Grupo hoteleiro UIP investe 300 milhões em Portugal nos próximos anos

São três os investimentos que a United Investments Portugal (UIP), grupo hoteleiro de capital do Kuwait que tem no seu portefólio projectos como o Pine Cliffs Resort e o Sheraton Cascais Resort, anunciou para os próximos anos em Portugal. Logo no início de 2020, o grupo irá inaugurar o Yotel Porto – o primeiro Yotel (marca da qual é accionista) na Península Ibérica –, que deverá absorver um investimento de cerca de 30 milhões de euros. Depois, no final de 2020, o grupo irá estrear o primeiro hotel da marca Hyatt em Portugal, com a abertura do Hyatt Regency Lisboa, num investimento de 70 milhões de euros. Além destes dois projectos, a UIP (membro do consórcio Al-Bahar Investment Group) adquiriu a Quinta Marques Gomes, uma propriedade de 25 hectares em Vila Nova de Gaia que pertencia ao Grupo Novo Banco, e que pretende transformar num projecto misto com um boutique hotel e uma outra parte de real estate de luxo. Só neste projecto, prevê investir cerca de 200 milhões de euros (incluindo o valor da aquisição) nos próximos cinco a sete anos.

Contas feitas, são cerca de 300 milhões de euros que o grupo prevê investir no mercado nacional, onde está presente há mais de 30 anos. Em entrevista, Carlos Leal, director-geral da UIP, mostra-se confiante nesta fase de crescimento do grupo no mercado português, que contempla ainda a abertura de duas novas unidades da marca Serenity – The Art of Well Being, no Hyatt Regency Lisboa e na Quinta Marques Gomes. Apesar de tudo, o gestor não coloca de parte a possibilidade de o grupo voltar a abrir os cordões à bolsa no mercado nacional. «Não queremos ficar por aqui. Em Lisboa, continuamos à procura de uma propriedade que se adeque à marca Yotel. Estamos também a olhar para outros pontos do País, não apenas na área do turismo, mas também do turismo sénior e student living», revela. Até porque o projecto de luxo Vale do Freixo, em Loulé, que pertence à UIP desde 2001 mas está em suspenso há vários anos, está finalmente em fase de planeamento.

Até ao final do próximo ano, a UIP irá inaugurar duas novas unidades, o Yotel Porto e o Hyatt Regency Lisboa. Quais os objectivos destas novas aberturas?

Vamos começar com o Yotel Porto. A Yotel é uma marca na qual somos accionistas, que foi criada nos anos 2000 com um conceito de hotel de aeroporto e depois evoluiu para uma marca de cidade, com a primeira abertura em Nova Iorque.

Não estava inicialmente previsto que o Porto fosse a primeira cidade para a entrada da marca na Península Ibérica. Estávamos mais focados em Lisboa e Barcelona, mas ainda não conseguimos encontrar a localização certa e entretanto apareceu esta oportunidade no Porto, que está a viver um momento excepcional no Turismo. Temos outras localizações na Europa, mas este será o primeiro na Península Ibérica.

Era importante passar a ter oferta em Lisboa e no Porto?

A estratégia que definimos para Portugal, há já uns anos, passava por estarmos pelo menos nos três pólos: Algarve (onde estamos presentes com o Pine Cliffs Resort, mas também com o projecto de Vale do Freixo, que adquirimos em 2001 e está em fase de planeamento), Lisboa (onde também estamos com o Sheraton Cascais Resort, se considerarmos Grande Lisboa) e Norte, em particular no Porto.

Portanto, o objectivo inicial estará conseguido. Mas não queremos ficar por aqui. Em Lisboa, continuamos à procura de uma propriedade que se adeque à marca Yotel, que é uma marca muito específica. Estamos também a olhar para outros pontos do País, não apenas na área do turismo, mas também do turismo sénior, student living… há vários pontos do País que se adequam a outros modelos de negócios que nos interessam.

Qual o conceito por detrás do Yotel Porto?

O Yotel Porto é o que pode ser considerado de limited service, ou seja, tem tudo o que cliente necessita. Mas sobretudo é uma marca tecnologicamente avançada. Quando iniciámos a marca nos anos 2000 ninguém sequer sonhava que íamos conseguir abrir a porta do quarto com um telemóvel ou que íamos ter robots a fazer de bagageiros e a arrumar as nossas malas – como acontece no nosso hotel em Nova Iorque.

A nova unidade no Porto vai ter este nível de tecnologia?

Sim, até porque vai adoptar o conceito de terceira geração da marca. Vamos ter, como acontece em Singapura, robots que fazem room service. O cliente vai poder ligar para a recepção a pedir o que quiser e os robots comunicam com o elevador e com o telefone do quarto quando o pedido estiver à porta. Teremos dois robots, que chamamos de Yobots. No futuro teremos outros serviços, como o carregamento da bateria do telemóvel por wi-fi.

Quanto ao Hyatt Regency Lisboa, terá um posicionamento bem distinto…

É mais um produto de luxo sob a marca Hyatt, que estava há 10-12 anos para entrar em Portugal mas nunca tinha conseguido encontrar a propriedade ou o parceiro certo. Escolhemos a Hyatt para esta parceria porque é uma marca internacional que está em crescimento – adquiriu recentemente o Grupo Alila e os hotéis Thomson –, que se posiciona no segmento de alta gama e que se enquadra no nosso ethos. É uma marca ágil e flexível que vai acrescentar qualidade e exposição a Lisboa e ao País.

Em que fase de desenvolvimento estão estes dois investimentos?

Estão dentro dos timmings previstos. Em relação ao Yotel Porto eu tinha feito o desafio à equipa de que queria passa lá o Ano Novo, mas devemos abrir no fim de Janeiro de 2020. Quanto ao Hyatt, o objectivo é eu passar lá o fim-de-ano 2020/2021 e talvez possamos fazer o soft opening a partir de Novembro do próximo ano. Basicamente ando à procura de um sítio para passar o Ano Novo [risos].

A UIP adquiriu também a Quinta Marques Gomes, em Vila Nova de Gaia, que terá uma componente de real estate de luxo. O objectivo é, em parte, replicar o conceito do Pine Cliffs Resort?

Apenas em parte, porque não fazemos cut and paste – e muito tentaram copiar o Pine Cliffs e não conseguiram. Agora, é verdade que existem algumas semelhanças. Desde logo, a localização da propriedade é icónica, com vista para a Foz, a 500 metros de uma das melhores praias da região; depois, estamos perto do Porto. A localização é fabulosa, sendo comparável com a do Pine Cliffs no Algarve.

Terá uma componente de imobiliário puro – e, do estudo de mercado de fizémos, existe um grande mercado – e a parte hoteleira, para a qual não está definida ainda a marca. Sei quem quero [como parceiro], mas não está definido.

E depois teremos a marca Serenity Spa, que lançámos em 2016, depois de nos defrontarmos com duas opções: fazer uma parceria com uma marca internacional (como Six Senses ou Banyan Tree) ou criar uma marca própria. Decidimos ir pelo caminho mais duro, que foi criar uma marca própria, desde o ethos, conceito a serviços. Hoje temos dois Serenity Spa a operar [no Pine Cliffs Resort e no Sheraton Cascais Resort], mas teremos um terceiro no Hyatt Regency Lisboa e outro na Quinta Marques Gomes.

Quais os resultados da marca Serenity até ao momento? Encaram como um serviço complementar à oferta hoteleira ou é algo mais?

Não vemos como uma oferta complementar, senão não tínhamos criado uma marca. Para nós, é um negócio. Um dos negócios em maior crescimento em todo o mundo é o bem-estar, sobretudo com o ritmo a que levamos a nossa vida. Serenity é uma marca autónoma, como uma estrutura autónoma, e o nosso objectivo é começar a vender este serviço a terceiros. Ainda não o fizémos porque primeiro queremos afinar o serviço. Já fomos contactados? Já, mas neste momento estamos focados em abrir as duas unidades que estão previstas. Talvez daqui a um ano, um ano e meio, tenhamos condições para aceitar propostas para a expansão do serviço.

Em termos de resultados, têm sido fabulosos. Penso que desde que abrimos não há spa em Portugal que tenha ganho mais prémios do que nós a nível internacional. E isto é algo que não esperávamos! Nós tivemos um grande desafio: Portugal não é reconhecido como um destino de spa e o Algarve [a marca estreou-se no Pine Cliffs Resort] muito menos, pois está associado a sol, praia e golfe. Então quando iniciámos o mercado, tivemos que vender a marca, os serviços, e o próprio destino. Hoje, somos considerados o melhor spa em Portugal e um dos melhores na Europa. A rentabilidade está de acordo com as nossas expectativas, até um pouco à frente.

No final do próximo ano, a UIP terá o dobro das unidades em relação ao dia de hoje. Que crescimento é que perspectiva para o grupo?

Quando, em 2016, abrimos o Sheraton Cascais – que era Vivamarinha S.A., que estava ligada à insolvência – achei que necessitava de um rebranding e que era um bom fit para a marca Sheraton. Na altura, o Talal Al-Bahar [o xeque que lidera a UIP] ligou-nos a dizer que queria um hotel por ano. Neste momento, temos previstas as aberturas do Yotel, do Hyatt e da Quinta Marques Gomes, numa média de um por ano.

Se vamos continuar assim? Não sei dizer. Mas continuamos interessados em Portugal. Não somos um grupo fácil, porque queremos fazer investimentos que acrescentem valor. Se não fizermos mais nenhum investimento no País, também não será o fim do mundo. Temos um portefólio estável e ainda temos a Quinta Vale do Freixo [no concelho de Loulé] para desenvolver.

Queremos fazer mais e estamos dispostos a fazer mais e a continuar a investir, mas tem de ser no projecto certo, com o produto certo. O projecto Yotel em Lisboa é, definitivamente, um objectivo. O resto dependerá das oportunidades que surgirem e dos modelos de negócio praticados.

O plano de investimentos está então em aberto. Tem algum budget definido para os próximos anos?

Não. Pelo menos uma vez por semestre temos, a nível mundial, o comité de investimentos, em que analisamos potenciais projectos, em que regiões devemos investir. Somos muito cuidadosos em não nos sobreendividar. Um dos aspectos que nos ajudou a sobreviver à crise com menos dor foi a questão de não estarmos endividados, o que nos permitiu controlar o destino sem um banco sentado à volta da mesa da Administração.

A prioridade é, tendo em conta os recursos que temos disponíveis para investir, olhar para as regiões e para os produtos. Há uns anos, tínhamos uma verba disponível para investir no Brasil, porque decidimos que era um mercado, mas a certa altura olhámos para o fundo e parecia que estávamos num túnel com um comboio a vir na direcção oposta, e decidimos sair. Tivémos sorte porque, por acaso, vinha mesmo lá um comboio! Esse valor depois foi redistribuído para outras áreas.

Como avalia o estado do Turismo e da hotelaria em Portugal?

Ao nível do Turismo estamos a viver um grande ciclo, e merecidamente. Portugal passou um mau período, durante o qual foram tomadas decisões difíceis, que fizeram mossa no cidadão português. Hoje estamos a viver um bom período e somos comparáveis a qualquer destino no mundo.

Temos, no entanto, alguns desafios que, infelizmente, podem vir a afectar a continuidade deste bom momento. Um dos principais é o aeroporto de Lisboa, que está a rebentar pelas costuras! Há linhas aéreas de outros países que querem aumentar ou criar rotas no mercado português, mas não podem porque não há slots. O problema não está nas pistas – o aeroporto de Gatwick recebe 65 milhões de passageiros por ano e também só tem uma pista –, mas na própria gestão do aeroporto, no número de portões… isto não é uma novidade: o Estado sabe, o Turismo sabe, os operadores também.

E, na sua opinião, o projecto no Montijo é uma solução viável?

Para quando? Não vejo o projecto a desenvolver! A Turquia fez um aeroporto novo, de raiz, em menos de quatro anos. Neste momento – e até à abertura do de Pequim, em 2022 – é o maior aeroporto do mundo. Há quanto tempo andamos a falar do [aeroporto do] Montijo? E ainda nem sequer chegámos a um projecto! Estão agora a fazer estudos de impacte ambiental… e eu não estou a defender o Montijo, nem a dizer que não tem impacte ambiental, porque não sei o suficiente para opiniar sobre esta matéria. Mas tomem uma decisão! Se não for ali, façam noutro sítio ou avancem com trabalhos no aeroporto de Lisboa para aumentar o número de portões e tornar o turnaround dos aviões mais rápido.

Corremos o risco de perder terreno para alguns destinos que são concorrentes directos, como a Turquia, precisamente?

Corremos o risco de estagnar esta onda. Isto combinado com o facto de certos destinos terem “voltado”, como o Egipto, a Tunísia ou a Turquia. A isto podemos somar a maior ameaça ao turismo do Algarve, que é Marrocos, porque tem bom tempo todo o ano, tem quase o dobro dos voos provenientes de Inglaterra, um câmbio fantástico para a libra, segurança, boa comida e hotéis maravilhosos. Além disso, tem uma economia e um Governo estáveis. Se somarmos estas ameaças às limitações que temos a nível de aeroporto, temo que isso possa vir a afectar o ritmo de crescimento e esta onda positiva que temos vindo a ter. Espero bem que não e que consigamos chegar a uma solução rápida.

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