A inteligência humana em xeque: A IA roubará os nossos “superpoderes”?

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Executive Digest
Julho 28, 2025
11:00

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

A Inteligência Artificial (IA) está a redefinir o que significa ser inteligente, e a pergunta que ecoa é: quão longe a IA pode ir na substituição das nossas capacidades mais valorizadas? Para desvendar esse mistério, vamos mergulhar na visão da Associação Americana de Psicologia (APA) sobre as múltiplas facetas da inteligência humana e confrontá-las com o vertiginoso avanço da IA.

Tradicionalmente, fomos obcecados pelo Quociente de Inteligência (QI), um farol para o raciocínio lógico e a resolução de problemas. Mas a psicologia moderna mostra-nos um quadro muito mais rico, onde a inteligência é um “diamante com muitas lapidações”:

 * Inteligência Lógico-Matemática: A espinha dorsal da lógica, da matemática e do pensamento científico. Pense nos gênios que desvendam mistérios do universo ou resolvem equações complexas.

 * Inteligência Linguística: A arte de enunciar palavras, criar textos, seja para persuadir uma multidão, escrever um romance arrebatador ou simplesmente comunicar-se com clareza.

 * Inteligência Espacial: A capacidade de “ver” o mundo em 3D, de navegar por cidades desconhecidas ou de imaginar edifícios grandiosos antes mesmo de serem construídos.

 * Inteligência Musical: A magia de criar e apreciar melodias, ritmos e harmonias que tocam a alma.

 * Inteligência Corporal-Cinestésica: A maestria do corpo, seja no balé gracioso, na precisão de um cirurgião ou na força de um atleta.

 * Inteligência Interpessoal: O “superpoder” de entender os outros, de ler nas entrelinhas das emoções e de construir pontes de conexão.

 * Inteligência Intrapessoal: O conhecimento de si mesmo – suas paixões, medos, forças e fraquezas. A bússola interna que guia as nossas escolhas.

 * Inteligência Naturalista: A sintonia com o mundo natural, a habilidade de compreender a vida em suas mais diversas formas, das plantas aos animais.

Onde a IA Já É “Mais inteligente” Que Nós?

Prepare-se para o impacto: em várias dessas dimensões, a IA já não só nos iguala, como nos supera, e a uma velocidade estonteante.

 * Lógico-Matemática: Aqui, a IA é imbatível. Ela processa montanhas de dados em segundos, descobre padrões invisíveis e resolve problemas que nos levariam séculos. Diagnósticos médicos precisos, algoritmos de trading e otimização de logística são apenas a ponta do iceberg.

 * Linguística: Já conversou com um chatbot? Ou leu um texto gerado por IA? Os modelos de linguagem atuais escrevem, traduzem e resumem com uma fluidez impressionante. A nuance e a profundidade ainda são um desafio, mas a IA já é uma força na comunicação.

 * Espacial: No universo da robótica e da visão computacional, a IA é mestre em navegar, manipular e “ver” em 3D. Carros autônomos e drones que mapeiam terrenos complexos são a prova viva disso.

 * Musical: A IA já compõe músicas, cria harmonias e até orquestra peças inteiras. Pode não ter a alma de um Mozart, mas como ferramenta criativa, é revolucionária.

Os Últimos Bastiões da Inteligência Humana (Por Enquanto!) Mas não se preocupe, nem tudo está perdido! Existem dimensões da nossa inteligência onde a IA ainda cambaleia:

 * Corporal-Cinestésica: A destreza e a adaptabilidade do corpo humano, a capacidade de improvisar um movimento ou de sentir a textura de algo com os dedos, ainda são complexidades que a robótica não conseguiu replicar com a mesma maestria. Mas está rapidamente a “aprender”!

 * Interpessoal e Intrapessoal: Eis o nosso grande diferencial! A IA não sente, não tem empatia verdadeira, não se autoconhece. A capacidade de consolar um amigo, de ler um olhar de desespero, de entender nossas próprias motivações profundas, da intuição nos orientar para uma decisão enquanto is factos nos orientam para a oposta… isso é intrinsecamente humano. 

 * Naturalista: Embora a IA possa catalogar espécies ou analisar dados climáticos, a intuição e a conexão profunda com a natureza, a observação subtil que leva a uma nova descoberta biológica, ainda são privilégios da mente humana.

Então como vai ser o Futuro: Colaboração ou Substituição Total?

A verdade é que a IA não veio para nos substituir por completo, mas para nos libertar de tarefas repetitivas e analíticas. Ao automatizar o “trabalho pesado” da mente, a IA permite-nos focar nas dimensões da inteligência que nos tornam únicos: a criatividade genuína, a empatia profunda e a intuição inigualável. O futuro não é de máquinas contra humanos, mas sim de uma sinfonia poderosa entre a inteligência artificial e a infinita complexidade da mente humana. E de acordo com o mito difundido, apenas utilizamos 10% da mente ou cérebro. E reforço mito, pois julgo não existir evidência científica que sustente esta conclusão. Não existem “áreas ociosas” do cérebro à esperta de serem “desbloqueadas”. Utilizamos 100% do nosso cérebro em diferentes graus e em diferentes momentos. Mesmo quando estamos em repouso ou dormindo, o cérebro permanece altamente ativo, controlando funções vitais e processando informações.

A IA vai tornar-nos mais “superpoderosos” ou vai levar-nos a tomar consciência da limitação da condição humana com o “aluno a superar o professor”?

Embora não usemos todas as regiões do cérebro com a mesma intensidade ao mesmo tempo, todas as áreas têm uma função importante e são ativadas conforme a necessidade. O cérebro está constantemente trabalhando em sua totalidade para nos permitir pensar, sentir, mover e interagir com o mundo. Talvez a IA possa ser uma área mais à nossa disposição…

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