ISCTE Executive Education: Conhecimento e maturidade

Em entrevista, José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education, considera que há uma viagem incrível que se iniciou com a pandemia: a viagem do repensar, em que a formação é absolutamente crítica para os desafios futuros. Na ligação entre as escolas e as empresas é fundamental pensar, reflectir e criar novas áreas e experiências formativas.

O Financial Times colocou o Iscte Executive Education entre as melhores escolas do mundo. O que significa para a vossa instituição esta distinção?

Significa o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Significa uma caução. Significa que entregamos bem e fazemos bom ensino superior e executivo. Significa que temos muito bons mestrados e um excelente MBA. Significa que estamos no campeonato dos grandes. Mas também significa que, rivalizando com os melhores do mundo, sabemos bem, e com toda a humildade, que não temos nem os recursos nem forma de lá chegar que nos permitam voos enormes como alguns dos nossos concorrentes internacionais.
Acima de tudo, penso que reconhece as pessoas que fazem a escola, de professores a alunos, de funcionários a todos os stakeholders, onde os clientes são fundamentais, e a quem temos de agradecer por tudo quanto todos os dias se vai mostrando em entrega, empenhamento e compromisso.

Qual a importância da formação no desafio de recrutamento com que as empresas lidam actualmente?

A formação é absolutamente essencial. Crítica. E existe um problema de fundo em Portugal que limita a competitividade e o crescimento do país e que já referimos no nosso recente livro “71 vozes pela Competitividade: É obrigatório crescer”. O problema assenta essencialmente, e precisamente, na falta de educação, lato senso. Educação, formação, conhecimento, visão de mercado, competência para estabelecer parcerias, agregação de valor aos produtos, serviços e soluções, liderança igualmente, enfim.
Ou seja, parece-me que há uma lacuna transversal à sociedade portuguesa que reside, precisamente, na ausência de formação. Não podemos esquecer a falta de formação dos actores dos vários mercados, privados ou públicos, como não podemos esquecer que apenas temos 55% da população com ensino secundário completo (2020). Nestas circunstâncias, estamos a uma distância considerável de outros países, e até dos países de leste, descendentes de regimes fechados, na altura com ausência total de noção de mercado, mas, em contrapartida, com preparação quantitativa e raciocínio abstrato e complexo das suas populações nada despiciente. Por isso talvez as velocidades de crescimento e a facilidade para se tornarem mais competitivos – claro que a posição geográfica no centro da Europa importa – não sejam irrelevantes.
E, claro, neste contexto para as empresas é fundamental recrutar pessoas com formação ou formá-las mandando-as de novo para teatros de grande propensão formativa: as universidades e as suas formações de executivos.

Atendendo ao actual contexto, qual a ligação entre as escolas e empresas para enfrentar os desafios actuais e futuros da gestão e da economia?

Total. Se formámos a melhor geração de sempre e se tem procura e encontra bons lugares em termos internacionais é porque estamos a contribuir bem para o futuro da economia e da gestão. Pena é que não se consigam reter muitos dos novos potenciais em Portugal. Mas o sinal que vem de fora é fantástico: acolhem os nossos valores e portanto não pode haver melhor sinal em termos de ligação universidade-empresa. Estamos a trabalhar para as empresas. Estamos a trabalhar com empresas. Repito: pena não serem mais as nacionais que recrutam.

O actual contexto veio reforçar a necessidade de repensar o portefólio, metodologias e a forma de adaptação às necessidades das empresas?

Claramente que sim. Não é só o actual contexto. É toda a mudança que já se pressentia e que vinha de trás. Em dimensões tão diferentes quanto conteúdos e formatos, que terão de ser integrados em novas experiências formativas. Ou que terão de proporcionar experiências formativas. Há uma viagem incrível que se iniciou com a pandemia que é precisamente a viagem do repensar. Ou pensar from scratch.

Que papel está a desempenhar a vossa instituição na formação da digitalização das empresas, em temas como data science, inteligência artificial ou outros?

Temos programas específicos de pequena duração e ao nível de pós-graduação e mestrado, nomeadamente em tecnologias digitais para o negócio. Nas versões maiores englobam as dimensões tecnológicas mais importantes, da cibersegurança à robótica, do machine learning à realidade aumentada, do RFID ao IoT, entre outras. Para além disso temos um portefólio de cursos online e uma plataforma de conteúdos digital muito interessante. Estamos a usar o digital para promover o digital.

Como tem corrido a aposta na formação à medida de cada empresa?

Felizmente bastante bem. Quem vem repete e isso é um sinal excelente, e evidente, de que entregamos bem e com qualidade. Preferimos formar de forma sólida que lançar balões para o ar. É esse o nosso posicionamento. Acoplado aos nossos objectivos: sentido prático, aplicacional, saber fazer. E saber estar, sentir e decidir.

Que tipo de desafios têm vindo a ser colocados pelos clientes, no que diz respeito à necessidade de formações customizadas?

Muitos e variados. Mas gostava em particular de enfatizar um ponto subjacente a esta questão: o briefing inicial das empresas nem sempre é certeiro naquilo que são as suas necessidades. Como, obviamente, a nossa resposta nem sempre será a mais adequada.
Isto dito e entramos num campo que para mim é essencial em formação customizada que são as ferramentas e instrumentos de avaliação à priori. É quase sempre mais interessante podermos começar a formação com os resultados de um instrumento de avaliação às pessoas que estão em formação. É quase sempre mais rico perceber que não existem apenas dois ou três instrumentos universais, nomeadamente para avaliar perfis de personalidade – dando um exemplo – mas que se podem inclusive usar formas de avaliação próprias, desenvolvidas in-house, que dão resultados e que expõem os participantes a experiências interessantíssimas.
A riqueza daqui obtida irá fazer com que o resultado do processo formativo customizado seja mais efectivo, mais eficaz. Gostaria de deixar este desafio a quem nos pede formação customizada.

A vossa aposta fundamental é na criação de valor para os formandos a título individual e para as empresas. Que novidades têm para 2023?

Basta visitar o site. Estamos num acelerado processo de internacionalização porque nos tem sido dito que entregamos bem e queremos entregar cada vez mais para o mundo. Em termos de novidades estamos a cobrir novas áreas e a incorporar a participação da sociedade civil. Envolvemos, para terem uma ideia, mais de 200 pessoas nas 67 vozes por Portugal, nas 101 vozes pela Sustentabilidade e nas 71 vozes pela Competitividade e Crescimento. São mais de 200 profissionais que nos ajudaram a pensar, reflectir, estruturar e, directa ou indirectamente, criar oferta formativa.

No momento actual, que capacidades terá de ter um gestor para gerir paradoxos e elevados contextos de diversidade?

Respondo inicialmente, e fujo da pergunta, com uma frase de Warren Buffet: “The most important investement you can make is in yourself”. Por isso, para ter estas capacidades que pergunta as pessoas e as empresas não devem deixar de fazer formação. E não conheço melhor período para a fazer que durante os tempos incertos e de crise como os que vivemos. Agora a resposta à sua pergunta: que capacidades ou competências? Autonomia, rapidez, capacidade de decisão, problem solving approaches, sentido crítico, criatividade. Gosto em particular da autonomia na decisão. E da capacidade de decisão. Porque implica conhecimento e maturidade que estamos permanentemente a trabalhar.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-Graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Setembro (n.º 198) da Executive Digest.

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