Do outro lado do espelho: João Neto, fundador e Diretor-Geral da Teleaplicação (ta comunicações)

O filho mais velho treinava nas escolas do Benfica e o fundador da Teleaplicação (uma empresa de telecomunicações parceira da Altice Portugal) decidiu ocupar o tempo enquanto esperava: primeiro a correr alguns metros à volta do Estádio da Luz, depois o primeiro quilómetro, e assim sucessivamente. Antes disto, praticava ciclismo, mas uma lesão impediu-o de pedalar durante um ano. «O treino do miúdo durava perto de duas horas e eu achei que precisava de fazer qualquer coisa. Foi assim que tudo começou. Ao final de um mês e meio já dava praticamente 21 voltas ao estádio, ou seja, uma meia-maratona. Gostava mais do desafio do que a própria corrida em si, em tentar ir sempre um pouco mais além, tal como fiz sempre a minha vida toda», disse o gestor em entrevista à Executive Digest.

João, de 56 anos, é um empreendedor. Gosta de construir projectos, atingir objectivos e entusiasmar as pessoas. É desta forma que consegue conciliar uma jornada intensa de trabalho diário, os treinos, as provas e estar em permanente contacto com a equipa que o apoia nas diversas provas ao redor do planeta. «Depois das voltas ao estádio participei em provas de curta distância, até que me inscrevi na maratona de Lisboa. Se a memória não me falha, eramos cerca de 300 pessoas. Quando terminei senti-me um herói e candidatei-me a Nova Iorque. Quando lá cheguei estavam 37 mil pessoas. Antes de começar a prova reparei numa parede branca com uma série de nomes escritos e fui perguntar ao organizador o que significavam. Disse-me que era o nome das pessoas que tinham conseguido terminar as principais maratonas do mundo de estrada. Achei que este era um objectivo para uma pessoa com o meu perfil», recorda. 

World Marathon Challenge

Em simultâneo, candidatou-se com uns amigos para correr as maratonas da Antártida e Pólo Norte. Assim, em 2017, após ter treinado intensivamente ao ar livre, mas também em passadeiras colocadas em câmaras frigoríficas, competiu em duas das provas mais duras do mundo. No Pólo Norte, por exemplo, havia o perigo dos ursos polares, as temperaturas abaixo dos 40 graus negativos e as exigências do equipamento. Se o vestuário for demasiado quente há o risco de congelamento por via da transpiração. Se for demasiado frio congela por razões óbvias. «Os meus óculos congelaram por dentro e fiquei sem ver nada. Por isso, tive de levantá-los e correr durante nove horas sempre a piscar os olhos para não secar. O foco não era o tempo, o foco era terminar», lembra o gestor.
Após estes desafios extremos, João Neto para além do incondicional apoio familiar em casa, concluiu que era fundamental ter uma equipa profissional que o ajudasse na preparação. Falou com alpinistas portugueses que o aconselharam e deram dicas, arranjou treinador experiente, preparador físico e médicos. Em relação aos patrocinadores, a Altice Portugal é o main sponsor, estando também como patrocinadores a PIC e a Mitel. 

No princípio de 2019, João Neto concluiu a famosa e exigente World Marathon Challenge 2019 – 7 maratonas, em 7 continentes, em apenas 7 dias. Foram 295km percorridos em 168 horas, com início em Novolazarevskaya na Antártica, seguindo-se Cidade do Cabo na África do Sul, Perth na Austrália, Dubai na Ásia, Madrid na Europa, Santiago do Chile na América do Sul e terminado em Miami na América do Norte. «Nessa altura, devido ao excesso de treino, contraí duas hérnias inguinais. Numa loja ortopédica comprei equipamento que me empurravam as hérnias para dentro, pois caso descobrissem era imediatamente posto fora da prova. Também estava em contacto com a minha equipa médica que me dizia o que eu tinha de fazer, caso contrário não iria conseguir fazer a prova e eu estava muito focado, uma responsabilidade muito grande. Quando cheguei a Portugal fui logo operado e demorei seis meses a recuperar», lembra. 

Gestão e corrida
Além das corridas, o gestor dá palestras em empresas, escolas e outras instituições. Trabalha entre 9 a 10 horas por dia e ainda treina arduamente para as provas mais exigentes. Deste modo, além da gestão do tempo, também a resiliência objectiva é um dos ensinamentos que procura transmitir. «Muitas pessoas perdem bastante tempo com questões pouco importantes. Se começarmos uma reunião a horas, tivermos produtividade objectiva e foco os resultados serão mais rentáveis», explica. Assim, tal como se prepara uma maratona, é fundamental haver uma boa preparação, consolidação dos objectivos e deixar de lado tudo o que seja colateral. 

A comunicação é outro ponto fundamental. «Sempre que vou falar com um conselho de administração ou um cliente, seja ele qual for, tenho de olhar para os meus interlocutores e perceber como eles me estão a ver a mim. Para conseguimos canalizar a atenção das pessoas para o nosso objectivo, sério e honesto, não podemos pensar que dominamos um tema e convencemos as pessoas. Isso não é verdade. Hoje em dia, todos têm acesso à mesma informação. O que eu extraio de uma forma para outra é o foco no trabalho, nada na vida se consegue sem esforço», acrescenta.
Num mercado empresarial rápido e dinâmico, assumir a responsabilidade do que é preciso cumprir é fundamental para ter sucesso. Tal como numa corrida. «A partir do momento em que faço uma apresentação num meio de comunicação social sobre uma prova estou a comprometer-me com a Sociedade. Seja numa empresa ou numa competição temos de estar comprometidos», sublinha. 

A capacidade de decisão é outra das características em ter em conta. Se uma má decisão pode hipotecar uma prova, um mau momento com um cliente pode criar um anticorpo intransponível. «As decisões têm de ser muito ponderadas. Estava eu no Everest a descer um penhasco e quantas vezes pensei se determinado caminho era para a esquerda ou direita. Às vezes preferia perder três ou quatro minutos de prova e perceber para onde ia grupo atrás de mim. Não ia tomar a decisão sozinho porque estava com dúvida. E eles eram cinco pessoas a pensar. Estas decisões têm de ser feita no segundo. É fundamental fazer um bom trabalho de casa e, cada vez que vamos fazer uma apresentação, temos de ir precavidos com todos os cenários possíveis para que nos possamos adaptar à circunstância do momento. E isso passa por saber regredir e ter a capacidade de criar um novo objectivo».

Por fim, devemos tentar ser o mais diferenciadores possíveis. «Se eu me diferenciar perante a minha concorrência com projectos mais inovadores e criativos diferencio-me dos outros. Há uma coisa que eu aprendi nestas provas: nunca se pode subestimar nada nem ninguém. Se baixarmos a guarda um minuto é o suficiente para estarmos irremediavelmente fora».
Depois de ter percorrido em 2022 um palmarés que inclui 31 maratonas e ultra-maratonas em alguns dos lugares mais remotos do planeta, João Neto continua a preparar-se para mais uma prova extrema. «Será no deserto, em altitude, mas ainda não posso revelar mais detalhes». Uma coisa é certa: o gestor português promete deixar mais uma marca e ir além do imaginável. 

Ler Mais