Randstad Insight: O paradoxo de janeiro

Por José Miguel Leonardo | CEO da Randstad Portugal

Este é um início de ano atípico. Desde 2022 que sabemos o que “nos espera” com notícias e previsões que marcam a incerteza e fragilidade do cenário sócio-económico.
É um arranque lento, inseguro e conservador, segundo os especialistas. Mas no que toca ao mercado de trabalho e ao que os profissionais mais procuram, será mesmo este o quadro?
Todos os anos o estudo Workmonitor da Randstad lança as tendências do mercado de trabalho, recaindo em pilares como atitude, expectativas, estabilidade e sentimento de pertença, que os profissionais, tanto a nível global como nacional, destacam.
Se por um lado estas tendências de 2023 são certamente marcadas pela incerteza económica, vemos acima de tudo uma afirmação de que os profissionais estão seguros do que mais valorizam num emprego e estão dispostos a mudar tudo pelos seus ideais.
A verdade é que a força do que acreditam e valorizam está acima de um emprego, quando 41% não aceitaria uma oportunidade de trabalho se a empresa não partilhasse os mesmos valores em questões sociais e ambientais. Mais importante ainda, 44% está disposto a sair de um emprego se não sentir que pertence aquele espaço, aquela equipa. É aqui que as lideranças têm o dever de incluir todos os profissionais, independentemente da experiência ou background. Porque isto também é inclusão, garantir que todos os membros da organização sentem que fazem parte de algo maior, uma missão coletiva.
Mas não falamos só de pertença. Veja-se a importância do bem-estar, factor do qual falamos há já 2 anos, que tão depressa não perderá significado para os profissionais. Isto porque 68% não aceitaria um emprego que colocasse o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal em causa e 39% chega ainda a questionar a permanência num local de trabalho se o mesmo não o deixar aproveitar a vida.
Num ano com foco na segurança e estabilidade, vemos um verdadeiro paradoxo, pois é a felicidade e o bem-estar que determinam as escolhas dos profissionais. Este pode ser um abrir de olhos para as empresas que achavam que esta era uma moda passageira. As organizações devem revisitar as estratégias de atração e retenção dos profissionais para que tenham estes fatores críticos em consideração, aqueles que os colaboradores mais valorizam. E reforço que são fatores críticos e determinantes, pois um profissional está disposto a mudar de local de trabalho pelo que mais valoriza. Esta é a chave da atração e retenção de talentos, porque no final do dia a felicidade das suas pessoas é o segredo para o sucesso do negócio.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 202 de Janeiro de 2023