100 cientistas, dois anos depois: OMS alarga definição dos vírus transmitidos pelo ar em resposta aos erros da Covid-19

A Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu uma nova terminologia para descrever a transmissão de vírus pelo ar, numa tentativa de unificar entendimentos científicos após polémicas na resposta inicial à pandemia de Covid-19.

Depois de um processo de consulta que envolveu mais de uma centena de especialistas ao longo de dois anos, a OMS optou por utilizar a expressão “agentes patogénicos aéreos” para caracterizar doenças provocadas por partículas infeciosas que se multiplicam no sistema respiratório e se disseminam quando uma pessoa infetada respira, fala, canta, tosse ou espirra.

No entanto, a decisão foi alvo de críticas por parte de cientistas proeminentes, como Kimberly Prather da UC San Diego e Trish Greenhalgh da Universidade de Oxford, que lamentaram a persistente evitação do termo “transmissão aérea” pela agência.

“O conhecimento científico está em constante evolução”, declarou Jeremy Farrar, nomeado principal cientista da OMS há cerca de um ano. “O nosso compromisso é partilhar a melhor evidência disponível em cada momento”, acrescentou em declarações à imprensa.

A crescente evidência científica levou a intervenções governamentais globais para enfrentar doenças transmitidas pelo ar. Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA recentemente delinearam medidas para minimizar a circulação de partículas respiratórias em espaços fechados, enquanto a OMS lançou em março um guia detalhado sobre avaliação de risco de propagação aérea da Covid-19.

Joe Vipond, médico de emergência em Calgary, Canadá, sublinhou à Bloomberg a necessidade de máscaras respiratórias para profissionais de saúde em interações próximas com determinados pacientes.

O novo relatório da OMS estabelece um consenso em torno do termo “partículas respiratórias infeciosas”, reconhecendo que as partículas mais pequenas podem ser transmitidas tanto a curtas como a longas distâncias. Esta conclusão levanta questões sobre as medidas rigorosas de controlo de infeção que podem ser necessárias, como o uso de máscaras respiratórias de filtragem de partículas.

Em 2020, a OMS orientou os profissionais de saúde a considerar a Covid-19 como transmitida principalmente por contacto direto e através de “gotículas” respiratórias. Estas diretrizes foram posteriormente revistas, reconhecendo-se que a transmissão pode ocorrer a distâncias maiores e que o uso generalizado de máscaras contribuiu para a contenção da propagação do vírus.

Lidia Morawska, especialista em física atmosférica da Universidade de Tecnologia de Queensland, considera a nova terminologia um “avanço positivo”. Contudo, Greenhalgh defende que o termo “transmissão aérea” é mais adequado para descrever a disseminação de patógenos respiratórios pelo ar.

A necessidade de uma resposta rápida e eficaz em futuras pandemias é enfatizada por Farrar: “As primeiras horas e dias de uma nova pandemia respiratória serão cruciais para determinar as medidas de proteção mais eficazes”, concluiu.

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