Operação Pretoriano: Instrução do processo será à porta fechada por “risco de incidentes” com apoiantes dos Super Dragões

A fase de instrução da Operação Pretoriano, que envolve membros da claque Super Dragões, será conduzida à porta fechada por questões de segurança, de acordo com uma decisão do Tribunal de Instrução Criminal. Esta medida foi tomada para evitar possíveis confrontos entre os apoiantes dos arguidos e elementos da claque, o que representa um “fundado risco de incidentes”, conforme sublinhou o tribunal em resposta a um pedido de assistência feito pelo jornal PÚBLICO.

A decisão de excluir a comunicação social e o público da sala de audiências tem como objetivo garantir que a produção de provas decorra “de forma pacífica, tranquila e resguardada”. O processo tem sido marcado por grande mediatismo, e o tribunal, com base numa avaliação de segurança, considera que a presença de pessoas alheias ao caso poderia agravar a situação, tornando-se um fator de instabilidade.

Desde o início do processo, o Ministério Público já havia demonstrado a intenção de proteger este julgamento da exposição pública, especialmente para salvaguardar as testemunhas envolvidas. Algumas delas, de acordo com informações obtidas pelo PÚBLICO, expressaram receios de represálias por testemunharem contra figuras proeminentes da claque portista. A proteção das testemunhas é, portanto, uma das principais preocupações das autoridades, que veem na realização da instrução à porta fechada uma forma de garantir a segurança de todos os intervenientes no processo.

A fase de instrução da Operação Pretoriano estava inicialmente agendada para começar na passada sexta-feira, mas foi adiada devido a uma greve dos oficiais de justiça. Esta paralisação impediu as audições de Fernando Madureira, o líder dos Super Dragões, e de Sandra Madureira, outra figura de destaque da claque. As inquirições estão agora marcadas para sexta-feira, 25 de outubro, mas existe a possibilidade de novo adiamento caso a greve continue.

A Operação Pretoriano teve origem numa série de incidentes de violência durante uma Assembleia-Geral (AG) do FC Porto, em novembro de 2023. Sócios do clube denunciaram agressões e um clima de intimidação e medo que culminou com o arremesso de objetos e outros atos violentos nas bancadas do Dragão Arena. A violência foi tão intensa que a reunião foi adiada. Nesse encontro, os sócios votariam uma alteração estatutária que reforçaria o poder de Pinto da Costa, o presidente do clube, e que poderia prejudicar uma eventual candidatura de André Villas-Boas à liderança.

De acordo com o Ministério Público, Fernando e Sandra Madureira, juntamente com outros membros da claque, estavam envolvidos num plano para silenciar a oposição a Pinto da Costa e impedir qualquer tentativa de candidatura alternativa à presidência do clube. O objetivo seria manter os privilégios que os Super Dragões alegadamente usufruem, tais como o acesso facilitado a bilhetes, viagens para jogos fora e a venda de merchandising nas imediações do Estádio do Dragão.

No total, são 12 os arguidos na Operação Pretoriano, todos acusados de diversos crimes graves. Entre os delitos estão 19 acusações de coação agravada, sete de ofensas à integridade física no âmbito de espetáculos desportivos, três de atentado à liberdade de informação, além de acusações de instigação pública a crimes e arremesso de objetos. Um dos arguidos enfrenta ainda uma acusação de posse de arma proibida.

Fernando Madureira, o líder dos Super Dragões, é o único dos arguidos que se encontra em prisão preventiva. Além das acusações no âmbito da Operação Pretoriano, Madureira é alvo de investigações em dois outros processos: um relacionado com um alegado esquema de bilhetes, e o outro por irregularidades fiscais, que envolvem a ocultação de receitas provenientes da venda de ingressos.

O elevado mediatismo do caso, associado ao histórico de violência envolvendo a claque dos Super Dragões, levou a Justiça a adotar medidas de segurança rigorosas para garantir que a fase de instrução decorra sem incidentes. Com o julgamento à porta fechada, espera-se que o processo possa avançar de forma tranquila, apesar das tensões que envolvem o caso.

Ainda assim, com a greve dos oficiais de justiça a ameaçar novos adiamentos, o desfecho desta fase de instrução poderá sofrer novos atrasos, prolongando ainda mais o caso e mantendo as atenções públicas voltadas para este processo que envolve um dos mais poderosos grupos de apoio do futebol português.

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