Roubar um Ferrari em 60 segundos? Aumento da criminalidade automóvel provoca resposta ‘imediata’ das marcas de luxo
Em Londres há um ‘bunker’ que contém cerca de 250 dos carros mais cobiçados do mundo – com segurança semelhante à de Fort Knox e uma equipa de resposta policial nas proximidades, a instalação secreta de armazenamento de carros Windrush já foi mesmo comparada à ‘Bat Cave’, eternizada nos filmes do Batman.
O ‘bunker’ é uma das respostas face à onda de roubos de Ferraris este ano no Reino Unido, o que fez “absolutamente explodir” o número de pedidos para estacionar carros desportivos de última geração ou clássicos de valor inestimável, garantiu Tim Earnshaw, fundador e diretor administrativo da Windrush, em declarações à ‘Bloomberg’. “É uma sensação estranha porque, como entusiastas de veículos, não ficamos satisfeitos com o aumento da criminalidade automobilística”, apontou, salientando que tem protegido cada vez mais Range Rovers, alvo em voga junto dos larápios.
Dados recentes apontam que o roubo de automóveis vinha em queda devido aos avanços técnicos das marcas fabricantes, como alarmes e imobilizadores eletrónicos de motores: no entanto, a epidemia de roubos não só atinge Londres mas também se regista nos Estados Unidos, Canadá e Alemanha. Reverter essa tendência vai exigir maior policiamento e precauções adicionais dos proprietários. No entanto, parte da responsabilidade recai sobre os fabricantes, cujos recursos de segurança têm sido facilmente contornados com ferramentas e informações online.
Uma grande razão pela qual o crime automobilístico disparou repentinamente é que os veículos são mais valiosos. Os preços dos automóveis novos e usados dispararam durante a pandemia da Covid-19 e a escassez de peças sobressalentes impulsionou um comércio paralelo de desmontagem de veículos para obter os seus componentes.
Nos Estados Unidos, os ladrões são frequentemente jovens oportunistas que aprenderam a roubar através do TikTok – cerca de metade dos detidos em Nova Iorque por roubo de automóveis no ano passado tinham menos de 18 anos. A Kia e a Hyundai estão no olho do furacão, com diversas cidades a avançarem com processos na justiça contra os fabricantes sul-coreanos.
Em outros lugares, há gangs sofisticados que roubam carros de prestígio sob encomenda para depois transportar através das fronteiras. A polícia britânica não tem mãos a medir na hora de intercetar Ferraris e outros automóveis de luxo nos portos do leste de Londres, em contentores com destino ao Médio Oriente. Há veículos do Canadá que foram recuperados na África Ocidental.
Os gangs estão a aproveitar-se das deficiências na segurança dos automóveis: os proprietários de veículos com o chamado acesso sem chave – em que as portas são destrancadas sem o uso da chave remota – têm duas vezes mais chances de fazer uma reclamação de roubo do que os que têm chave, segundo dados da seguradora Aviva Plc – os ladrões conseguem intercetar e retransmitir o sinal sem chave para outro dispositivo.
“Parece que retrocedemos em termos de segurança de veículos por uma questão de conveniência”, referiu Simon Ambler, chefe da corretora de seguros de carros clássicos e desportivos Lockton Performance. “Carros sem chave são roubados em 20 segundos, o que coloca questões sobre a utilidade de portas que abrem sem chave.” A empresa recomenda o uso de uma bolsa faraday, que pode ajudar a prevenir tais roubos uma vez que bloqueia o sinal.
Derrotar o crime automobilístico é um jogo de gato e rato – um jogo que os bandidos muitas vezes vencem. Uma ameaça emergente são os chamados ataques de injeção CAN, que ocorrem quando os criminosos invadem a arquitetura eletrónica do veículo nos seus pontos vulneráveis, como os faróis. Os equipamentos de hacking podem ser adquiridos online e surgem muitas vezes disfarçados de algo mais inócuo – como um dispositivo Bluetooth –, o que significa que podem passar despercebidos. Embora os carros modernos tenham atualmente rastreadores GPS, os criminosos conseguem já bloquear o sinal.
As marcas automóveis já perceberam que as suas vendas podem sair prejudicadas sem não protegerem melhor os seus veículos. “Proteger os carros desportivos da Ferrari contra tentativas de roubo é de extrema importância”, salientou um porta-voz da marca do ‘Cavallino Rampante’, acrescentando que está a trabalhar com um parceiro “para aumentar imediatamente o nível de segurança”.
Também a Jaguar Land Rover oferece uma atualização do software para modelos Range Rover mais antigos para impedir que os ladrões manipulem o módulo de controlo da carroceria e, assim, criando chaves duplicadas. Os seus mais recentes modelos Range Rover e Defender melhoraram a arquitetura elétrica e de segurança – dos mais de 20 mil novos modelos Range Rover e Range Rover Sport nas estradas do Reino Unido, apenas cinco foram roubados, sustentou um porta-voz da JLR.
“Sim, houve casos em que o projeto não foi pensado com antecedência suficiente e houve um aumento no roubo”, garantiu Richard Billyeald, diretor técnico da empresa de inteligência de risco automóvel ‘Thatcham Research’. “Mas agora estamos a ver uma boa resposta da indústria em termos de novas tecnologias para lidar com vulnerabilidades.”