O que esperar de 2024?: Pedro Castro e Almeida, Santander Portugal

Testemunho de Pedro Castro e Almeida, Presidente executivo do Santander Portugal

O ano de 2024 afigura-se como mais um ano repleto de desafios, onde a nossa capacidade de adaptação e de execução da nossa estratégia serão cruciais. Este é um cenário já familiar, mas que descreve acertadamente o início deste ano. Os factores que mais influenciam o sector financeiro em 2024 coincidem, em grande parte, com os que moldam a dinâmica económica global.

A conjuntura geopolítica, marcada por conflitos como a guerra na Ucrânia – que entra agora no seu terceiro ano devido à invasão russa – e os confrontos entre o Hamas e Israel, após os ataques de 7 de Outubro, terá um papel preponderante. Não podemos esquecer outros conflitos latentes, como os recentes actos de pirataria na Rota do Mar Vermelho.

Além disso, vamos ter três eleições de grande importância – como a que acontece em Portugal em Março, na União Europeia em Junho e nos EUA em Novembro – que irão moldar o contexto político e económico.

Apesar destes factores, no sector financeiro e em outros sectores, devemos manter o foco na execução da estratégia definida, visando a produtividade, crescimento do negócio e melhoria da experiência dos nossos clientes.

A nível nacional, com o contributo empresarial, é vital aspirar a um crescimento acima da média e retomar a convergência, essencial num mercado global competitivo, especialmente na captação de talentos. Precisamos reter os talentos que formamos, com empresas inovadoras e projectos atraentes para as novas gerações.

A eficácia na utilização dos fundos europeus, nomeadamente através do dinamismo do Portugal 2030 e das reformas do Plano de Recuperação e Resiliência, revela-se crucial para fomentar a recuperação económica. Actualmente, esta recuperação é tímida, condicionada por desafios como o conflito armado, a crise energética, a inflação acentuada e o aumento rápido das taxas de juro. Para 2024, antecipa-se que o crescimento da economia europeia, Portugal incluído, permaneça aquém das tendências de longo prazo.

Neste enquadramento, as economias mais ágeis e com empresas de maior dimensão estão em vantagem. É também por isso que precisamos que as nossas empresas cresçam. As grandes empresas no País são 40% mais produtivas do que a média, pagam quase o dobro do salário médio do sector privado e contribuem com 29% para o PIB nacional. Este impacto é ainda mais significativo noutros países: 40% do PIB em Espanha, 48% na Alemanha e 52% em França.

A desaceleração da inflação em 2023 permitiu ao Banco Central Europeu concluir o ciclo de aumento das taxas de juro. Como o governador do Banco de Portugal apontou, a questão agora é saber quando estas taxas irão diminuir. No segundo semestre do ano, espera-se que famílias e empresas beneficiem de taxas de juro mais baixas, estimulando a recuperação económica.

Relativamente ao sector bancário, começa o ano com maior liquidez, solvabilidade e qualidade na carteira de crédito, mantendo assim as condições para apoiar a economia. No entanto, os potenciais efeitos das taxas de juro mais elevadas sobre a qualidade da carteira de crédito poderão ainda vir a fazer-se sentir no decurso dos próximos trimestres, sendo até mesmo necessário manter uma vigilância contínua por parte dos bancos.

Além disso, a agenda de transformação digital do sector tem de continuar, como resposta às exigências crescentes dos clientes por qualidade de serviço. Esta transformação desempenhará um papel fundamental num mercado altamente competitivo, onde emergem novos participantes, como as “big techs”. Estas empresas destacam-se pela apresentação de soluções inovadoras, no entanto, os bancos oferecem algo muito difícil de replicar: relacionamentos pessoais e confiança. Quem conseguir encontrar o melhor balanço entre inovação, confiança e relação, estará na linha da frente.

Para concluir, reafirmamos a nossa missão de apoiar as famílias e as empresas, baseando-nos numa estratégia sólida e numa transformação digital e comercial abrangente. Esta abordagem tem-se traduzido em melhorias claras na qualidade do serviço e na experiência dos nossos clientes, reflectida no crescimento em novos clientes e no aumento da transaccionalidade.

A médio prazo, este caminho de transformação contínua terá um contributo essencial para a nossa rendibilidade, pois a margem financeira começará a reflectir a descida já em curso ao das taxas de juro Euribor, enquanto os volumes de crédito deverão permanecer moderados.

Adicionalmente, temos um compromisso claro com a transição energética, e queremos ser o parceiro preferencial dos nossos clientes nesta missão que é de todos. Hoje, já apresentamos várias soluções especializadas de financiamento, investimento e de assessoria especializada no contexto do “Green Finance”. Desta forma, estamos a trabalhar em conjunto com as empresas nacionais na construção de um futuro mais sustentável, fundamentado num crescimento equilibrado e duradouro.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024

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