Por Martim de Botton, CEO do LACS
Nas últimas décadas, assistimos a transformações profundas na forma como vivemos e ocupamos o espaço urbano. Um dos marcos dessa mudança foi o surgimento e consolidação dos centros comerciais: espaços que integraram num só lugar um vasto conjunto de opções como compras, lazer, serviços e cultura facilitando o dia a dia das pessoas e oferecendo-lhes conveniência.
Curiosamente, a lógica que moldou os centros comerciais está hoje a ser reinterpretada por alguns espaços de trabalho flexíveis. O que antes era pensado para o consumo e entretenimento, começa agora a aplicar-se ao trabalho e mais do que isso, à vida como um todo.
Muitos olham para o cowork apenas como um modelo alternativo ao escritório tradicional, adaptado às novas dinâmicas do trabalho híbrido e flexível. Mas este fenómeno é mais profundo, uma vez que estamos a assistir à criação de espaços que respondem a necessidades muito para além do trabalho. Acredito que, daqui a 20 anos, vamos olhar para trás e perceber que este modelo foi um dos catalisadores de uma mudança estrutural no desenho das cidades e na forma como as pessoas interagem com o espaço urbano.
O espaço de trabalho flexível do futuro será, cada vez mais, um ecossistema. Serviços de bem-estar, restauração, cultura, networking, cuidados pessoais, eventos, educação, apoio empresarial – tudo poderá coexistir no mesmo edifício ou no mesmo quarteirão. E este não será apenas um espaço para empresas ou freelancers: será um local pensado para os membros, para a comunidade que ali vive parte do seu dia, num ambiente inclusivo e com valores mais democráticos.
Esta evolução também influencia a arquitetura das cidades. Quando um operador de espaço de trabalho flexível escolhe um edifício, já não é apenas pela localização central ou pelo valor do metro quadrado, é pela capacidade de oferecer mais e melhor aos seus membros, de se integrar no tecido urbano e de criar sinergias com o que o rodeia.
Se os centros comerciais do final do século XX integraram o consumo e o lazer num só espaço, os espaços de trabalho flexíveis do século XXI estão a integrar o trabalho com a vida. E este movimento, acredito, vai moldar não só o futuro do trabalho, mas também o futuro das nossas cidades.




