Espiões russos forçaram Catalunha a declarar independência, diz El País

A polícia espanhola detectou a presença de um membro de uma unidade militar de elite especializada em operações de desestabilização na Europa, de acordo com o El País. Os espiões russos forçavam a Catalunha a declarar independência.

O juíz da Audiencia Nacional, Manuel García-Castellón, abriu uma investigação que mantém em segredo as actividades na Catalunha de um grupo vinculado aos serviços de inteligência russos, segundo confirmado pelo El País. A investigação foi realizada pela Comissão Geral de Informações da Política Nacional, especializada na luta antiterrorista. Assumida por um grupo de elite militar denominado Unidad 29155, que fornece serviços de inteligência de vários países vinculados à Europa, com suporte a manobras de desestabilização.

A existência de um grupo militar russo de elite foi desvendado pelos media russos independentes, mas atingiu impacto internacional em Outubro passado, quando o New York Times publicou um relatório sobre a suposta implicação de agentes em acções de repercusão global. Entre eles, o envenenamento em Março de 2018 do ex-espião russo Sergey Skripal e a sua filha Yulia no Reino Unido. Meses depois desse atentado, o governo britânico acusou formalmente dois supostos membros do Departamento Central de Inteligência (GRU) das Forças Armadas identificadas como Alexander Petrov e Ruslan Boshirov (nomes falsos) de estarem por trás do ataque que custou a vida a um vizinho de Skripal e causou ferimentos graves a Skripal e à sua filha por contacto com gás tóxico.

Tem havido manobras de desestabilização em vários outros países, avança o El País. Esta unidade de elite está relacionada a um golpe frustrado em Montenegro em Outubro de 2016. Dois ex-espiões russos, Eduard Sismakov e Vladimir Popov, foram condenados à revelia por um tribunal montenegrino a grandes sentenças de prisão. Vários serviços secretos ocidentais relacionam a Unidade 29155 com a dupla tentativa fracassada de assassinar um traficante de armas búlgaro em 2015 e com uma campanha de desestabilização na Moldávia. O Kremlin sempre negou qualquer relação com esses factos.

Pressões na independência da Catalunha
Não é a primeira vez que há suspeitas de interferência russa e dos seus espiões na independência da Catalunha. Em Fevereiro, Bellingcat publicou vários documentos oficiais dos serviços secretos russos que colocaram um oficial Denís Sergeyyev duas vezes em Barcelona. Em ambas, viajou com a identidade falsa de Seguéi Fedotov.

Na primeira dessas viagens, Fedotov chegou à capital catalã a 5 de Novembro de 2016 e, depois de passar seis dias em Espanha, regressou a Moscovo via Zurique. O segundo ocorreu quase um ano depois, a 29 de Setembro de 2017, apenas dois dias antes do referendo ilegal de 1-O. Naquela ocasião, o oficial russo permaneceu em Espanha até 9 de Outubro para regressar a Moscovo via Genebra. Não há registo de mais visitas a Espanha, embora existam outros países europeus, como o Reino Unido, onde voou precisamente dias antes da tentativa de envenenar Skripal.

Em Maio passado, os serviços secretos alemães estavam “preocupados” com o apoio russo à independência na Catalunha, depois de receberem informações de colegas europeus, que consideraram “muito plausíveis” e “convincentes”, confirma o El País.

Em Espanha, a Guarda Civil já tinha encontrado vínculos com a Rússia de uma das personagens envolvidas no processo: Víctor Terradellas, ex-secretário de relações internacionais da antiga Convergência e muito próximo do ex-presidente da Generalidade Carles Puigdemont. É assim investigado pelo desvio de subsídios da Diputación de Barcelona e do governo. Terradellas, que serviu como uma espécie de Rasputin com Puigdemont, aconselhou o então presidente de relações internacionais, pressionou-o a declarar independência e enviou-lhe inúmeras mensagens do WhatsApp.

Nas mensagens que enviou a 26 de Outubro, quando Puigdemont teve de decidir entre convocar eleições ou proclamar a independência, Terradellas insistia a reencontrar-se com o político, actualmente fugido na Bélgica. Garantindo que poderia contar com o apoio do presidente russo, Vladimir Putin, se escolhesse declarar independência.

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