“As cidades estão ‘saturadas’, as empresas terão de conseguir encontrar formas de mobilidade para os seus colaboradores”, diz o Diretor de Frotas da SIVA

As frotas desempenham um papel central numa variedade de setores empresariais, desde logística até serviços de entrega. São os veículos que levam os produtos aos clientes, transportam as equipas para realizar serviços e mantêm a cadeia de abastecimento em movimento. Como tal, a eficiência e a eficácia da gestão de frotas têm um impacto direto na capacidade de cumprir prazos, garantir a satisfação do cliente e manter a rentabilidade.

Em entrevista à Executive Digest, Miguel Moreira Branco, Diretor de Frotas na SIVA, que representa marcas de renome como Audi, Volkswagen, SEAT, Škoda, Cupra, entre outras, explica a importância da gestão eficiente de frotas e quais as tendências em Portugal e no mundo.

Miguel Moreira Branco começou por trabalhar nos concessionários, tendo durante o seu percurso profissional passado por empresas como a Ford Lusitania, Mitsubishi, até em 2016 ter ingressado na SIVA.

 

Qual é a sua visão sobre as tendências atuais do mercado de frotas automóveis em Portugal e globalmente?

O segmento de Frotas em Portugal, de alguns anos a esta parte, é o canal de vendas mais representativo e que, tendencialmente, tem vindo a crescer. Do meu ponto de vista, isto é sobretudo devido à nossa fiscalidade, pois é sempre mais vantajoso para as empresas incluírem um automóvel no package salarial do que compensar monetariamente.

Por outro lado, o automóvel, culturalmente, para a maioria dos portugueses, é algo de elevada importância e considerado um grande, senão o maior, benefício que uma empresa pode atribuir aos seus colaboradores.

Com este enquadramento, o mercado de frotas terá sempre, no nosso país, uma elevada relevância. Contudo, acredito que o modelo de negócio está em mudança: cada vez se valoriza mais a mobilidade, em detrimento da “posse” do veículo. Vários modelos têm vindo a ser testados e, em alguns, encontramos um verdadeiro potencial de crescimento, neste sentido.

Globalmente, em especial na Europa, os atuais desafios no setor são enormes. Vivemos numa época em que a velocidade/capacidade de adaptação é crucial. Estamos a ser fortemente ameaçados pelos produtos vindos da China, onde a sua competitividade é substancialmente superior, sendo que muita dessa competitividade vem da capacidade de reação/adaptação às necessidades do mercado e dos consumidores. Nós, na Europa, estamos demasiado preocupados e investimos demasiado tempo e recursos em regulamentações. Regras de proteção de dados, compliance e o desenvolvimento do negócio dos automóveis acabam por ser afetados.

 

Quais são os maiores desafios enfrentados pelos diretores de frotas atualmente e quais estratégias estão a ser adotadas para enfrentá-los?

No imediato, o principal desafio de qualquer Diretor de Frotas será a capacidade de conseguir continuar a comprar automóveis semelhantes com custos semelhantes (o que não existe!). A maioria dos construtores teve de subir os preços dos seus produtos por via do aumento da matéria-prima/distribuição.

Por outro lado, os custos financeiros dispararam nos últimos tempos o que afeta consideravelmente as nossas operações, atendendo que a maioria das frotas são adquiridas por financiamentos.

Todos estes fatores deixam qualquer Gestor de Frota numa situação desafiante.

Existem ainda outros fatores que podem mitigar estas ameaças, como o caso da entrada dos veículos elétricos, com todas as vantagens fiscais que isso representa numa empresa, ou soluções de mobilidade de curto-prazo que começam a ser bastante relevantes nas operações da maioria das empresas.

 

Quais são as principais considerações que as empresas devem ter ao escolher entre possuir uma frota própria, leasing ou outras opções de gestão de frota?

Esta será uma das análises/decisões mais complicadas de definir. Qualquer uma das opções apresenta vantagens e desvantagens, começando sempre pelo tipo de utilização que se pretende dar à frota.

Quando uma empresa tem uma utilização de frota altamente intensiva, dificilmente uma opção de renting será viável (como o caso das empresas das minas). Por outro lado, quando a utilização é de baixa ocupação, talvez faça sentido uma opção de financiamento.

Outro dos fatores mais relevantes, ao dia de hoje, é o do custo financeiro: se a empresa tem “capacidade de tesouraria”, faz sentido avaliar o custo financeiro de uma utilização de capitais próprios Vs. financiamento externo. Acima de tudo, dependerá sempre das necessidades em causa e dos recursos disponíveis.

 

Como é que a SIVA está a adaptar a sua estratégia para lidar com as mudanças nas regulamentações governamentais e políticas ambientais?

A SIVA|PHS, como a maioria das multinacionais, assume um sentido de responsabilidade muito elevado para com as políticas e regulamentações vigentes nos países em que estamos presentes.

Desde 2019 que deixámos de ser uma empresa nacional. Hoje, as nossas políticas de sustentabilidade e regras internas garantem que seguimos uma estratégia sempre de acordo com as normas em vigor. Muita das vezes, temos dificuldade em aplicar estratégias que, do ponto de vista comercial, seriam perfeitamente exequíveis, mas que, por qualquer motivo, estão fora daquilo que são as nossas regras.

Digamos que este é o desafio: conseguir encontrar medidas e soluções passiveis de implementar dentro das guidelines da empresa.

 

Como é que as empresas estão a abordar a questão da segurança dos motoristas e a redução de acidentes nas frotas?

Infelizmente, nem todas as empresas têm essa preocupação e sentido de responsabilidade. No entanto, temos assistido também a empresas que atualmente dão formação dedicada aos utilizadores das viaturas, no sentido de melhorarem as suas capacidades de condução segura e eficiente. Com a transição para os carros elétricos, temos percebido que existe normalmente a preocupação de “ensinar” os utilizadores a conduzirem devidamente estes novos veículos. Para isso, criámos uma formação específica que normalmente facultamos às empresas que adquirem frotas de veículos elétricos.

 

Como vê o futuro da mobilidade corporativa e das frotas de veículos nos próximos anos, considerando mudanças tecnológicas, regulatórias e sociais?

Como já referi anteriormente, vivemos tempos desafiantes neste setor. Sinto que já está em curso uma mudança de paradigma fortíssima no setor. Acredito que em poucos anos a maioria das nossas vendas serão dedicadas a empresas de mobilidade, os automóveis elétricos serão os principais meios de locomoção, a condução autónoma será o maior game changer em toda esta “re-evolução”.

Contudo, e em especial nos mercados ocidentais, vamos ter de alterar bastante o nosso negócio e regras subjacentes. Por exemplo, não podemos continuar a “travar” o desenvolvimento dos veículos de condução autónoma porque não conseguimos regulamentar a responsabilidades das seguradoras. Socialmente, as novas gerações atribuem um valor ao automóvel completamente distinto do que acontecia nas gerações mais antigas. Teremos de alterar a nossa forma de comunicar e de promover os nossos produtos. As cidades estão “saturadas”, pelo que as empresas terão de conseguir encontrar formas de mobilidade para os seus colaboradores, que provavelmente não passam por incluir automóveis no package salarial. Acima de tudo, acho que somos uns privilegiados por viver nestes tempos e por poder fazer parte desta transformação revolucionária.

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