Do outro lado do espelho: Fernando Matos, Partner e Co-fundador CLOSER CONSULTING

Fernando Matos, Partner e Co-fundador da Closer Consulting, uma consultora especialista em Data Science e IA, abraçou uma missão além da tecnologia: ajudar jovens através do desporto e da inserção social. Nos últimos anos, este gestor fundou um clube de futebol, foi treinador, organizou eventos para angariar fundos e até reuniu com os directores de turma para avaliar o desempenho escolar dos seus jogadores. Também foram muitas as vezes que conduziu uma carrinha pelos bairros da margem do Sul para os ir levar a casa após os treinos. «Poder fazer alguma coisa útil pela Sociedade foi o que me levou a criar estes projectos, primeiro no Almada Atlético Clube, e agora na Associação Desportiva Almada 2015. Além da minha vida de gestor, o que fiz foi encontrar meios para que alguns jovens sem condições pudessem frequentar uma escola de futebol e isentos de pagar qualquer mensalidade», explica à Executive Digest. 

O clube conta com centenas de atletas, a partir dos três anos de idade, que ao final da tarde se juntam nos campos de treino do Instituto Piaget, em Almada, com quem estabeleceram um protocolo. «Hoje em dia tenho um papel mais invisível e que passa pela definição da estratégia e gestão financeira. É preciso encontrar verbas e investimento pro-bono. Temos alguns voluntários, mas é necessário pagar a electricidade, a manutenção da relva, os equipamentos e as bolas de futebol, entre outras coisas. Uma vez organizei uma noite de fados para angariar dinheiro mas não correu bem. Fizemos a comida, convidámos fadistas e no final da noite ganhámos 100 euros», lembra. 

Entre as centenas de miúdos que por ali treinam nem todos são carenciados. No entanto, entre os que vieram de famílias com menos posses, Fernando Matos recorda alguns que conseguiram chegar a clubes de topo a nível nacional e internacional. «Ficamos contentes por estes miúdos, mas não valoriza-
mos mais estas histórias do que outras. Outros também foram felizes, estuda-
ram e até regressaram para serem nossos treinadores». 

O clube tem protocolos com organizações de bairros locais, mas ainda há muito trabalho a fazer. «Chegámos a ter miúdos da Quinta da Princesa que andaram 10 quilómetros a pé para vir jogar. Aqui não há racismo ou classes sociais porque quando marcam um golo festejam todos e nas derrotas são igualmente unidos. Isto também ajudou os meus três filhos (que foram atletas do clube) a entender outra realidade. Chegámos a ir a torneios internacionais na Suécia ou em Espanha, às vezes com mais de 40 mil espectadores. Arranjámos forma de financiar quem não podia pagar». 

VOLUNTARIADO E GESTÃO
«É completamente diferente gerir voluntários ou colaboradores de uma empresa, seja no grau de compromisso ou na forma como damos feedback. O que o trabalho voluntário me ensinou no mundo corporativo? Temos que motivar de outra forma. Na prática estamos gerir pessoas, mas nas empresas é pago um salário e aqui estão por paixão», sublinha o Partner e Co-fundador da Closer Consulting.
Em relação ao orçamento, Fernando diz que sempre foi frugal, mas que num clube amador é preciso “fazer magia”. «Uma coisa incrível que se consegue fazer nestes clubes é organizar eventos sem dinheiro. Às vezes só com boa vontade e carolice fazem-se coisas extraordinárias. É fundamental sentir que estamos a fazer alguma coisa útil para a Sociedade e mostrar aos nossos filhos outras realidades para eles perceberem que a vida não é fácil nem justa para toda a gente». 

A capacidade de decisão foi outro dos ensinamentos. «Ajudou-me a crescer como profissional, visto que contactei com experiências muito diferentes das do mundo corporativo. Já tinha gerido muitas equipas e fazer apresentações em público mas entrar nos balneários e motivar um grupo não é a mesma coisa e manter a ordem não é assim tão simples. É preciso cativar a atenção, não posso dirigir-me com um discurso monocórdico».
O desporto, neste caso o futebol, apresenta pontos em comum com a vida profissional. «Na vida não temos só vitórias, também temos derrotas. Eu contacto muitos jovens na minha actividade profissional e muitos ficam frustrados à primeira dificuldade. Quando aparece um candidato que praticou atletismo, futebol ou foi capitão de equipa, tipicamente são bons profissionais, resilientes».
O sentido de missão é outro dos pontos em comum. «O futebol é muito heterógeneo e envolve muitas classes sociais. Cheguei a ir reuniões com os directores de turma dos meus jogadores. “Deus no céu e treinador na terra”, costuma-se dizer. Eram os pais que me diziam para falar com eles e motivar para o estudo», lembra. E o futuro? «Gostava muito de poder explorar uns terrenos e construir mais dois ou três campos, também para outros desportos. O clube ganharia mais atletas e podíamos ajudar mais miúdos que precisam», conclui. 

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