Afinal, quem manda quando se trata de defesa: a NATO ou a UE?

A competição entre a NATO e a União Europeia (UE) está a atingir um novo pico, à medida que ambas as organizações planeiam investir aproximadamente 100 mil milhões de euros em defesa. Esta rivalidade surge num contexto de crescentes desafios globais e tensões geopolíticas, incluindo conflitos como o da Ucrânia e a possível reeleição de Donald Trump.

Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, foi citada pela Reuters ao afirmar que “o envolvimento crescente de Washington na guerra híbrida contra a Rússia poderá transformar-se num fiasco humilhante para os Estados Unidos.” Esta observação reflete as preocupações de Moscovo sobre o papel dos Estados Unidos na região.

Com a iminente formação da próxima Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, há um movimento crescente para a criação de um cargo de comissário da defesa. Este comissário, avança o Politico. teria a responsabilidade de alocar bilhões de euros para fortalecer a indústria de defesa europeia, tanto para as necessidades internas da UE como para apoiar países parceiros como a Ucrânia.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, expressou preocupações sobre possíveis conflitos entre as listas de capacidades de defesa propostas pela UE e pela NATO. Stoltenberg enfatizou que “a NATO é a organização que define as metas de capacidade… para tanques, aviões, navios e prontidão”, sublinhando o papel predominante da NATO na coordenação das políticas de defesa.

Ambas as organizações propuseram fundos significativos para a Ucrânia, com a NATO a sugerir um fundo de 100 mil milhões de euros ao longo de cinco anos. No entanto, este compromisso enfrenta ceticismo, com alguns ministros dos Negócios Estrangeiros a manifestarem dúvidas durante uma apresentação de Stoltenberg.

Tomáš Kopečný, enviado checo para a reconstrução da Ucrânia, sublinhou a importância de uma abordagem financeira sustentável para a segurança europeia, afirmando ao mesmo jornal: “Precisamos de construir um instrumento financeiro sustentável se quisermos proteger a segurança europeia.”

A relação entre os líderes da NATO e da UE, Stoltenberg e von der Leyen, é descrita como cordial, com ambos a trabalharem em conjunto em questões como a cooperação com a Ucrânia. No entanto, a cooperação prática entre as duas organizações enfrenta desafios, incluindo rivalidades institucionais e complexidades político-legais.

Camille Grand, antiga secretária-geral adjunta da NATO e atualmente líder de defesa no think tank European Council on Foreign Relations, destacou o dilema enfrentado pela UE em relação à NATO. Grand observou que existe “um pouco de medo” na UE de que reconhecer demasiado a expertise da NATO possa comprometer a sua busca pela autonomia estratégica.

A complexidade desta situação é agravada pela sobreposição de membros entre as duas organizações e por questões como a disputa territorial entre a Turquia e Chipre, que limitam a partilha de informações entre a NATO e a UE.

Neste cenário de crescentes tensões e desafios globais, a pressão para a cooperação entre a NATO e a UE é cada vez maior, exigindo uma reavaliação das suas estratégias e relações para enfrentar ameaças comuns e garantir a segurança europeia.

Ler Mais