80% das empresas não proporcionam formação aos trabalhadores, é um problema sério e estrutural”, afirma Presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR

Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), apontou a necessidade de analisar os dados da produtividade e competitividade regional, e ver como o PRR ” se encaixa para corrigir os desequilíbrios regionais e ver se as soluções estão a ir de encontro às debilidades” de cada uma das regiões nacionais.

O responsável recordou que o PRR é “mesmo baseado em resultados, exemplificando com os casos da Itália e Lituânia, que estão com as verbas de apoio retidas por não terem cumpridos as metas definidas, no primeiro caso, e por não terem corrigido falhas fiscais detetadas. Na intervenção, feita esta quarta-feira, na XXIV Conferência Executive Digest, sob o tema ‘Contributos do PRR para processo de catching up da competitividade da economia portuguesa’, Pedro Dominguinhos  considerou redutor “colocar apenas a questão de quanto já se executou do total que se recebeu”, defendendo que se deve olhar a objetivos.

“Há empresas já a assinar contratos sem receberem porque está no seu ‘pipeline’. São milhares de entidades a executar o PRR em Portugal”, referiu, lembrando que “vão ser avaliadas por cumprimento de objetivos”, uma alteração que permite “um acompanhamento mais exigente do que executar financeiramente determinados projetos”.

O problema do parco crescimento da produtividade, apontou Pedro Dominguinhos, não é exclusivo a Portugal. “As grandes economias europeias também têm um problema de produtividade. É um problema transversal da Europa. Portugal tem crescido, mas não o quanto desejávamos para nos aproximarmos mais da média Europeia”; referiu o responsável, mostrando a tabela dos níveis de produtividade na UE.

No entanto, destacou, “há um problema de concentração de empresas com níveis baixos de produtividade em Portugal”. Pedro Dominguinhos refere que há “demasiadas empresas zombie no mercado, que captam créditos, mas que a nível de produtividade têm um avanço muito reduzido”.

O problema da formação

Pedro Dominguinhos explicou que olhando a microdados sobre as empresas nacionais, verifica-se que “quanto maior o nível de qualificação e formação dos trabalhadores e gestores, maior é o nível de produtividade”. Aqui coloca-se um obstáculo, um “problema seríssimo ´”: “Cerca de 80% das empresas não proporcionam formação aos trabalhadores, é um problema sério e estrutural”, lamentou o presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, lembrando que é um fator essencial para aumento da produtividade, sobretudo “na transição digital e verde, e com um tempo de reação cada vez menor exigido às empresas”.

As diferenças de competitividade regional são o que mais afasta as regiões portuguesas, ainda que se tenham registado bons exemplos de redução das diferenças, como no Porto e na Madeira, nos últimos anos.

Os maiores atrasos no que respeita à competitividade regional prendem-se com aspetos relacionados com o desempenho macroeconómico, área da saúde, a eficiência no ensino superior e formação ao longo da vida e a inovação (inclui aspetos como a percentagem superior e pessoas empregadas nas áreas da ciência, tecnologia, criatividade, ligações entre as empresas e o ensino superior).

Em termos de inovação há, segundo Pedro Dominguinhos, “um problema de exiguidade do mercado”.

O responsável apontou oito grandes áreas onde há alinhamento entre os desequilíbrios regionais verificados e os programas que estão no terreno: Investimento no SNS e digitalização da saúde com impacto regional, missing links, programas Impulso STEAM Jovem e Impulso Adulto e Academia Digital, Impulso Digital e Ciência Mais Capitação, Voucher Start-up e vales incubação, Programa Recapitalização Estratégica, Rede nacional de Test Beds e Digital Innovation Hubs e Agendas Mobilizadoras.

Destacando o aspeto das Agendas Mobilizadoras, Pedro Dominguinhos referiu que já há 43 contratos assinados, em que se nota uma “alteração profunda”, especialmente no envolvimento das instituições de Ensino Superior, “A Universidade de Aveiro está presente em 21 agendas. Podemos estar perante uma alteração estrutural relevante no que é a relação da Indústria com a Academia e com as instituições de Ensino Superior”, enumerou. Os 2,8 milões de euros investidos nestas agendas terão “um efeito multiplicador, com muitas empresas já a antecipar investimentos”, o que, na descarbonização, por exemplo,  “está a ocorrer e a ir de encontro aos objetivos estratégicos” desenhados.

A XXVIV edição da Conferência Executive Digest, um dos eventos mais relevantes do setor empresarial nacional, que reúne Presidentes, CEOs e gestores de referência, rostos e principais elementos do tecido empresarial português, decorre esta manhã, sob o mote “As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar”.

Entre os oradores no evento contam-se nomes como Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva e vice-presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, Helena Vieira, coordenadora de investigação na Universidade de Aveiro, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, Marios Henrique Silva, líder de Digital e Inovação na MC/Sonae, Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, João Mestre, diretor de Sustentabilidade na Fidelidade ou Pedro Brito, associate dean na Nova SBE.

 

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