O que esperar de 2024?: Raul Neto, CEO da Randstad Portugal

Testemunho de Raul Neto, CEO da Randstad Portugal

Agora que já nos encontramos num novo ano, nada como fazer um rápido balanço do que aconteceu em 2023, para nos ajudar a determinar tendências para o ano de 2024. Observamos um abrandamento do crescimento económico e a diminuição da dívida pública, os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente a marcar uma grande parte da actualidade, as tensões sociais nas áreas da saúde e da educação e a imprevisível crise política causada pela demissão do primeiro-ministro. Adicionalmente, verificamos uma penalização do poder de compra da maior parte das famílias portuguesas, em resultado da subida das taxas de juro, da inflação que se manteve em níveis bastante elevados e da crise da habitação com um aumento exponencial dos valores das rendas.

Em contrapartida, e no que diz respeito ao mercado de trabalho, o nível de desemprego manteve-se num nível baixo, quase podendo falarmos de desemprego estrutural, como demonstra o aumento da população empregada que atingiu valores recorde. Esta realidade será previsivelmente uma tendência que se irá manter durante o ano de 2024.

Como o mercado de trabalho é um reflexo dinâmico da sociedade, sendo fortemente influenciado pela conjuntura macro-económica e por todas as mudanças sociais que vão ocorrendo, onde se inclui a crescente preocupação com os temas da diversidade e da inclusão, e do impacto da tecnologia no emprego, e sendo certo que a incerteza e a volatilidade irão continuar a fazer-se sentir de forma relevante, abrem-se desafios complexos para as organizações, que são simultaneamente oportunidades de diferenciação e crescimento, isto porque as dinâmicas organizacionais serão alteradas, requerendo capacidade de adaptação, tendo em vista a agilidade que o mercado de trabalho exige, e em que irá predominar a flexibilidade e a resiliência, promovendo a concretização de um forte investimento em capital humano. E por isso Evolução!

Mas também Continuidade!

E isto porque na verdade a atracção e a retenção de talento continuarão a ser os maiores desafios para as empresas. Vamos continuar a assistir a um mercado candidate driven, onde as exigências dos profissionais vão continuar a mudar, e as expectativas que têm no que diz respeito ao papel que o emprego desempenha na sua vida serão ainda maiores.

A tecnologia terá uma influência cada vez maior no mundo do trabalho, promovendo uma maior agilidade na forma como as empresas conduzem os seus processos internos, o que simultaneamente se traduzirá numa necessidade/ oportunidade para os profissionais desenvolverem novas competências e se requalificarem face às novas realidades tecnológicas, permitindo-lhes ser cada vez mais relevantes e atractivos para o mercado. Daí que o acesso a formação e a definição de planos de progressão e desenvolvimento de carreira serão também factores-chave para a retenção, por parte das organizações.

A flexibilidade no trabalho continuará a enraizar-se e a ser cada vez mais importante no momento da escolha de um empregador, trazendo desafios ao nível da atracção de talento, e da capacidade dos líderes em gerir remotamente as equipas, por forma a garantir a sua ligação à empresa e à sua cultura, ao mesmo tempo, que contribuem e asseguram o bem-estar e a saúde mental dos trabalhadores.

Mas há uma grande interrogação que fica no ar, e que pode trazer surpresas ao nível do mercado de trabalho, nomeadamente ao nível legislativo, e que está intimamente ligada à incerteza política atual, já que se prende com aquela que será a orientação política do novo governo que será formado no seguimento da eleição que irá ocorrer em Março. Teremos um governo que irá dar continuidade (ou até dar mais ênfase) às medidas preconizadas na Agenda do Trabalho Digno, pelo governo atualmente em gestão, ou teremos uma inversão das políticas laborais que foram implementadas nos últimos anos? E nesta parte é de aplicar a velha máxima “Prognósticos só no fim do jogo”.

Ainda assim acredito que este ano, continuando a ser marcado por uma elevada incerteza, será tanto maior ou menor em função do novo enquadramento político pós-eleições, e será marcado por uma maior estabilidade à medida que o rendimento real disponível das famílias aumente, como consequência da descida da inflação, da diminuição da carga fiscal directa, e do esperado alívio das prestações de crédito, e pela resiliência do emprego, não obstante o diminuto crescimento económico projectado pelos diversos organismos, nacionais e internacionais.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024

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