Descoberta surpreendente de cientistas na investigação do cancro permite tornar as células tumorais mais fáceis de destruir

Cientistas na Califórnia prometem revolucionar a forma como é tratado o cancro: numa descoberta surpreendente, os investigadores do Instituto Salk, em San Diego, revelaram um novo caminho para melhorar a capacidade do corpo de reconhecer e combater as células cancerígenas, prometendo tornar a imunoterapia acessível a mais pacientes. O novo estudo foi publicado na revista científica ‘Science’.

“Pode-se pensar na imunoterapia como um pró-fármaco”, referiu Susan Kaech, coautora sénior do artigo e diretora do Centro NOMIS de Imunologia e Patogénese Microbiana, em declarações à revista ‘Newsweek0. “Usa o sistema imunológico adaptativo do seu corpo para combater o tumor.”

Em relação à quimioterapia tradicional, a imunoterapia tem vários benefícios importantes. “É um kit de ferramentas versátil e altamente diversificado”, referiu Kaech. “Embora certamente haja efeitos colaterais, a imunoterapia é, em geral, menos tóxica em comparação à quimioterapia e mais fácil de ser tratada pelo paciente. A diferença mais importante, porém, é que, como a imunoterapia provoca uma resposta imune adaptativa ao tumor, os pacientes podem desenvolver uma memória imunológica de longo prazo para tumores recorrentes.”

No entanto, a imunoterapia não funciona para todos. “A imunoterapia pode ser muito eficaz mas geralmente só funciona numa minoria de pessoas. Não está claro quais são as razões para isso”, referiu Payam Gammage, professor sénior e especialista em oncogenética mitocondrial na Universidade de Glasgow, na Escócia. “É uma área realmente interessante e muitas pessoas estão a tentar encontrar maneiras diferentes de fazer a imunoterapia funcionar em mais pessoas.”

Um indicador para saber se um paciente vai responder à imunoterapia é o estado de suas mitocôndrias – as centrais de produção de energia da célula. “Se se pegar nos pacientes e estratificá-los de acordo com o facto de terem ou não deficiências mitocondriais no tumor, essa é uma maneira muito poderosa de prever quem responderá ou não à imunoterapia”, indicou Gammage..

“As mitocôndrias desempenham um papel multifacetado no cancro, ao contrário do que apontavam algumas ideias iniciais de que são desligadas e redundantes para o desenvolvimento do cancro”, avançou Tom MacVicar, especialista em reprogramação mitocondrial no cancro da Universidade de Glasgow. “Por exemplo, impulsionam a biossíntese de macromoléculas (como gorduras e os blocos de construção do ADN) que são essenciais para o crescimento e proliferação de células cancerosas. São também importantes para a sobrevivência das células cancerígenas em microambientes adversos e em resposta à terapêutica anticancro. Regulam o equilíbrio interno das células, vias de morte celular, vias inflamatórias, entre outras.”

No novo estudo, pretendeu-se “entender melhor como os tumores adquirem o estado metabólico que lhes dá uma vantagem de crescimento, bem como a capacidade de escapar do sistema imunológico”, referiu Kaech. No entanto, o que encontraram foi totalmente inesperado. “A principal descoberta do nosso artigo foi acidental”, referiu a especialista. Os cientistas reconectaram as mitocôndrias para restringir o fluxo de energia através do seu maquinário molecular interno, o que resultou no acumular de um metabólito chamado succinato.

Aumentando a concentração de succinato na célula, os investigadores conseguiram aumentar a expressão de certos genes envolvidos na conversa cruzada com o sistema imunitário. Assim, conforme as células do sistema imunológico ‘patrulham’ os nossos corpos, exibem uma série de moléculas na sua superfície que atuam como uma espécie de identificação molecular para indicar que estão saudáveis. Assim, o succinato permite que haja mais amostras feitas no interior da célula, o que torna mais provável a deteção pelo sistema imunológico de alguma mutação duvidosa numa célula. Ou seja, torna mais difícil para as células tumorais escaparem ao sistema imunológico.

“Essas mudanças subtis basicamente transformam o tumor em algo que pode ser reconhecido pelo sistema imunológico”, lembrou Kaech, “o que pode ter um grande impacto no campo da imunoterapia”. Embora seja necessário mais trabalho para traduzir estas descobertas na prática clínica, a descoberta ofereceu um novo e excitante caminho para futuras soluções de tratamento.

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