Costa diz que proposta de gasoduto em Portugal enfrenta resistência de França

O Primeiro-ministro António Costa disse esta sexta-feira, sobre a proposta lançada pelo Chanceler alemão Olaf Scholz para a criação de um gasoduto que ligue Portugal à Europa central, “é uma ambição antiga” e que “está acordada pelo menos desde 2014”.

“Eu próprio já organizei, com o Primeiro-ministro [Pedro] Sanchéz e com o Presidente [Emmanuel] Macron, em 2018, uma cimeira das interconexões aqui em Portugal, onde foram assumidos um conjunto de compromissos”, explicou Costa.

Contudo, admite que “essas interconexões têm sido confrontadas com dificuldades”, apontando “as limitações ambientais que a França tem invocado sobre o impacto do gasoduto na travessia do Pirenéus”, e que “isso tem atrasado bastante” a concretização da criação de uma rede de gás que ligue a Península Ibérica ao resto da Europa.

“Desde o início desta crise, que Portugal e Espanha têm insistido que é absolutamente prioritária a construção deste gasoduto, para já para a utilização do gás natural, e no futuro para a utilização do hidrogénio verde”, apontou o Primeiro-ministro, acrescentando que “no período intermédio” poderia ser usado para “uma combinação do hidrogénio verde com o gás natural”.

Costa diz que a Comissão Europeia reconhece a importância de um gasoduto na Península Ibérica e que o plano REPowerEU, para a transição energética da União Europeia, “veio claramente indicar que esta infraestrutura era prioritária e passível de financiamento por parte da União Europeia”.

“Nós temos os trabalhos muito avançados”, garantiu, explicando que o plano para o gasoduto prevê uma estrutura com “cerca de 160 quilómetros entre Celorico da Beira e o ponto da fronteira onde amarramos com a rede espanhola”.

Costa reconhece que “houve dúvidas sobre o traçado e também sobre o impacte ambiental do lado de cá, designadamente sobre a travessia do Vale do Douro, que é uma travessia muito sensível”, mas assegura que “há um traçado que agora está definido que protege os valores ambientais no Vale do Douro”.

“Do nosso lado, as coisas têm vindo a avançar, e de Espanha também”, adiantou, e revelou que “a Comissão Europeia já colocou em cima da mesa de, se não for possível ultrapassar o bloqueio com a França, que o gasoduto possa ter uma ligação direta de Espanha para Itália, de forma a chegar ao centro da Europa”.

Costa salienta que este não é um projeto que interessa somente à Alemanha, mas que também “interessa muito à Polónia, à Hungria, e a todos os países que até agora tinham uma enorme dependência da energia fornecida pela Rússia, e que podem encontrar na Península Ibérica um enorme potencial de fornecimento de energia”.

Apesar de nem Portugal nem Espanha terem gás natural, “podemos ser interfaces e porta de entrada seja do gás natural”. No seu conjunto, “a Península Ibérica tem capacidade para substituir grande parte do gás que hoje a Europa central importa da Rússia”, afiançou.

Contudo, “como um gasoduto não se constrói de hoje para amanhã”, Costa afirmou que Portugal já apresentou a Bruxelas proposta para usar o Porto de Sines “como plataforma logística que acelere a distribuição de gás natural por via marítima para os portos do norte e centro da Europa”. E explica que o Porto de Sines, de águas profundas, tem capacidade para receber grandes metaneiros.

“A boa notícia é que a Europa finalmente ganhou consciência de que tem de ser independente da energia russa” e que “a Península Ibérica, designadamente Portugal, tem um papel extraordinário que pode desempenhar”, avançou.

 

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