Pequeno-Almoço Debate: O revivalismo dos diplomas

As instituições de ensino presentes no pequeno-almoço debate da Executive Digest são unânimes: verifica-se um crescimento na procura de formação por parte das empresas, mas a título individual espera- -se uma retracção. Atendendo ao actual contexto económico alguns formandos, mesmo sabendo que o lifelong learning é fundamental para a evolução da carreira profissional, estão a fazer um compasso de espera.
Carla Costa (dean da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnologia da Universidade Europeia), Marta Pimentel (Executive Director for Executive Education na Nova School of Business and Economics), José Veríssimo (vice-presidente do ISEG), Paulo Martins (head of Overall Market Solutions do Iscte Executive Education), Rita Anjos (Program Admissions manager do Iscte Executive Education), João Valentim (Executive Education manager da AESE Business School), Tiago Guerra (director do Técnico+ do IST), Luís Schwab (Marketing Management executive course coordinator do IPAM), Joana Lopes Moreira (head of Custom and International Executive Programs da Católica Lisbon School of Business and Economics) e Carlos Vieira (director Executivo da Formação Executiva da Católica Porto Business School) foram os especialistas presentes na última conversa sobre o ensino de executivos.

FORMAÇÃO

«Acho que existe uma clivagem muito grande entre a procura das empresas e a procura individual, porque as pessoas vão ter menos dinheiro e não sabem o seu futuro. Mas nós, como escolas de negócio, temos sempre de incentivar esta necessidade de formação ao longo da vida, de ganhar mais competências e ser competitivo no mercado de trabalho», assim se inicia a conversa com os especialistas de algumas das principais instituições da área de formação de executivos em Portugal.
A nível empresarial, os especialistas presentes sublinham a necessidade das organizações em reter talento. «Temos de repensar o que oferecer aos nossos líderes para saberem gerir os seus recursos humanos e estarem preparados para esta nova geração que aí vem. As empresas estão a procurar formas de cativar as pessoas, incluindo a formação. Não só a customizada, mas também relativamente a outros conteúdos», acrescenta outro dos especialistas, que aponta o exemplo de uma construtora que pediu formação na área de humanidades e filosofia – ou seja, está a verificar-se uma mudança de paradigma. As empresas desejam que os colaboradores construam o seu próprio enriquecimento pessoal, além daquilo que são as necessidades técnicas e que, por vezes, são supridas facilmente por formação muito orientada.
Outro dos participantes neste pequeno-almoço da Executive Digest reforça a necessidade e preocupação das empresas em darem liberdade de escolha aos seus colaboradores. «Muitas vezes são as próprias equipas de colaboradores que, divididos em grupos, escolhem a formação que pretendem realizar», acrescenta. Um dos participantes destacou também o aumento da procura em pós-graduações, em contraciclo com os MBA. Porém, nem todos os intervenientes concordaram. «Acho que o mercado reage de uma maneira muito sábia: em momentos de crise e de insegurança as pessoas apostam em valores seguros, por isso, os MBA não estão a perder terreno. A grande responsabilidade das escolas de formação de executivos passa também por trabalhar o aumento de confiança nos executivos e nas empresas.» Além disso, adiantam, os temas transversais e robustos da Gestão continuam a ser uma mais-valia nos executive masters e pós-graduações.
«Este ainda não é o ano do mercado individual. Sentimos que o tempo é uma questão fulcral para as pessoas que querem investir na sua formação. Tem de haver uma boa justificação para tirar uma pós-graduação duas a três vezes por semana e ainda conciliar com a vida pessoal e familiar», referem os especialistas.

DESAFIOS

Tal como referido anteriormente, os especialistas presentes neste pequeno-almoço apontam a actual conjuntura económica como um potencial obstáculo à formação, mas acreditam que as escolas podem ser parte da solução. «As pessoas podem ter problemas de liquidez, mas estamos cá para criar condições para que esse não seja o entrave ao desenvolvimento. Não é perceptível aumentar o preço dos cursos para o mesmo nível de inflação.»
Todos os participantes concordam que os líderes precisam de ser motivados para conseguirem passar esta conjuntura com mais tranquilidade. «É preciso dar formação robusta, presencial e que confira conhecimento, networking, partilha e envolvimento. Estamos a assistir a um revivalismo dos diplomas e as empresas estão a financiar. Ouvimos pela primeira vez as organizações dizerem que desejam formação académica para os colaboradores», acrescentam. Por outro lado, e com a necessidade de manter o seu currículo activo, os formandos ambicionam ganhar novas competências num mercado de trabalho volátil. «Não sabem o que vai acontecer amanhã e daí esta necessidade de estarem updated», dizem os participantes.
As instituições de ensino como criadoras de tendências foi outro dos assuntos abordados, numa altura em que estão a sair de Portugal muitos jovens qualificados – os números estão próximos dos registados nas décadas de 60 e 70, embora na época os motivos fossem diferentes. «Nós enquanto instituições temos de criar algumas tendências e acompanhar o desenvolvimento desta faixa etária dos 20 anos porque eles são o futuro. Temos de criar modelos e estar atentos ao que se faz lá fora até pela questão da internacionalização. Trabalhamos num mercado aberto, onde existem várias gerações de portugueses envolvidos. As nossas empresas também podem beneficiar disso e colocar estes alunos nos seus quadros.»
Sobre a mobilidade entre docentes e instituições de ensino, um dos participantes deixa um exemplo: «Para um docente em Inglaterra é perfeitamente normal mudar entre universidades e até faz algum sentido. É como a experiência profissional ao longo da vida, passa por várias experiências e vai melhorando sempre. E, portanto, na formação executiva há professores a mudar. É o mercado a funcionar.»

PME

Os membros presentes neste pequeno-almoço concordam que as pequenas e médias empresas têm muito a ganhar com a formação. Podem tornar-se mais competitivas, ser geradoras de emprego e ajudarem ainda mais no desenvolvimento económico de Portugal. «Esse é um dos grandes desafios para o futuro, o de chegarmos a mais organizações e pessoas. É capaz de não ser tão atractivo como uma multinacional mas têm os mesmos problemas. E depois há uma questão transversal: muitos empresários perguntam porque vale a pena fazer formação», contam os intervenientes. É que alguns tiveram más experiências de formação e consultoria no passado e estão na dúvida, até porque uma intervenção numa empresa pequena implica uma mudança que pode ser gigantesca.
«As gerações mais velhas estão a ser recicladas numa altura em que deviam estar a preparar a saída. É que as empresas não conseguem repor essas pessoas com a entrada das gerações mais novas. Vemos isso pelo país fora», afirma um interveniente. Isto é, além da inovação e retenção, existe ainda outro problema complexo. «Há colaboradores que não têm iniciativa para montar a sua própria carreira e sentem-se perdidos. Questionam-se porque vale a pena gastar dinheiro se depois não irão ter aumento salarial ou tencionam ficar pouco tempo na organização. Nós, instituições de ensino, temos um papel muito importante para os podermos orientar.»

ACADEMIAS E INTERNACIONALIZAÇÃO

As academias das empresas são sustentáveis no longo prazo? Esta foi outra das questões colocadas durante o pequeno-almoço. «Não. É um centro de custos fora do core business da organização. Grandes empresas fundaram academias numa lógica retalhista porque poupavam nos custos e, ao mesmo tempo, trabalhavam a cultura no universo empresarial. Só que tiveram de começar a desagregar e voltar à autonomia, porque a academia não correspondia às necessidades concretas dos negócios», afirma um dos participantes, uma opinião que não foi consensual entre todos os membros deste pequeno-almoço.
Numa altura em que as universidades portuguesas se destacam cada vez mais a nível internacional – em dimensões como o progresso de carreira dos graduados, diversidade da escola e investigação e experiência – o papel da internacionalização das escolas de negócio esteve em cima da mesa de debate.
«É uma vertente de negócio absolutamente estratégica. Se Portugal tem uma série de características muito atractivas, a qualidade do nosso ensino superior, graduado e até não graduado é altíssima. Estamos na primeira liga da formação e sabemos criar experiências ligadas ao desenvolvimento dos executivos. A pandemia, goste-se ou não, obrigou-nos a ir para o mundo e o mundo a receber-nos. Todos nós estamos com capacidade de seguirmos a onda, desenvolvermos os nossos produtos, as nossas marcas. Temos muito para dar», sublinham.
Para finalizar este pequeno-almoço, abordou-se ainda o tema da Saúde em Portugal. Após dois anos de pandemia, em que o sistema de saúde, com destaque para o SNS, esteve sob uma pressão de que não há memória, este debate tornou-se mais premente. «Existe uma fadiga grande no sector e temos vários programas ligados à Saúde. Durante a pandemia tivemos sempre muita adesão e, mesmo debaixo de fogo, mantiveram sempre presentes. Do nosso lado vamos abrir mais uma edição», conclui um dos participantes.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-Graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Setembro (n.º 198) da Executive Digest.

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