Randstad Insight: Reset
Por José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal
Chegou a silly season. A altura do ano em que parece que o país é colocado on hold, os out-of-office tornam-se mais recorrentes, as reuniões semanais são canceladas para retomarem em Setembro e onde há mais tempo para parar, pensar e repensar sobre as decisões que foram tomadas. É altura de fazer um reset. Mas nos dias em que vivemos, somos na verdade capazes de o fazer?
Na semana em que é adoptada a resolução do Parlamento Europeu sobre a saúde mental no mundo do trabalho digital, traz à tona novamente o debate sobre o direito a desligar. Mas mais do que um direito ou um dever de todos nós, tem de ser visto como uma prioridade, sublinhando a necessidade de se fazer mais para proteger a saúde mental através da adopção de estratégias e directrizes transversais para toda a Europa.
Desengane-se quem afirma que falar em saúde mental é uma moda da pandemia! É verdade que toda a crise económica e social desencadeada pela COVID-19 veio trazer uma maior pressão sobre o bem-estar dos cidadãos, um bem-estar físico mas também mental, aumentando taxas de stress, ansiedade e depressão. Segundo o relatório do Parlamento Europeu datado de 5 de Julho deste ano, 64% dos jovens entre os 18 e os 34 anos encontravam-se em risco de depressão em 2021, devido tanto à falta de emprego e de perspectivas financeiras e educacionais, como à solidão e ao isolamento social. E estes são dados que não podem ser ignorados! Se juntarmos os resultados do Workmonitor Randstad ou mesmo do Randstad Employer Brand Research que colocam a conciliação vida pessoal/vida profissional como prioridade para os profissionais não só em Portugal mas a nível mundial, é urgente pensar e agir sobre este tema.
E a quem devemos atribuir esta responsabilidade? A todos nós! Nós empresas, nós lideranças, nós trabalhadores, nós pessoas! Mais do que falar em leis, em regulamentar, é preciso falar em mudança de paradigmas, reconhecer que é errado um dia de trabalho não ter fim e assumir o out-of-office sem medo! Habituamo-nos a viver desta forma, não reconhecendo o quão importante é parar e os efeitos nocivos que esta forma de estar tem também na nossa vida profissional, com real impacto na nossa produtividade. Queremos assumir um culpado, e atiramos a culpa para os novos modelos de trabalho, remoto ou híbrido, mas, nos modelos presenciais não temos também sempre o telefone à mão disponível para um email ou uma chamada?
Reset, verbo transitivo que significa repor; recolocar; devolver ao devido lugar. Aproveitemos estes meses para fazer um reset. Para ter tempo, tempo para parar, para pensar sem pressas. Que não tenhamos medo de desligar, que sejamos responsáveis por tomar conta do nosso tempo em família e que estejamos presentes sem necessidade de adiar mais um almoço ou jantar por falta de tempo. Que este seja o tempo em que, finalmente, temos tempo para ter tempo!
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 196 de Julho de 2022