Pequeno-almoço debate: Programas customizados com peso substancial na formação executiva

As instituições de ensino presentes no pequeno-almoço debate da Executive Digest são unânimes: a formação ao longo da vida é uma opção cada vez mais procurada entre os executivos nacionais, reforçando conhecimentos e aumentando as perspectivas no mercado de emprego. Nesse sentido, o ano de 2023 correu em linha com o previsto e verfificou-se uma tendência na procura de temas como transformação digital, analytics, blockchain, cibersegurança, inteligência artificial ou sustentabilidade. Francisco Velez Roxo (Presidente do ISEG Executive Education), Helena Laymé (Head of Marketing & External Relations do ISEG Lisbon School of Economics & Management), Tiago Guerra (Director do Técnico+ do IST), Rita Anjos (Program Admissions manager do Iscte Executive Education), Sónia Pilot Debienne (Processes & Corporate Programs Manager do Iscte Executive Education), Pedro Brito (Associate Dean para a Formação de Executivos na Nova SBE), Francisco Santos (Head of Marketing Post-Experience and Account Management na Nova SBE), Paulo Alves (Vice-Dean e Professor Associado da Católica Porto Business School) e Sofia Graça (Head of Marketing and Communication da Católica Porto Business School) foram os especialistas presentes na última conversa sobre o ensino de executivos.

VALOR ACRESCENTADO

Investir na formação contínua faz sentido tanto a nível profissional como a nível pessoal. Neste contexto, essa aprendizagem poderá ser desenvolvida de diversas formas, assumindo as escolas de negócios um papel fundamental em todo este processo. «Devemos repensar os produtos que temos, o que estamos a oferecer, se é ajustado ou não, o próprio ciclo de vida e quando precisam de ser revistos. Na área da formação executiva devemos estar muito atentos ao mercado e às exigências das empresas», assim se inicia a conversa com algumas das principais instituições da área de formação de executivos em Portugal. Os especialistas presentes sublinham também que é fundamental a construção de uma nova lógica competitiva. «As empresas não investem só porque sim, pensam muitos bem nos investimentos que fazem, nomeadamente em formação. O desafio aqui é desenhar formações que aportem valor tanto a nível individual como para as empresa. Parece fácil mudar um programa, mas não é.»

Na era da transformação digital e da constante mudança, as empresas enfrentam o desafio de liderar e motivar várias gerações de profissionais. Encontrar o equilíbrio inter-geracional, requer actualmente muita flexibilidade e equilíbrio, por parte de quem gere equipas. Se por um lado podem surgir conflitos entre as diferentes gerações, por outro lado há uma troca de experiências que beneficia a organização. «Sem perder o valor global de negócio e a fragmentação da especialização, planeamos ter uma abordagem diferente, numa nova lógica de ensino de pós-graduado, tendo em conta a longevidade inter-geracional», acrescenta um dos especialistas.

Todos os participantes presentes concordam que os líderes precisam de estar muito mais bem preparados para responder aos desafios actuais de competitividade do mercado. Um gestor no contexto actual tem que ter capacidade de gerir paradoxos, ser resiliente, ter agilidade social e adaptar-se a colaborar em equipas. «É imperativo perceber o que as empresas precisam e rapidamente ter capacidade de conseguir ajustar a oferta.»

Sobre o papel das Universidades, outro dos temas debatidos neste pequeno-almoço organizado pela Executive Digest, um dos intervenientes salientou o impacto na Sociedade, a importância de melhorar a competitividade das organizações e impulsionar a carreira dos formandos. «No final do dia, as pessoas vão às Universidades pela sua carreira. Só isso deve ser algo de reflexão sobre o que estamos a oferecer como proposta de valor. Devia ser só educação ou algo ligeiramente diferente?», questiona.

Ao mesmo tempo, e do ponto de vista da competititivade das empresas, o mesmo especialista alertou para o facto de as escolas estarem assentes num modelo de negócio que trabalha sobretudo com as grandes empresas. «Precisaríamos mais do dobro de grandes empresas para nos tornarmos uma economia mais comparável com a média europeia. As universidades têm a responsabilidade de apoiar as PME, só que o modelo de negócio que foi construído ao longo do tempo não se coaduna com a capacidade financeira e disponibilidade das PME. Há uma relação directa entre o impacto da educação no impacto financeiro das organizações», acrescenta o especialista. Em Portugal, segundo dados disponíveis, as pequenas e médias empresas (PME) representam 99,9% do tecido empresarial nacional, sendo a maioria microempresas com menos de 10 empregados. «Na nossa formação de executivos temos um modelo que combina muito bem estas realidades: a componente mais académica e a proximidade a Associações Empresariais e à realidade das micro e PME», acrescenta.

MODELOS

Os especialista presentes no pequeno-almoço organizado pela Executive Digest consideram que o peso dos programas customizados já representa um peso substancial na formação de executivos. «Quando estamos a desenhá-los é mesmo fundamental perceber se o cliente está disposto a sair da sala de aula e experimentar uma nova experiência porque é no formato que nos diferenciamos. Existem muitas empresas a investir nos customizados, mas também temos muitas pessoas a investir em si próprias», dizem os intervenientes.

Os intervenientes sublinham igualmente que as universidades têm de ser capazes de impactar, não só através da teoria mas também através da prática. «Um paper académico tem, por vezes, menos impacto do que um docente que vai a uma empresa e consegue mudá-la», acrescenta outro dos participantes. Os membros afirmaram também que a formação de executivos irá registar algumas mudanças, garantindo sempre o apoio ao desenvolvimento de carreira nas várias áreas profissionais. «Mas não podemos ser disruptivos na forma como oferecemos. Temos de pensar num modelo flexível e de como podemos ligar a oferta às necessidades de mercado, bem como ir ao encontro das necessidades das novas gerações», salienta outros dos especialistas.

Num mundo em permanente mudança, os programas customizados vão ao encontro das necessidades específicas dos participantes e das suas organizações. Esta necessidade de enriquecer e desenvolver conhecimentos levou as empresas a apostar no upskilling e reskilling dos seus quadros, em temas ligados à disrupção tecnológica no modelo de negócio, mas também na capacitação de aprender a lidar com o imprevisto. «Por exemplo, um CFO que percebe um pouco de Tecnologia, de Sustentabilidade ou sobre o impacto da política no contexto empresarial consegue resolver melhor um determinado problema, ainda que seja com as ferramentas financeiras. Isto quer dizer que temos introduzido disciplinas diferentes nos programas de liderança », refere outro interveniente.

Por fim, abordou-se ainda a responsabilidade das universidades como vectores de uma mudança cultural, a par da família, sociedade e empresas. «Ainda há alguma dificuldade na percepção do valor acrescentado da formação, mas tem-se feito um caminho. As empresas também tem este problema de se juntarem em consórcio para escalarem internacionalmente, ainda há muita resistência. Temos de continuar a insistir.»

Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Março (n.º 216) da Executive Digest.

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