O que esperar de 2024?: António Lagartixo, Deloitte

Testemunho de António Lagartixo, CEO e Managing partner da Deloitte

1. Que alterações perspectiva que possam vir a impactar o seu sector em 2024?

Em 2024, a inovação e transformação tecnológica, e, a sustentabilidade, deverão manter-se como tendências estruturais na actividade das organizações. A competitividade dos seus negócios irá depender da capacidade de se adaptarem e actuarem de forma efectiva sobre estas dimensões críticas de mercado.

Na dimensão de inovação e transformação tecnológica, irá destacar-se em particular a aposta na inteligência artificial, tendo em conta o seu potencial de disrupção de negócio, criação de valor e aumento de eficiência das operações. Olhando para o sector da prestação de serviços profissionais, será fundamental realizar investimentos estruturados que garantam o desenvolvimento de soluções e serviços, de alto valor acrescentado, que respondam de forma efectiva às necessidades dos clientes e mercados, suportando-os nos seus processos de transformação.

As matérias de sustentabilidade, por seu turno, têm vindo a ganhar cada vez maior relevância e notoriedade nas agendas estratégicas das organizações e decisores. Os resultados do estudo Deloitte CXO Sustainability Report de 2023, indicam que no último ano 75% das empresas a nível global reconhecem ter aumentado o investimento em matérias de sustentabilidade, sendo que 65% assume que a crescente pressão regulatória tem levado ao reforço destes investimentos e à tomada de decisão.

Numa perspectiva europeia esta pressão terá tendência a ser reforçada com a entrada em vigor da nova directiva de reporte corporativo de sustentabilidade, que irá exigir que todas as organizações abrangidas reportem a informação de acordo com standards, os European Sustainability Reporting Standards.

Se por um lado estas novas exigências representam uma oportunidade de melhoria na prestação de informação aos diversos stakeholders, por outro são também um desafio acrescido, devendo as empresas que actuam no sector da prestação de serviços profissionais assumir-se como um suporte relevante no apoio ao tecido empresarial. Este apoio não deverá limitar-se à resposta a temas regulamentares, mas também à transformação do modelo de negócio e operação das organizações.

2. E para a sua empresa em particular, quais os maiores desafios?

No contexto complexo que enfrentamos e, que acredito continuaremos a enfrentar nos tempos mais próximos, o maior desafio das organizações é manterem-se fiéis à sua estratégia, princípios e convicções. Resistir às tentações de curto prazo e continuar a respeitar, passo a passo, a estratégia definida, que garante a estabilidade e crescimento do negócio a médio/ longo prazo, é um desafio tremendo.

Apesar da dificuldade, acredito que é o que tem de ser feito e, como tal, é o que faremos ao longo de 2024. Temos um posicionamento muito claro no que toca a matérias de inovação, tecnologia e serviços de alto valor acrescentado. Queremos manter esse posicionamento e continuar a reforçar a nossa oferta com soluções que englobem em si mesmo, todos os desenvolvimentos tecnológicos mais recentes. As diversas iniciativas que temos vindo a operacionalizar são mostra disso mesmo, e o recente anúncio do lançamento do novo hub internacional de Generative AI é um excelente exemplo. Este hub/centro de serviços, estará focado no desenvolvimento de soluções baseadas em GenAI, suportando clientes em mais de 40 países da Europa e África.

Para suportar esta aposta teremos naturalmente de continuar focados na gestão de talento. Devemos ter um papel activo na criação de conhecimento, trabalhando lado a lado com universidades e politécnicos, e, simultaneamente, no desenvolvimento de contextos e oportunidades que assegurem a atracção e retenção de talento em Portugal.

Neste sentido temos vindo a implementar um plano de abertura de escritórios em diversos centros urbanos, como Faro, Viseu e Coimbra, garantindo por um lado proximidade a estes polos de conhecimento, e por outro assegurando a dinamização da economia dessas regiões, através do desenvolvimento de soluções de alto valor acrescentado para o mercado nacional e internacional. Respeitando esta estratégia, continuaremos ao longo de 2024 a reforçar a nossa capilaridade, aumentando a nossa presença fora dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto.

3. Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?

Apesar do excedente orçamental das contas públicas em 2023, as projecções para a economia portuguesa indicam que 2024 pode revelar-se ser um ano de elevada complexidade. Com a revisão em baixa em 0,3 pp., o Banco de Portugal estima que dos 2,1% registados em 2023, passemos para um crescimento a rondar os 1,2% em 2024.

A inflação deverá prosseguir a trajectória descendente, passando dos 5,3% em 2023 para 2,9% em 2024, reflectindo os efeitos da redução dos custos de produção e dos impactos da política monetária do Banco Central Europeu.

Numa perspectiva global, a exposição dos mercados internacionais aos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente mantêm elevados os níveis de incerteza. A evolução destes contextos poderá ter profundos impactos económicos, nomeadamente no que se refere às taxas de juro, cadeias logísticas e preços dos combustíveis. A par destes conflitos será ainda relevante acompanhar os outros polos de tensão geopolítica, e perceber os potenciais impactos da evolução do contexto político norte-americano.

É neste ambiente desafiante, de desaceleração da nossa economia e de volatilidade a nível global, que as empresas e os seus líderes terão de actuar e tomar decisões. O ano de 2024 irá com toda a certeza trazer novos desafios aos agentes económicos, mas estou convicto de que o ciclo de crescimento das empresas poderá manter-se numa rota de estabilidade se soubermos antever e preparar os nossos negócios aos estímulos da oferta e da procura.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024

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