O que esperar de 2024?: Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde

Testemunho de Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde

O ano de 2024 começa com muitas incertezas e prevê-se muito desafiante para o sector do Ambiente em Portugal, particularmente na gestão dos Resíduos urbanos e para o sector da Reciclagem das embalagens, onde se centra a missão e actuação da Sociedade Ponto Verde.

Faço esta afirmação tendo em consideração cinco aspectos que são fundamentais para o sector:

  • Os impactos do aumento de custos de financiamento do sistema nacional de reciclagem de embalagens, cuja actualização é necessária e defendemos, mas que tem de estar assente num modelo transparente e racional, ligados a objectivos claros de melhoria de serviço aos cidadãos, com preços justos a serem pagos aos sistemas e, claro, em alinhamento com as exigentes metas de Reciclagem que o país tem pela frente. Actualização essa que está agora dependente da indicação do novo Governo que vier a sair das eleições de 10 de Março, é nossa convicção.
  • A estabilização e simplificação do quadro legislativo e regulatório, o que ainda não acontece;
  • A definição clara do papel das entidades gestoras de resíduos urbanos para a próxima década, como a Sociedade Ponto Verde, considerando o novo ciclo de licenciamento, um processo que passa também para o próximo Executivo.
  • A eficiência de toda a cadeia de valor de todo o sector da Reciclagem, não apenas no que diz respeito às embalagens, que tem de conseguir responder em conformidade, sabendo que há novas obrigações a nível europeu e o ano de 2024 começa também com a obrigatoriedade de operacionalizar novos sistemas de recolha de resíduos, como os biorresíduos, este sim, um grande desafio para o País.
  • O bom exemplo das embalagens, que continua a ser o único fluxo a cumprir com as metas da Reciclagem, mas que sabemos que tem de acelerar, quando a taxa global é de 60% e, no próximo ano, Portugal precisa de estar a reciclar 65% de todas as embalagens que são colocadas no mercado.

Tudo isto implica com a nossa actividade diária e, portanto, fazem parte dos nossos desafios para este ano.

Assim, continuamos comprometidos com aquelas que são as nossas prioridades: manter o diálogo e o trabalho colaborativo com todos os agentes económicos e intervenientes da cadeia de valor para conseguirmos maior alinhamento e mobilização para a prestação de um melhor serviço de recolha de recicláveis, em qualidade e conveniência. Vamos continuar a promover Inovação e I&D junto dos nossos clientes e parceiros em busca das melhores ferramentas, soluções e embalagens, que assegurem mais e melhor reciclagem para apoiar o cumprimento das metas, realmente ambiciosas. E vamos dar seguimento à comunicação de proximidade para promover a literacia ambiental, com iniciativas no “terreno” e recurso ao poder da digitalização, como aconteceu, recentemente, com o lançamento da app Acerta e Recicla.

Numa visão mais global, 2024 resume-se numa expressão: o regresso da incerteza. Em Portugal, na União Europeia, nos EUA e um pouco por todo o mundo decorrerão actos eleitorais que poderão causar disrupções nos sistemas políticos que há décadas são a imagem de marca das sociedades assentes em economias de mercado ocidentais.

A 3 de Janeiro, o Financial Times perguntava se a democracia sobreviverá a 2024. As tensões geopolíticas poderão agravar-se e causarem perturbações nas cadeias logísticas e na dinâmica do comércio mundial e o facto de 2023 ter sido o ano mais quente de sempre desde que há registos sobre o tema, relembra-nos que o caminho para a sustentabilidade e a protecção dos recursos do planeta é necessário, urgente e tem de tornar-se irreversível.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024

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