter levado muitas empresas a apostar na requalificação profissional da sua força laboral, em muitos casos, essas iniciativas não foram conduzidas em linha com a estratégia a longo-prazo da organização. Os modelos baseados nas competências estão a permitir às organizações captar talento de forma mais flexível e explorar vastos e diversificados grupos de talentos, o que já é identificado como uma prioridade para uma em cada três organizações.
- Aproveitar a energia coletiva
A pandemia acelerou a adoção de novas tecnologias, de novos modelos de negócio e de métodos modernos de trabalho. Ter passado por este nível de mudança numa linha temporal comprimida, para além da fadiga causada por esses acontecimentos, tem tido um custo elevado. A percentagem de colaboradores que afirmam sentirem-se com energia e dinâmica diminuiu significativamente – de 74%, em 2019, para 63%, este ano, o nível mais baixo dos sete anos de história deste estudo. Ainda assim, metade dos colaboradores (51%) esperam que este ano seja mais equilibrado, com mais tempo para a família, hobbies, saúde e aprendizagem.
Quase todas as empresas (97%) estão a planear uma transformação a nível empresarial ao longo de 2022, mas o cansaço dos colaboradores é citado como o principal obstáculo. Por sua vez, os colaboradores apontam a complexidade organizacional como uma barreira crítica. Cerca de 65% dos executivos acreditam que a automatização dos processos de Recursos Humanos fez perder a linha de contacto entre os RH e a empresa.
Rodrigo Simões de Almeida, CEO da Mercer Portugal refere que “As empresas que não ouvem os seus colaboradores e outros stakeholders, e que não se conseguem adaptar, vão perder a capacidade de mobilizar capital, atrair e reter talentos e de se manterem relevantes”, acrescentando que “As organizações mais humanas falam sobre o que defendem e têm como prioridade implementar uma conduta que reflita as expetativas de todas as partes interessadas, num mundo em constante mudança”.