Católica Porto Business School: Factores diferenciadores
Num mundo em constante mudança, Carlos Vieira, director Executivo da Formação Executiva da Católica Porto Business School, explica nesta entrevista a importância da formação para enfrentar os actuais desafios da gestão e liderança.
Qual a importância da formação no desafio de recrutamento com que as empresas lidam actualmente?
É uma pergunta interessante pois estes dois anos conduziram a alterações significativas na relação das empresas com os seus colaboradores. As empresas, independentemente da sua dimensão, percebem que têm de melhorar a experiência dos seus trabalhadores. Ao mesmo tempo, a realidade actual no mercado laboral apresenta um incremento de aspectos menos positivos para as organizações, como a saúde mental dos seus colaboradores e a Great Resignation, para além das óbvias rotações entre empresas, que estão, claramente, a aumentar. Assim, as empresas, para captar e manter talento têm de apresentar aos seus trabalhadores, independentemente das fórmulas contratuais, uma proposta de valor e de ciclo de vida. A formação surge, obviamente, neste segundo ponto, como ponto fulcral de evolução profissional numa organização.
Na vossa opinião e atendendo ao actual contexto, qual a ligação entre as escolas e as empresas para enfrentar os desafios actuais e futuros da gestão e da economia?
Na sequência do que referi atrás, assistimos a um incremento da formação, solicitada ou patrocinada pelas empresas que não tem necessariamente a ver com a componente técnica tout court mas sim com o sentimento de que há formação que simplesmente deixa as pessoas mais felizes, motivadas e, consequentemente, produtivas. Este é um paradigma importante. Correndo por vezes o risco de que os seus trabalhadores obtenham conhecimentos fora das suas áreas de actividade numa empresa e que, assim, possam buscar outras oportunidades laborais, há a percepção de que, essa realidade permite um aumento da satisfação do trabalhador com a sua empresa, que lhe proporcionou esta e outras oportunidades de enriquecimento pessoal. No entanto, continuamos a ter oferta específica para empresas, com alguma dimensão, focada nos quadros médios e superiores e que pretende, para além das hard skills, desenvolver as soft skills em ambiente de colaboração intraempresa. Isso é notório, por exemplo, em grupos económicos que desenvolvem mais que uma actividade económica ou que, pela sua dimensão, querem promover equipas de trabalho interdisciplinares que consigam desenvolver projectos transversais com o foco no incremento do seu valor acrescentado e nos seus próprios valores de sustentabilidade das suas organizações.
O actual contexto em que vivemos veio reforçar a necessidade de repensar o portefólio, as metodologias e a forma de adaptação às necessidades das empresas?
Não estou certo de que tenha havido alguma alteração na noção da importância da formação executiva por parte das empresas. O que estou certo é que as razões pelas quais a formação executiva era olhada há cerca de dois anos, como forma de capacitação para as funções desempenhadas pelos colaboradores, se alteraram, acrescentando as componentes de valorização humana, de reforço do employer branding, da necessidade de se cativar trabalhadores e de os manter. Assim, o portefólio que avaliamos e que reestruturamos em contínuo, passa pela manutenção do reforço das hard skills, complementado, cada vez mais, com as soft skills inerentes a uma realidade em constante mudança, ainda para mais em contexto de crise, sendo que a actual crise é diferente das que observámos nos últimos 15 anos.
Que papel está a desempenhar a vossa instituição na formação da digitalização das empresas, nomeadamente nos temas de Data Science e Inteligência Artificial?
Estamos em pleno aumento da nossa oferta nesta área, com o incremento das áreas de Data Science e Business Intelligence e Analytics. As tendências que observamos passam por um foco em sectores como a Moda, a Economia Circular e a Produção Sustentável nos sectores industriais (incluindo a área agroindustrial), entre outras, em que a Católica Porto Business School desenvolve as acções em parcerias com faculdades da universidade, como a Escola Superior de Biotecnologia ou a Escola das Artes. Temos um modelo de governo que recolhe muito bem as opiniões dos nossos stakeholders, e que tem uma capacidade de construir formações adaptadas ao que o mercado solicita, não esquecendo, obviamente, que somos uma Business School e não uma escola de tecnologia. Daí que as parcerias com outras faculdades e, principalmente, com a indústria são um factor crítico de sucesso.
Como tem corrido a aposta na formação à medida de cada empresa?
As estratégias de dinamização da oferta customizada para empresas e outras instituições públicas ou do sector da economia social, que são críticas para o cumprimento da missão da universidade, apoiam-se actualmente no digital, como forma de chegar a um público mais vasto. Assim, há uma intensificação do trabalho de contacto com muitos dos nossos stakeholders a quem, por um lado, temos de apresentar a nossa oferta aberta, que indica as áreas em que estamos habilitados e, depois, promover um debate com as empresas para avaliar quais as necessidades específicas que estas têm. Por isso, reforço, importa ressalvar que a oferta de formação executiva da Católica Porto Business School passa muito pela interacção com as referidas organizações. Nesse sentido, a Católica Porto Business School procura responder às solicitações do mercado e das indústrias em que mais actua em termos da formação. Esta realidade reforçou as parcerias com empresas ou associações empresariais, permitindo- nos construir cursos à medida, com os objectivos específicos que pretendam. Podemos dizer que este corrente ano demonstra um aumento da procura por parte das empresas desta formação, para além da disponibilidade das mesmas em financiar os seus trabalhadores para a frequência de formações abertas, de diversas durações.
Quais são os tipo de desafios que têm sido colocados pelos vossos clientes, ao nível da necessidade de formações customizadas?
Os clientes procuram os nossos factores diferenciadores. Em primeiro lugar, procuram o nosso corpo docente e reconhecem uma grande qualidade na nossa estrutura de acompanhamento dos projectos de formação. Depois, isto é reforçado por uma estrutura humanista, que é um factor que, nas avaliações que fazemos, surge mais destacado. O corpo docente da Católica Porto Business School reúne dos melhores professores e investigadores nacionais e internacionais nas suas áreas de intervenção e docentes da indústria, que são especialistas nos seus sectores de actividade e que têm competências pedagógicas com elevados padrões de qualidade. Todos os restantes factores de relação com os nossos stakeholders, permitem uma dinâmica na leccionação e no desenvolvimento de projectos aplicados que os alunos valorizam imenso. Deste equilíbrio entre a nossa oferta e a procura das empresas, têm surgido as questões normais – compatibilizar a formação com a actividade profissional dos trabalhadores, procurar reagir às crises que têm surgido e procurar antecipar as próximas, procurando também capacitar as pessoas para modelos virtuosos de gestão que promovam a ultrapassagem das referidas crises e a procura de oportunidades que a elas estão sempre associadas.
Que novidades estão a preparar para 2023?
Estamos a fazer uma aposta em novas pós-graduações e em formações complementares das mesmas. A pós-graduação em Fashion Management, que se iniciou no passado mês de Maio, é uma grande novidade. A partir do corrente ano lectivo, teremos as pós-graduações em Management Analytics e Strategic Decision Making, Medicina do Desporto, Reabilitação e Gestão, Gestão de Pessoas, Economia do Mar, Gestão no Sector Agroalimentar, Gestão de Operações, Logística e Supply Chain, Innovation for Sustainable and Regenerative Business e Fiscalidade Avançada. Destaco também a formação internacional, com o novo Programa Atlântico, em parceria com a Católica Luanda Business School e o Instituto de Administração e Gerência da PUC Rio. Iremos também incrementar a oferta formativa na área da Administração Pública e Autárquica, com parceiros relevantes do sector.
Que capacidades terá de ter um gestor para gerir paradoxos e elevados contextos de diversidade?
As alterações que se verificam e vêm originar riscos e oportunidades. O facto é que, por um lado, estas mudanças obrigam a pensar os negócios em função de um mundo em permanente mudança e, por outro, assiste-se a uma maior dificuldade na captação e manutenção do talento. Isso está a potenciar um aumento da formação executiva, de iniciativa das empresas, e esta procura parte dos quadros de topo da gestão, dos próprios CEO. Assim, e esta é uma opinião pessoal, as capacidades passam por um interesse alargado do meio ambiente, diversificação de conhecimentos que permitam a descoberta de oportunidades para o gestor e para as organizações ou departamentos que gere, aumento da capacidade de percepção das necessidades dos colaboradores, internos e externos, para que exista uma efectiva liderança e motivação dos mesmos.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-Graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Setembro (n.º 198) da Executive Digest.