Internet das Coisas: saiba como esta tecnologia pode afectar a sua vida

Embora seja mais conhecida entre técnicos, empresas e investigadores, o termo tem vindo a ganhar visibilidade na sociedade. As coisas, neste caso, são todo tipo de equipamentos que podem ser conectados de distintas formas, desde um camião para acompanhamento do deslocamento de frotas de transporte de produtos, a micro sensores que monitorizam o estado dos pacientes à distância em hospitais ou fora deles.

Na Internet das Coisas (IdC) – também tratada pela sigla em inglês IoT (Internet of Things) – as novas aplicações permitem o uso coordenado e inteligente de aparelhos para controlar diversas actividades, da monitorização com câmaras e sensores até a gestão de espaços e de processos produtivos. As regras para este ambiente tratam tanto da conexão como do armazenamento e processamento inteligente de dados.

O ecossistema da IdC envolve diferentes agentes e processos, como módulos inteligentes (processadores, memórias), objectos inteligentes (electrodomésticos, carros, equipamentos de automação em fábricas), serviços de conectividade (prestação do acesso à Internet ou redes privadas que conectam esses dispositivos), habilitadores (sistemas de controle, colecta e processamento dos dados e comandos que envolvem os objectos), integradores (sistemas que combinam aplicações, processos e dispositivos) e provedores dos serviços de IdC.

Evolução
Segundo o economista do sector de tecnologias da informação do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil (BNDES), Eduardo Kaplan, a IdC pode ser entendida como uma “convergência” de tecnologias já existentes, mas gerando o que o especialista chama de um salto qualitativo.

“A IdC traz mudanças tanto no desenvolvimento de uma conectividade mais pervasiva como no aumento do processamento dos dados e refinamento dos sensores que permitem a colecta de dados em diversos ambientes e com diferentes actuadores. Tudo isto associado a alguma solução prática, algum uso que permite o aumento de eficiência, redução de intervenção humana, novos produtos ou novos modelos de negócios”, explica.

O presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), Flávio Maeda, pontua que a IdC não é uma tecnologia nova, mas um novo sistema de soluções técnicas. “Estamos a tratar o tema em geral como se fosse uma continuação da revolução da Internet, a Internet 4.0. As coisas vão ficar conectadas e isto tem grandes implicações”, assinala.

Mais coisas conectadas

Na mesma linha, o executivo de Watson da IBM América Latina, Carlos Tunes, lembra que a conectividade em diversas actividades já ocorre há vários anos, como é o caso de processos de automação, mas a diferença da IdC seria a quantidade de dispositivos e as transformações que esse tipo de recurso pode gerar em diversas áreas.

“O advento da IdC é que hoje temos muito mais coisas conectadas do que tínhamos no passado. Agora temos desde o relógio à máquina de lavar. A IdC acabou por ter uma pulverização deste tipo de sensoriamento e traz isso a um novo nível. Antes havia um número limitado de dados e com uma frequência grande. Agora existe uma quantidade maior de dados numa frequência quase que online, o que permite uma tomada de decisão instantânea”, comenta.

Um exemplo é o uso de sensores em tractores que medem a situação do solo e enviam dados para sistemas responsáveis por processar essas informações e fazer sugestões das melhores áreas ou momentos para o plantio. Outro é a adopção de dispositivos em casa, como termómetros, reguladores de consumo de energia ou gestores de electrodomésticos, que permitem ao morador da residência controlar esses equipamentos à distância.

Máquina a máquina

O director de inovação do centro especializado em tecnologia CPQD, Paulo Curado, destaca que uma das diferenças deste novo ecossistema é a capacidade de conectar máquinas que passam a comunicar-se e, com isso, gerar uma forma mais complexa de monitorização, colecta e análise de informações e tomada de decisões a partir destas, inclusive de maneira automatizada.

“IdC é quando, por exemplo, marca um compromisso na sua agenda. Depois eu agarro o meu relógio conectado, estou dentro do Waze [aplicativo de mobilidade]. Se ocorrer um acidente, o Waze vai me avisar pois preciso de acordar mais cedo. Isto sem a interferência de ninguém. Quando as coisas começam a conversar, conectadas à Internet,falamos fala em Internet das Coisas. Isto muda bastante”, exemplifica.

“Qual é a grande diferença do conceito de Internet das Coisas? Quando existem diversas soluções envolvendo a comunicação máquina a máquina. Quando há soluções integradas numa rede única, onde publicam informações delas e consomem de outras, aí estamos a falar de IdC”, acrescenta o coordenador de projectos de cidades inteligentes do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Fred Trindade.

Mas…

Para a professora coordenadora do Medialab da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fernanda Bruno, este novo ecossistema traz uma ampliação da vigilância na vida das pessoas, que hoje já existe nos smartphones, mas com potencial de crescimento por meio da disseminação de sensores em todo o tipo de equipamento, como veículos, electrodomésticos, postes e edifícios.

Mas este processo, continua a professora, não é apenas um aumento quantitativo deste monitorização do quotidiano, mas também qualitativo, uma vez que a captura dos dados é mais subtil e silenciosa, muitas vezes sem a consciência por parte dos indivíduos de que estão a ser objecto de tal acompanhamento.

“Enquanto a Internet ‘tradicional’ foi marcada pela interactividade, a IdC está incorporada nos objectos e captura os nossos dados enquanto usamos tais objectos ou frequentamos certos espaços e ambientes. Mas é preocupante pensarmos que quantidades imensas de dados extremamente relevantes e sensíveis sobre os nossos hábitos e comportamentos estão a ser colectados de forma contínua sem que sejam necessárias a nossa percepção e consciência deliberada disso”, observa Fernanda Bruno.

* Com Agência Brasil

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