Incluir a inclusão financeira
Por João Guerra, CEO Nickel Portugal
De acordo com o Relatório do Observatório Nacional Contra a Pobreza – Pobreza e Exclusão Social em Portugal 2022 -, e comparativamente com a edição anterior, em Portugal, a população em risco de pobreza ou de exclusão social aumentou 12%. Comparativamente com os restantes Estados-membros da UE, apenas a Eslováquia apresentou uma taxa de crescimento do risco de pobreza superior à de Portugal. Inverter esta tendência começa, entre outras medidas, por garantir que os cidadãos dispõem de meios para gerir o seu dinheiro. Este é o objetivo principal definido pelo conceito de inclusão financeira, que contempla a acessibilidade dos serviços financeiros a todas as pessoas, independentemente da sua condição social ou rendimentos. Esta é uma problemática que ganha cada vez mais importância nos tempos de instabilidade em que vivemos, mas que ainda se encontra à margem da agenda política.
A realidade é a de que os pagamentos, transferências, depósitos e levantamentos são ações que realizamos no nosso quotidiano quase de forma automatizada, graças à transformação digital que tem sido trazida às mesmas. No entanto, está a dar-se um crescente afastamento da população portuguesa às entidades financeiras, causado pelo encerramento de agências bancárias em várias regiões, principalmente no interior do país. Sendo este também mais um fator que traz constrangimentos à participação dos cidadãos na economia, aumentando a deterioração da sua qualidade de vida.
A transformação digital que tem sido sentida no setor veio, de facto, aliviar algumas destas problemáticas, criando soluções móveis de realização de operações financeiras que permitem às pessoas aceder aos serviços financeiros, especialmente em regiões com infraestruturas bancárias limitadas. Não obstante, surge com a mesma um novo obstáculo, na medida em que algumas populações não dispõem de literacia digital e financeira para utilizar estas novas soluções de forma autónoma. Adicionalmente, é premente criar opções financeiras menos burocráticas e redefinir os requisitos mínimos para permitir que outros segmentos da população, inclusive população em risco de exclusão social, tenham a possibilidade de aceder a uma conta, dando-lhes a oportunidade de uma participação mais ativa na economia e na sociedade.
Ter um local seguro para depositar e gerir as finanças pessoais pode oferecer uma maior segurança, possibilitando a poupança, um maior planeamento futuro e, como consequência, escapar ao ciclo da pobreza. Transversalmente, também é promovida uma cultura de responsabilidade e literacia financeira, dotando os indivíduos das ferramentas necessárias para tomarem decisões informadas sobre o seu dinheiro. Este acesso individual a serviços financeiros essenciais acaba por favorecer uma melhor gestão do orçamento pessoal, maior capacidade de poupança e investimento, promovendo o seu maior bem-estar e, também, acabando por estimular o crescimento económico e a estabilidade dos países, ao tornar as populações financeiramente capacitadas, mais produtivas e resistentes.
Em conclusão, a inclusão financeira não é apenas um imperativo económico, é também um imperativo moral. Garantir que cada indivíduo tenha acesso às ferramentas necessárias para melhorar o seu bem-estar financeiro é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Ao derrubar as barreiras que impedem as pessoas de aceder aos serviços financeiros, podemos criar uma sociedade onde a capacitação financeira é uma realidade para todos.