Randstad Insight: Tempo: recurso valioso e não renovável
Por Inês Casaca | Randstad enterprise associate director da Randstad Portugal
Vivemos tempos acelerados, as pessoas procuram soluções rápidas e eficazes, procuram ganhar tempo, tempo esse que nunca é suficiente.
Recentemente a BBC noticiou que em 2023, na plataforma Spotify, quase dois terços dos ouvintes aceleraram as versões originais de músicas e um terço fez o mesmo com podcasts; os motivos podem ser variados, mas ser mais rápido é claramente um deles.
O tempo não pára e tem ritmos diferentes consoante a fase em que nos encontramos. O período de férias é normalmente vivido em slow motion, quando comparado com a rotina do dia-a-dia e o regresso implica uma nova adaptação.
Setembro revela-se, assim, cada vez mais, um mês de recomeços; as “férias grandes” ajudam a refrescar planos e a renovar motivação. Regressar ao trabalho pressupõe recomeçar, adoptar novos ritmos e redefinir ou criar novos planos. No ano passado, segundo o estudo Randstad Employer Brand Research, 68% das pessoas desejavam ter mais oportunidades de carreira e progressão nas empresas onde trabalham. A rapidez dos processos e da mudança está muitas vezes condicionada pelo surgimento da oportunidade certa no tempo certo. Esperar que surja, desresponsabiliza quem espera, mas também lhe retira iniciativa e autonomia. As empresas dificilmente conseguem apresentar novas oportunidades a toda a estrutura, mas cabe a cada um de nós assumir o que nos motiva e comunicá-lo.
No mundo ideal a resposta virá ao encontro das nossas expectativas, no mundo real, haverá desfasamento. Assim sendo, a aposta em formação poderá ser a estratégia para pessoas e empresas, suportando momentos desafiantes como os que vivemos, em que a atracção, retenção e progressão são factores decisivos. Contudo, a solução para tamanho desafio não pode ser uma só; desenvolver programas longos, complexos, transversais, que se revelem opção para todos em simultâneo, pode ser só uma simples fuga para a frente, em que se perde o foco e se erra a meta, em que se sobrevive.
Se o tempo é valioso, utilizá-lo de forma eficaz é o segredo para que, no final, o saldo seja positivo. Personalizar programas/ soluções de formação, torná-los materializáveis e, acima de tudo, mensuráveis é fundamental e urgente. Às pessoas cabe a responsabilidade de antecipação, preparação e comunicação do caminho que gostariam de tomar; as empresas, por seu lado, serão responsáveis por disponibilizar as ferramentas, criar as condições e desafiar as pessoas.
Pretende-se, essencialmente, que a troca seja justa, que ambas as partes saiam a ganhar no final. Por este motivo, as empresas têm que desenvolver estratégias que lhes permitam responder a cada pessoa? Não, as empresas devem integrar pessoas que se identifiquem com o que a empresa tem para dar em troca, e não para oferecer. A proposta da empresa é por vezes designada como “oferta”, o que pressupõe erroneamente uma relação unilateral de entrega; o que a empresa apresenta são condições, em troca de know-how, ética, dedicação e acima de tudo, de tempo.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 222 de Setembro de 2024