Os termómetros das Bolsas
PSI 20, Dow Jones, Nikkei, Euro Stoxx, são nomes que a intensa actividade das Bolsas e dos mercados financeiros tornaram familiares à maior parte de nós. Mas o que é afinal um índice de Bolsa? Quais os principais índices? Para que servem, afinal? Miguel Gomes da Silva, director da Sala de Mercados da Caixa Económica Montepio Geral, dá as respostas
Falar em mercados bolsistas é falar de índices e praças financeiras. Cada praça financeira pode ter mais do que uma Bolsa de Valores, assim como cada Bolsa tem normalmente mais do que um índice de referência.
O conceito de índice associado a um cabaz de activos financeiros consiste num grupo de activos – acções, obrigações, mercadorias ou divisas – que, em conjunto e com pesos diferentes, consoante a sua importância, volume ou capitalização bolsista, concorrem para a construção de um indicador de referência – o benchmark.
Os índices são por norma medidos em pontos de índice e a sua variação é influenciada pela oscilação dos preços dos activos que os compõem. Quando nos referimos a pesos pesados, estamos a evocar os activos que possuem maior peso relativo, tendo um grau mais elevado de influência no comportamento positivo ou negativo do índice ou índices a que pertencem.
É comum um activo integrar mais do que um índice, seja uma acção, obrigação, mercadoria ou um par de divisas. Índices como o Dow Jones 30, o S&P 500 e o Nasdaq, nos Estados Unidos, ou o Euro Stoxx 50 e o Stoxx 600, na Europa, possuem alguma redundância de empresas cotadas. São sobretudo as acções com maior capitalização bolsista que tendem a integrar os diferentes índices de referência, também designados por benchmarks.
Existe uma panóplia infindável de índices, segmentados por áreas geográficas, sectores de actividade ou tema. A actividade de construção destes indicadores de referência é um negócio, ele próprio cotado em Bolsa em alguns casos. A utilização por parte de gestores de fundos que seguem índices, designados por trackers, por replicarem a sua composição, é frequentemente alvo do pagamento de direitos, de forma semelhante a uma marca registada. A proliferação da comercialização de índices assumiu uma dimensão em escala crescente, com a vulgarização dos ETFs e dos CFDs.
A dimensão e a importância das empresas cotadas, aliada a uma activa participação no mercado accionista dos investidores norte-americanos, são alguns dos factores que explicam a importância dos índices de acções dos Estados Unidos para o mundo dos mercados financeiros. A forte e competitiva economia empresarial dos Estados Unidos reflecte-se num mercado bolsista dinâmico e atractivo. Vejamos então o que representam os três índices mais conhecidos de acções.
Dow Jones
O Dow Jones congrega as 30 maiores empresas industriais norte-americanas, transaccionadas na New York Stock Exchange (NYSE), a Bolsa de Valores de Nova Iorque. Os seus 30 componentes são, por excelência, os títulos mais líquidos e com maior volume de transacções. Estão presentes em qualquer fundo ou carteira de investimento em acções americanas. Já terá ouvido por certo a expressão “The dogs of the Dow”, que se refere às 10 empresas com melhor dividend yield entre as 30 do Dow Jones Industrial Average.
Nasdaq
O Nasdaq é, simultaneamente, uma Bolsa de Valores e um índice de empresas tecnológicas. São cerca de três mil empresas de dimensões tão variadas, como uma Microsoft ou um pequeno site de venda de comida para animais… Aqui, é preciso separar o trigo do joio, dados os reduzidos requisitos que são necessários para ter uma empresa admitida à cotação no Nasdaq.
Talvez seja mais prudente olhar apenas para as empresas que integram o Nasdaq 100, que é um índice mais restrito, do qual fazem parte as 100 empresas não financeiras com maior volume de negociação, capitalização bolsista e, consequentemente, maior liquidez. É este Nasdaq 100 que serve de referência aos futuros do Nasdaq e que tanta importância tem nas manhãs europeias, quando as Bolsas do continente americano estão ainda encerradas. A sua negociação é praticamente contínua, durante os períodos horários de laboração nos cinco continentes.
S&P 500
Criado pela agência de rating Standard & Poors, com o objectivo de reunir num índice mais alargado as 500 maiores empresas norte-americanas, rapidamente foi adoptado pelos profissionais como referência ou, utilizando a linguagem de mercado, benchmark. Recorrentemente serve de comparação ao desempenho dos gestores de carteiras ou fundos de acções norte-americanas, podendo estas estar acima ou abaixo do benchmark, ou seja, ter uma melhor ou pior rendibilidade que o índice de referência.
O investimento em instrumentos que replicam índices, como os ETFs e CFDs, permite possuir uma exposição diversificada a vários mercados e activos, sem a necessidade de comprar cada um dos seus componentes em separado. Além do factor diversificação do investimento, há que pesar também a questão dos custos de transacção associados, que seriam bastante elevados caso se pretendesse deter uma carteira com cada um dos activos subjacentes em separado, permanentemente ajustada ao peso relativo de cada um.
Índices para todas as causas e credos
Em simultâneo com a existência dos índices bolsistas generalistas, podemos ainda considerar os índices sectoriais, que agrupam num mesmo cabaz as empresas que actuam na mesma área de negócio (sector). Assim, é possível conhecer de forma isolada apenas o desempenho das sociedades financeiras, das empresas de construção ou das tecnológicas, entre outras. É uma questão de escolha. Com a globalização do investimento, tornou-se necessário adequar a exposição a uma carteira de acções ao perfil do investidor, que pode possuir restrições de índole religiosa, ambiental ou de objecção de consciência. Daqui resultou a necessidade de criar índices específicos e temáticos, por exemplo, para poder proporcionar uma referência dinâmica, através da selecção de empresas que pagam dividendos elevados, ou que seguem determinados critérios de governance.
Perante o crescimento da consciência ambiental e pacifista, surgiu igualmente a necessidade de oferecer um benchmark aos investidores que não queiram comprar acções de empresas com ligações à produção de material bélico, ou a empresas que não possuam uma política de respeito pelo ambiente. As preocupações ambientais estão na ordem do dia e condicionam o investimento de muitos gestores, que optam por excluir das suas carteiras acções de empresas inimigas do ambiente.
Ainda nesta lógica de selecção discricionária de componentes de um índice, encontramos a temática religiosa. Existem índices construídos à imagem de investidores cristãos ou islâmicos, por exemplo.
Para quem negoceia na Bolsa, mesmo que seja apenas na portuguesa, é importante conhecer quais as principais Bolsas mundiais e respectivos índices. Neste artigo, listam-se alguns dos mais importantes índices e respectivas praças financeiras, assim como as principais empresas nelas cotadas. O critério de escolha das praças financeiras e empresas que constam do quadro baseou-se na importância que possuem na estrutura da economia mundial. Estas empresas integram seguramente parte dos portefólios de quase todos os grandes investidores em acções que, além das apostas que fazem em empresas de menor capitalização bolsista, não prescindem de ter em carteira os verdadeiros players do mercado accionista. Os últimos anos têm obrigado a alterações na composição dos índices, devido à perda de valor de alguns títulos.
Um mercado onde o sol nunca se põe
O século XXI veio tornar mais claro que o papel dominante dos Estados Unidos e da Europa no panorama económico mundial tem os dias contados. Novos países têm assumido um protagonismo cada vez mais relevante, aproximando–se do nível de desenvolvimento dos países ditos industrializados.
Apesar de serem ainda referenciadas como economias emergentes, a China, o Brasil, a Rússia, a Índia e a região do Médio Oriente têm-se aproximado dos países mais desenvolvidos, apresentando taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) bem acima destes, ao mesmo tempo que vão melhorando os indicadores qualitativos de carácter social, ambiental e respeito pelos direitos humanos.
Simultaneamente, a rápida ascensão do preço das matérias-primas, como os cereais, o petróleo, o gás natural, o volfrâmio, o carvão ou o cobre, catapultaram os países ricos nestes recursos para o palco económico mundial. O continente africano começa agora a fornecer novos países para o grupo das economias emergentes, apesar do muito trabalho que há ainda a desenvolver no campo social e humanitário. Enquanto a Europa e os Estados Unidos dormem, os mercados asiáticos e australiano movimentam milhares de milhões de ienes japoneses, yuans chineses, dólares de Hong Kong ou australianos, por exemplo, entre os participativos investidores orientais.
ETF
É a abreviatura de Exchange Traded Fund, que é uma unidade negociável na Bolsa de Valores, como se fosse uma acção, mas que é uma quota de um fundo de investimento.
Os ETFs surgiram no fim da década de 80 nos EUA e hoje são uma das maiores classes de activos da indústria de investimentos mundial, além de serem dos mais negociados em várias praças financeiras. Inicialmente limitavam-se a replicar um determinado índice de acções de um único mercado, mas, com o desenvolvimento da indústria, surgiram ETFs que replicam índices de acções de vários países ou regiões, índices de Renda Fixa (Obrigações), índices de commodities (mercadorias), ou até commodities isoladas, como ouro e petróleo.
Apesar de a maioria dos ETFs ainda hoje serem indexados, há também no mercado internacional ETFs com gestão activa, além de ETFs alavancados, que buscam reproduzir a rentabilidade diária de um benchmark multiplicada por um factor (por exemplo, 1,5, 2 ou mesmo x-1, no caso de ETFs short).
Ao contrário dos fundos fechados tradicionais, os ETFs são fundos de capital aberto, podendo ter emissões (reforços) ou liquidação de quotas, de acordo com a procura. A montagem e desmontagem são feitas por instituições financeiras credenciadas pelos administradores de cada um destes produtos, conhecidas como agentes autorizados, e só podem ser realizadas em múltiplos pré-determinados de quotas, que correspondem a uma unidade de criação/liquidação. Essas unidades podem ser trocadas por cabazes de activos (modelo in-kind) ou por dinheiro (modelo de cash creation).
Quanto à sua composição, os ETFs podem ter na sua carteira os activos que compõem os índices que replicam, um modelo mais comum no mercado americano, ou derivativos, como futuros e swaps, conhecidos como sintéticos e mais comuns nos mercados europeus.
CFD
Sigla de Contract for Difference (Contrato por Diferença). É um produto financeiro que permite aproveitar os movimentos no preço das divisas, mercadorias, valores mobiliários, como acções e índices estrangeiros, sem comprar ou vender. Isto significa que, se comprar um Contrato por Diferença (CFD) de uma empresa, não estará a comprar o número correspondente de acções, mas terá a oportunidade de ganhar ou perder com a diferença entre preço de compra e venda, como se o tivesse feito.
Por exemplo, se a cotação das acções da empresa for de 10 euros e comprar um CFD de 150 acções, se o preço baixar para 9,50 euros, terá uma perda de 75 euros, correspondente a 50 cêntimos por acção. Se, pelo contrário, a cotação subir para 10,5 euros, a mais-valia será de igual valor.
Embora o Contrato por Diferença (CFD) seja um instrumento de investimento e não um activo, este dá ao proprietário certos direitos que os proprietários do activo base também têm, como o direito a receber dividendos, de divisão ou fusão do capital accionista.
Em contrapartida, os CFD não dão direito à propriedade dos activos da empresa, nem a votar nas Assembleias Gerais, não são transferíveis, nem podem ser negociados em mercados regulados. Os geradores de mercado que oferecem estes instrumentos têm o direito de fechar posições dos seus clientes, se o considerarem necessário.
As transacções de CFD terminam no dia em que são fechadas.
À semelhança das acções, também as Obrigações de empresas e de Estados soberanos são utilizadas como constituintes de índices, que servem de referência à evolução dos spreads de crédito e de taxa de juro nos mercados financeiros.
Nesta classe de activos estão índices com repartições geográficas e sectoriais e a sua evolução, medida em pontos de índice ou spread de crédito, permitindo avaliar a todo o momento a variação das taxas de juro a que empresas e Estados se financiam.
Os índices sobre Obrigações são indexados às respectivas taxas de juro, ou seja, sobem quando as taxas sobem e descem quando as taxas descem, como é o caso do IBOXX. Podem ainda ser indexados às variações dos CDSs (Credit Default Swaps), como acontece com o ITRAXX e o XOVER. Na prática, quando o ITRAXX ou o XOVER sobem, é sinal que aumentou a percepção de risco pelo mercado. O IBOXX pode reflectir as variações em preço ou em taxa de juro, dividindo-se em dois tipos com variações diametralmente opostas, mas com o mesmo significado, devido à relação inversa entre preços e taxas de juro nas Obrigações. O mais utilizado é o IBOXX, que evidencia as variações da taxa de juro, subindo quando o preço das Obrigações desce.
De olho nos Estados soberanos…
Ouve-se falar, de forma recorrente, da subida e descida das taxas de juro da dívida pública, não só a portuguesa, mas também italiana, espanhola, alemã ou francesa, por exemplo. Esta oscilação de taxas é reflectida no preço a que as respectivas Obrigações são transaccionadas e consequentemente passível de ser espelhada num índice.
É possível encontrar índices sobre Estados soberanos em geral, onde naturalmente se reflecte a evolução das taxas de juro de médio e longo prazo, pois o maior peso no índice pertence a países com menor risco associado, em que a yield incorpora quase que apenas a expectativa sobre a evolução das taxas de juro – são os denominados países core. Se houver a percepção por parte do mercado de um aumento da taxa de inflação na Europa e América do Norte, o índice IBOXX Sovereings sobe, acompanhando as taxas de juro. Paralelamente, se aumentar a incerteza nos mercados financeiros e os investidores ganharem uma maior aversão ao risco, tendem a refugiar-se em Obrigações de países core, fazendo baixar as yields destes países e consequentemente do valor do IBOXX Sovereigns.
… e nas empresas
A lógica subjacente a estes índices é semelhante à dos Estados soberanos, com uma importante nuance – os spreads de crédito. Nas empresas, o custo do financiamento é avaliado por referência a uma taxa de juro de mercado, que pode ser a Euribor ou a taxa Swap, por exemplo. Desta forma, o que é relevante nas yields de Obrigações é o spread que a empresa paga para contrair um empréstimo obrigacionista. Os índices sobre Obrigações de empresas reflectem a yield-to-maturity, ou seja, a evolução do custo de financiamento que um determinado cabaz de Obrigações regista em mercado secundário. Quanto maior a subida do índice, maior a percepção de risco dos investidores, mais caro tenderá a ser o preço a pagar pelo crédito. O índice mais conhecido neste âmbito é o IBOXX e pode ser transaccionado como um normal instrumento financeiro. É possível negociar o IBOXX geral ou os vários IBOXX sectoriais. Ao todo são cerca de 20 sectores disponíveis para negociar.
Os índices europeus
No caso das acções europeias, o índice mais vulgarmente utilizado como referência é o Euro Stoxx 50, do qual fazem parte as 50 maiores empresas de países da Zona Euro. Existem ainda outros índices de acções europeias, como o Stoxx Europe 600, constituído por um maior leque de empresas, além dos índices sectoriais, como o tecnológico, o industrial ou o farmacêutico, por exemplo. Assumem igualmente um papel importante os índices nacionais das maiores economias europeias, como o DAX na Alemanha, o CAC em França, o Footsie em Inglaterra ou o IBEX em Espanha.
Empresas como a Toyota e a Sony, cotadas na Bolsa de Tóquio, o grupo financeiro HSBC, negociado na Bolsa de Hong Kong, ou a China Mobile e Petro- China, na Bolsa chinesa, movimentam milhões de acções por sessão. Aquando do seu encerramento, cerca das 8h00 da manhã na Europa, é inevitável, pelo efeito da globalização, o impacto que o comportamento destes mercados vai ter na abertura das Bolsas europeias.
O investimento em índices asiáticos, através de ETFs, por exemplo, tem atraído um número crescente de investidores. Hoje é fundamental possuir uma carteira de investimento devidamente diversificada geograficamente. O investimento em índices de países como a China, a Índia ou a Austrália permite, de forma simples, balancear uma gestão de património, dispersando o risco e potenciando o retorno destas economias, com elevado potencial de crescimento ou exposição ao mercado de matérias-primas.
A utilização dos índices na diversificação do investimento é uma forma expedita de reduzir o risco de uma carteira, distribuindo o seu dinheiro por vários países e sectores de actividade.
Quem não quer tomar uma decisão, optando por este ou por aquele país, tem à disposição índices globais à escala mundial, como MSCI World ou o Stoxx Global Total Market, que permitem ter a sensação de ser dono de uma pequena parte de quase todas as empresas cotadas no mundo.
Artigo publicado na revista Risco n.º 4 de Fevereiro de 2017