Após declarações de Trump sobre a Nato: Alemanha já vê com bons olhos o plano francês para criar arsenal nuclear europeu
A Alemanha, pela primeira vez desde a Guerra Fria, deu conta à Nato de um gasto em defesa de 2% do seu PIB para o ano em curso, num valor recorde de mais de 70 milhões de dólares. O anúncio segue-se às declarações de Trump de dar ‘carta branca’ a Putin para fazer o que quisesse com a Europa e pode anteceder uma mudança de posição de Berlim sobre o plano francês de reunir esforços na criação de um arsenal nuclear europeu.
Christian Lindner, ministro das Finanças da Alemanha, assina um artigo no Frankfurter Allgemeine Zeitung, em que defende que devem ser abertas conversações com França sobre uma nova política europeia de dissuasão nuclear. “O Presidente francês Emmanuel Macron já fez várias ofertas de cooperação”, assinalou.
Refere-se a um pedido que Macron fez, também a outros parceiros da UE, mas sobre o qual não obteve resposta.
Katarina Barley, vice-presidente do parlamento europeu e candidata social-democrata nas eleições europeias de junho também propôs já abertamente a construção de um arsenal nuclear próprio por parte da UE mas, até agora, o debate tem-se cingido aos corredores e órgãos de comunicação social.
Em entrevista ao Tagesspiegel, Barley defende que, com as últimas declarações de Trump “já não se pode confiar na proteção” nuclear da Europa assegurada pelos EUA.
O Governo alemão tem tido visões contraditórias cobre o tema, e a própria oposição indica que se deve optar por um caminho de cultivo de boas-relações com os EUA.
“Quem simplesmente fantasia sobre um arsenal nuclear da Europa não olha com total confiança do que se trata do intercâmbio nuclear dentro da Nato por parte dos Estados Unidos e dos seus aliados. Mantê-lo deve ser a prioridade máxima de qualquer governo federal alemão. Independentemente de quem seja o Presidente de Washington, queremos ser um líder socioeconómico”, apontou Johann Wadephul, da CDU/CSU alemã.
No entanto, o chefe do Partido Popular europeu, Manfred Weber, há três semanas defendia que os europeus devem preparar-se para uma guerra sem apoio dos EUA, e construir desde já o seu arsenal nuclear, para ser “capaz de se defender de forma independente”.
A Aliança Atlântica depende em grande medida das ogivas nucleares norte-americanas, colocadas em seis bases aéreas militares na Bélgica, Alemanha, Itália, Países Baixos e Turquia pelo que Weber insiste que “devemos aceitar a oferta de Macron e pensar agora como o armamento nuclear de França pode integrar-se nas estruturas europeias”.
O responsável vai mais longe e, ao Politico, admite recorrer à “abertura de diálogo construtivo com os nossos amigos britânicos” sobre o tema.