“A economia digital é um dos motores da atividade económica do país”, diz Presidente do Conselho Diretivo do .PT

A aposta na digitalização está bem identificada pelo Governo e a execução bem-sucedida do PRR pode colocar Portugal na linha da frente da transformação digital.
Em entrevista à Risco, Luísa Ribeiro Lopes, presidente do Conselho Directivo do .PT e coordenadora-geral do INCoDe.2030, explica como podemos dar resposta às exigências de uma economia e de uma sociedade cada vez mais digitais

O número de domínios registados (.pt) aumentou bastante nos últimos dois anos. O que prevê para 2023 e o que isso significa ao nível da economia digital?
O .pt está entre os domínios que mais crescem na Europa de forma consecutiva, tendo voltado a bater o recorde de número de registos no último ano. Isto significa que as empresas, nomeadamente as micro, pequenas e médias empresas, estão a apostar na transformação digital e a investir numa presença online, em .pt, para impulsionar os seus negócios. Acreditamos que a presença no digital continuará a ser decisiva para as empresas que pretendam manter-se competitivas num mercado cada vez mais global, e que esta aposta no digital será reflectida no número de registos em .pt.

Esse crescimento gerou novos riscos? Quais?
Há aqui uma conjugação entre a necessidade de as empresas estarem online e a importância de dotar os cidadãos de competências digitais para diminuir os riscos associados à digitalização. A pandemia trouxe consigo numerosos desafios e, com o aumento da actividade online, ficámos mais expostos a ameaças em torno da nossa segurança na internet. Temos que trazer as pessoas para o digital, mas também temos de fazer um trabalho em termos da utilização mais avançada da internet. Isto tem a ver não só com o acesso, mas também fazê-lo com segurança e confiança. Neste âmbito, o .PT criou o seu Centro de Operações de Segurança – PTSOC – para acelerar a capacidade de resposta a incidentes e ameaças de cibersegurança. Já em parceria com o Centro Nacional de Cibersegurança, desenvolveu a Webcheck.pt, uma plataforma online que permite aos utilizadores verificar, em tempo real, o nível de conformidade de um domínio de internet e de um email com os mais recentes standards para a comunicação segura entre sistemas, e integra o conselho de acompanhamento do Centro Internet Segura.

E quais os principais desafios para as empresas portuguesas?
O principal desafio das empresas é efectivar a transformação digital e apostar cada vez mais em áreas avançadas como a inteligência artificial, os dados, blockchain, cibersegurança ou computação avançada. Contudo, não nos podemos esquecer que o processo de transformação digital não termina enquanto houver exclusão digital e, nesse âmbito, não só, mas também as empresas têm um papel a desempenhar. Num País onde predominam as pequenas e médias empresas e cerca de 15% da população é infoexcluída, é preciso continuar a trabalhar no desenvolvimento das competências digitais dos cidadãos. O .PT tem feito um trabalho muito consistente nestas duas dimensões, nomeadamente através do apoio ao programa “Comércio Digital”, que desafia as empresas a dar o salto para o universo online, e ao “EU SOU DIGITAL”,  que promove a capacitação digital dos portugueses com o apoio de voluntários e centros de aprendizagem por todo o País.

Que medidas devem ser aplicadas para mitigar a desigualdade digital em Portugal?
A tecnologia já demonstrou ser um acelerador e isso faz com que tenhamos hoje a oportunidade única de colocar a igualdade e a inclusão digitais na agenda, criando condições para capacitar as pessoas e garantir que acompanham esta transformação à mesma velocidade e com as mesmas oportunidades.
Esta desigualdade digital só se minimiza através da implementação de fortes medidas de política pública, que promovam o desenvolvimento de competências digitais e permitam aceder em pleno ao exercício da cidadania. Tem sido esse o compromisso da Iniciativa Nacional de Competências Digitais (INCoDe.2030), a maior iniciativa de política pública nesta matéria, que coordeno, com o objectivo de não deixar ninguém para trás neste processo de transformação digital.

Na sua opinião, qual o papel das novas tecnologias na economia?
As novas tecnologias, e porventura as que estão por vir, têm de ter um propósito. Não podem ser vistas e muito menos aplicadas como um bem em si mesmo. Só com um propósito bem definido em torno do papel da tecnologia será possível concretizar a aposta na transformação digital e promover o investimento em áreas-chave como o emprego, a educação, a saúde e o ambiente.

Como caracteriza os avanços da economia digital no pós-pandemia?
A pandemia foi um acelerador tecnológico absoluto. Vimos como o digital assumiu uma dimensão sem precedentes em áreas como o teletrabalho, o ensino à distância, o comércio electrónico ou as consultas online. De repente, foi possível manter um vasto leque de sectores de actividade a funcionar, simplificar processos e criar oportunidades. Com isso, mas não só, naturalmente, temos dado passos significativos do ponto de vista da transformação digital. Tanto assim é que se regista uma evolução positiva dos vários indicadores de digitalização da economia e sociedade, o que comprova, de alguma forma, esse avanço da capacitação das pessoas, da transformação das empresas e da modernização do Estado, sem deixar ninguém para trás.

Como prevê o futuro da economia digital em Portugal?
A economia digital tem vindo a crescer a dois dígitos e é um dos motores da actividade económica do País nas próximas décadas. A aposta na digitalização está bem identificada pelo Governo e a execução bem sucedida do PRR pode colocar Portugal na linha da frente da transformação digital. Isso implica um investimento constante na promoção das competências digitais e da inclusão para dar resposta às exigências de uma economia e de uma sociedade cada vez mais digitais. O capítulo da formação é vital para garantir o acesso à economia digital.

Os países com economias digitais avançadas e melhores competências digitais têm tido mais sucesso no combate à crise?
Esse foi um cenário visível durante a pandemia. Em 2021, o World Economic Forum, através do seu Relatório Anual de Competitividade, demonstrou que países com economias digitais avançadas e melhores competências digitais tinham mais sucesso na recuperação financeira e no combate à crise. É certo que o contexto que atravessamos neste momento tem particularidades distintas e afecta-nos de outras formas, mas também aqui os índices digitais das economias são essenciais para dar resposta aos desafios actuais e de futuro.

O que é necessário para Portugal ser uma digital nation?
Portugal tem feito um percurso evolutivo no que diz respeito à digitalização. No âmbito do Índice de Digitalização da Economia e Sociedade (DESI), comparamos muito bem ao nível das infra-estruturas, das comunicações, dos serviços públicos digitais e até da própria digitalização das empresas, que têm feito progressos significativos nos últimos anos. Há, no entanto, que olhar para as pessoas. É fundamental investir na sua qualificação e requalificação profissional, dotando-as das competências digitais valorizadas na integração e reintegração no mercado de trabalho, e tendo em vista a qualificação do emprego e a criação de maior valor acrescentado na economia. Precisamos de atrair e fixar talento, de captar jovens e empreendedorismo tecnológico em todas as áreas, sendo que o PRR pode ter aqui um papel decisivo. Importa aproveitar este momento para olhar para o digital em prol das pessoas. O digital com um propósito humanista. 

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