De que forma é que a falta de petróleo russo pode destabilizar o mercado?

Com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, o segundo maior produtor de petróleo, depois da Arábia Saudita, o valor do barril de petróleo já alcançou os 100 dólares por barril.

A incerteza relativa às sanções que ainda podem ser implementadas está a começar a criar um potencial choque de oferta e é provável que a commodity continue a subir devido a preocupações com o abastecimento.

Henrique Tomé, analista da XTB, responde a algumas questões relativas aos mercados de petróleo que podem estar a preocupar investidores e consumidores.

 

Poderá a falta de petróleo russo destabilizar por completo o mercado?

Neste momento, as exportações de petróleo para países da UE através do território da Bielorrússia estão em risco. Todos os dias são enviados cerca de 750.000 barris através do oleoduto de Druzhba. Por sua vez, 250.000 barris por dia passam pela Ucrânia para a República Checa, Eslováquia e Hungria. Será difícil para a Rússia transportar esta quantidade de petróleo por via marítima, mas em 2019 as importações foram interrompidas durante vários meses devido a problemas técnicos. A Rússia tem mais de 100 grandes petroleiros com uma frota de mais de 2.000 petroleiros em todo o mundo.

No entanto, a Maersk já se recusa a transportar petróleo russo, e os custos de mercado do petróleo russo no Mar Báltico estão a aumentar cada vez mais, de cerca de 30.000 USD por dia para até 200.000. USD por dia. Além disso, os operadores internacionais estão relutantes em comprar petróleo russo, mesmo com o desconto de 20 USD por barril em comparação com o petróleo bruto Brent, devido a possíveis sanções.

A China importa cerca de 1,5 milhões de barris por dia da Rússia, metade dos quais através do oleoduto ESPO. No entanto, vale a pena lembrar que a China tem historicamente beneficiado das vendas de petróleo de países sancionados, como o Irão e a Venezuela. Mesmo neste momento, a China importa mais de 700.000 barris por dia do Irão, apesar das atuais sanções dos EUA.

Em teoria, a Rússia poderá começar a fornecer mais petróleo à China, Índia, Tailândia, ou mesmo Cuba ou Venezuela a fim de conseguirem mitigar parte das consequências das atuais sanções. No entanto, isto não irá substituir totalmente todas as importações da Europa.

 

De que formas é que o Ocidente pode aumentar a produção de petróleo, para compensar a falta de petróleo proveniente da Rússia?

Na verdade, podem ser aplicadas várias formas para atenuar o aumento das subidas dos preços do petróleo. Embora nesta fase estejamos a assistir a uma subida abrupta dos preços, a OPEP continua a ter a capacidade de aumentar os níveis de produção de petróleo e os EUA poderiam libertar parte das suas reservas estratégicas a fim de atenuar estes aumentos.

 

Existe o risco de o petróleo atingir a marca dos 150 dólares ou mesmo 200 dólares por barril?

Estas possibilidades estão a ser consideradas pelo Saxo Bank e pelo Bank of America. A Bloomberg aponta para um interesse crescente em opções a estes níveis. A Rússia é um player importante no mercado, mas os mercados poderão mitigar parte das consequências da saída temporária do fornecimento da Rússia.

Esta situação é diferente da que testemunhámos em 2008. Desta vez, os membros da OPEP têm a capacidade de aumentar a produção a fim de travarem o aumento dos preços do preço do petróleo.  Por outro lado, o facto dos preços da matéria-prima continuarem a escalar para níveis elevados, pode fazer com que a procura comece a diminuir ao longo do tempo, acabando também por provocar uma queda nos preços como aconteceu em 2008.

 

O que acontecerá às dinâmicas do mercado de petróleo se este estiver entre os 150 e os 200 dólares por barril?

Neste momento, esse cenário ainda é pouco provável de acontecer, dado que existem várias ferramentas que podem ser utilizadas para travar a subida galopante dos preços do petróleo. No entanto, caso isso acontecesse, então iríamos assistir a uma diminuição significativa da procura desta commodity e os preços acabariam por corrigir em baixa, tal como aconteceu em 2008 (embora a subida dos preços nessa altura tenha acontecido por razões diferentes).

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