Randstad Insight: O papel das empresas de recrutamento na sociedade europeia

Em 2015, os países membros das Nações Unidas aprovaram a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, iniciativa que procura atingir 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) num horizonte de 15 anos. Desde então, os avanços experimentados não foram da mesma magnitude em todos os ODS, nem os O papel das empresas de recrutamento na sociedade europeia pontos de partida são iguais em todos os países.

Este estudo tem como objetivo estabelecer uma relação entre o sector das empresas de recrutamento e o seu contributo para o avanço de um subconjunto de ODS nos países da região do euro (só aqueles países com uma população superior a um milhão de habitantes foram considerados). Para alguns ODS é difícil considerar uma relação com a atividade desenvolvida pelas empresas de recrutamento, mas noutros ODS a conexão, pelo menos a priori, poderia ser bastante clara. Mais concretamente, este seria o caso dos seguintes ODS: erradicar a pobreza (ODS 1), educação de qualidade (ODS 4), igualdade de género (ODS 5), trabalho digno (ODS 8) e redução das desigualdades (ODS 10).

A análise desenvolvida neste estudo baseia-se na procura de correlações altas entre a taxa de penetração das empresas de recrutamento e uma seleção de indicadores relacionados com os ODS, nos referidos países. Foram identificadas 12 correlações entre estes indicadores e a participação das empresas de recrutamento nos mercados de trabalho europeus, o que evidencia o papel positivo deste sector no progresso social dos países estudados.

ODS E INDICADORES CONSIDERADOS NO ESTUDO

ERRADICAR A POBREZA

• Pessoas em risco de pobreza ou exclusão social.
• Pessoas em risco de pobreza de rendimentos depois das transferências sociais.
• Taxa de risco da pobreza no trabalho.

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

• Percentagem da população entre os 35 e 44 anos com um nível de educação secundário, superior ou formação profissional.
• Pessoas entre os 45 e 54 anos com competências digitais básicas

IGUALDADE DE GÉNERO

• Crescimento do emprego feminino em apenas 10 anos (2009 -2019).
• Posições de liderança ocupadas por mulheres.

TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÓMICO

• Taxa de emprego dos jovens (16 – 24 anos).
• Taxa de desemprego dos jovens (16 – 24 anos).
• Taxa de desemprego das pessoas com mais de 55 anos.

REDUZIR AS DESIGUALDADES

• Distribuição do rendimento (desigualdade S80/S20).
• Coeficiente de Gini do rendimento disponível equivalente.

O SECTOR DAS EMPRESAS DE RECRUTAMENTO NA EUROPA E A SUA RELAÇÃO COM OS ODS

As empresas de recrutamento são empresas que oferecem diversos serviços e soluções na área dos recursos humanos – desde os relacionados com o trabalho temporário, à seleção de profissionais qualificados e atividades de formação – e operam na União Europeia há muitas décadas, sendo que em alguns países estão activas há mais de 60 anos. O papel mediador das empresas de recrutamento no mercado de trabalho facilita a ligação das necessidades de talento das empresas aos profissionais adequados para satisfazê-las. Isto pode contribuir para aumentar os níveis de emprego, reduzir o desemprego e as desigualdades e avançar nos níveis de desenvolvimento de algumas economias que, em termos comparativos, já possuem padrões de desenvolvimento bastante avançados.

Mas a participação das empresas de recrutamento no mercado de trabalho não é igual em todos os países da União Europeia, mais especificamente, na região do euro. De facto, o intervalo é muito grande entre os países que têm maior protagonismo, ultrapassando uma taxa de penetração de 2%, e os que se encontram no final da fila, com taxas inferiores a 1%.

Portugal encontra-se numa situação de relativo atraso, com uma taxa de penetração de 1,1%, segundo os dados da Confederação Mundial do Emprego (WEC).

Quanto podem as empresas de recrutamento contribuir para a melhoria da situação dos países europeus em termos de progresso na consecução dos principais ODS? A conexão não é muito óbvia em todos os objetivos, mas pelo menos em 5 deles pode esperar-se uma contribuição positiva:

• ODS 1 (erradicar a pobreza): a atividade das empresas de recrutamento facilita o acesso ao trabalho a centenas de milhares de pessoas na Europa, proporcionando-lhes rendimentos suficientes para as afastar dos níveis de pobreza relativa e da exclusão social, conseguindo assim melhorar os resultados do ODS 1.

• ODS 4 (educação de qualidade): uma maior flexibilidade no mercado de trabalho e maiores oportunidades de emprego nos países em que as empresas de recrutamento têm maior presença, faz com que a rentabilidade da formação aumente, o que acaba por implicar maiores níveis de qualificação da população destes países.

• ODS 5 (igualdade de género): a atividade das agências de emprego facilita o acesso ao emprego por parte das mulheres, permite-lhes iniciar as suas carreiras profissionais mais cedo e que as mesmas sejam mais extensas e, por conseguinte, facilita-lhes a progressão profissional, limitando assim as diferenças por sexo que podem ser medidas nos mercados de trabalho europeus.

• ODS 8 (trabalho digno e crescimento económico): o papel desempenhado pelas empresas de recrutamento aproxima os jovens do mercado de trabalho, oferecendo condições de trabalho adequadas e garantias de proteção social. Da mesma forma, também facilita a permanência no mercado de trabalho aos profissionais mais velhos.

• ODS 10 (reduzir as desigualdades): as empresas de recrutamento, ao facilitar o acesso ao trabalho a centenas de milhares de pessoas na Europa, estão a contribuir para aumentar o nível de rendimento destas pessoas, o que reduz as diferenças na distribuição dos rendimentos nestes países.

ERRADICAR A POBREZA

O trabalho é o melhor instrumento para sair da pobreza

O ODS 1 refere-se à erradicação da pobreza em todas as suas manifestações. No contexto europeu, a pobreza está associada a pessoas com baixos salários, desempregadas e com reduzido nível de educação, o que limita as suas opor- tunidades de atingirem todo o seu potencial. A Europa fez progressos importantes na redução do número de pessoas em risco de pobreza. No entanto, como consequência da pandemia, foi registado um ligeiro agravamento desta situação e, em 2021, 22% da população da região do euro encontrava-se em risco de pobreza relativa, 2 pontos acima face a 2019.

No caso de Portugal, para poder fazer uma análise homogénea em relação à região do euro, usam-se dados da Eurostat do ano de 2021, em que a percentagem de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social foi de 22%.

Como empresas socialmente responsáveis, o sector de empresas de recrutamento facilita a intermediação entre profissionais e empresas e possibilita a inserção activa no mercado de trabalho. Assim, é oferecida aos profissionais a oportunidade de melhorar as suas condições de trabalho, o que contribui para a redução da pobreza.

Esta secção faz uma análise da correlação de 3 indicadores relacionados com o ODS 1 (erradicar a pobreza) e a taxa de penetração das empresas de recrutamento. O objetivo é determinar se uma maior penetração das empresas dedicadas à intermediação laboral num país influem no aumento das opções de inserção no mercado de trabalho, reduzindo o risco de pobreza e exclusão social.

Pessoas em risco de pobreza ou exclusão social

Uma das formas mais eficazes de reduzir o risco de pobreza é facilitar o acesso ao mercado de trabalho. Por isso, é natural que naqueles países onde as empresas de recrutamento têm um maior papel, dinamizando a intermediação do trabalho, o risco de pobreza possa ser reduzido.

Segundo a correlação obtida nos países da região do euro, a presença de 1 ponto a mais de penetração das empresas de recrutamento no mercado de trabalho é acompanhada por taxas de pobreza 2,96 pontos mais baixas. No caso de Portugal, uma redução dessa magnitude poderia equivaler a retirar 306,2 mil pessoas de uma situação de risco de pobreza ou exclusão social.

Pessoas em risco de pobreza de rendimentos depois das transferências sociais

A pobreza em rendimentos afeta 18% da população em Portugal, segundo os dados da Eurostat. Isto significa que mais de 1,9 milhões de pessoas têm um rendimento disponível inferior a 60% do rendimento mediano, mesmo após as transferências sociais, que são ajudas sociais estatais ou locais recebidas pelas pessoas mais vulneráveis.

De acordo com a correlação obtida entre este indicador e a taxa de penetração das empresas de recrutamento, para um país em que esta é 1 ponto percentual superior, poderia encontrar-se uma taxa de pobreza (medida em termos da população total do país) 2,35% menor, o que, no caso de Portugal, significaria ter 243,1 mil pessoas a menos em risco de pobreza de rendimentos.

Taxa de risco de pobreza no trabalho

O acesso ao trabalho nem sempre garante o rendimento mínimo de que uma pessoa necessita para as suas necessidades básicas e há pessoas que, apesar de estarem empregadas, não atingem o rendimento mínimo disponível.

Segundo dados da Eurostat de 2021, em Portugal, o número de pessoas empregadas nesta situação é superior a 518 mil pessoas (11% dos empregados). Considerando a correlação encontrada entre a penetração do sector de empresas de recrutamento e a taxa de risco de pobreza no trabalho, se a presença do sector aumenta-se um ponto percentual em Portugal, poderia reduzir-se o número de afetados por esta situação em 149 mil pessoas.

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Uma educação de qualidade garante empregabilidade sustentável

O mercado de trabalho encontra- se num momento de importantes mudanças, onde a escassez de talento, tanto de perfis generalistas como especializados, é cada vez mais acentuada. A aceleração dos processos de digitalização, automatização e robotização contribui para esta situação. Isto implica a transformação de muitos postos de trabalho ou o seu desaparecimento, bem como o aparecimento, em paralelo, de outros novos postos de trabalho.

No contexto europeu, a educação e a formação tornam- -se os principais motores do crescimento económico e do emprego, já que garantem a empregabilidade das pessoas ao longo da sua vida profissional. No ODS 4, a atenção é dada especialmente à aprendizagem dos adultos e às competências digitais, como drivers de outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tais como a pobreza ou a desigualdade.

Um pilar fundamental da empregabilidade sustentável é a educação. Esta serve para adquirir os conhecimentos necessários, desenvolver competências suficientes e gerar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, especialmente para determinadas faixas etárias. Esta secção verifica se há correlação entre esses indicadores e a presença do sector das empresas de recrutamentos no mercado de trabalho.

Percentagem da população entre os 35 e 44 anos com estudos a nível de ensino secundário, superior ou formação profissional (F.P.)

O nível elevado de qualificação dos profissionais tem uma importância crucial para melhorar e desenvolver novas competências e conhecimentos, o que os permite manter a sua empregabilidade ao longo da sua vida profissional. As pessoas com altos níveis de educação têm melhores taxas de atividade e emprego e menores taxas de desemprego. Os estudos ligados à formação profissional (F.P.) ou à universidade são os que melhor qualificam para o trabalho.

Em Portugal a proporção de profissionais com baixo nível de escolaridade supera a média europeia. Na faixa etária compreendida entre os 35 e os 44 anos, por exemplo, quase 53% das pessoas não têm formação universitária nem profissional, enquanto que na UE a proporção é de apenas 27%. Já os que têm ensino secundário, superior ou formação profissional são apenas 12% em Portugal, face à média de 34% em média.

O problema está na grande diferença observada na empregabilidade que ter estudos de F.P. supõe para um trabalhador, em relação à alternativa de permanecer em níveis anteriores de escolaridade.

Uma melhor intermediação laboral, graças a uma maior presença das empresas de recrutamento no mercado de trabalho, que facilita o acesso ao emprego e permite um melhor aproveitamento da formação adquirida anteriormente, está correlacionada positivamente a uma população com maior nível de escolaridade. Um aumento de 1 ponto percentual na taxa de penetração do sector de empresas de recrutamento traz consigo uma proporção de 7,3 pontos a mais no número de pessoas com este nível de estudos. Isso, em Portugal, significaria um aumento de 102,7 mil pessoas entre os 35 e os 44 anos com esse nível educacional.

Pessoas entre 45 e 54 anos com nível de competências digitais básicas

Num mundo movido pela digitalização é prioritário adquirir certas competências digitais que impactam no trabalho, na empregabilidade e na sociedade.

De acordo com o último Índice de Economia e Sociedade Digital (DESI), da Comissão Europeia, 45% da população portuguesa ainda não tem competências digitais básicas.

Um dos grupos com maior dificuldade para adquirir essas competências são os grupos de maior idade. Em Portugal, 45% da população entre os 45 e 54 anos (851,3 mil pessoas) conta com um nível de competências digitais que se situa abaixo do nível básico, o que dificulta a sua empregabilidade..

Adquirir essas competências é prioritário para a adaptação deste grupo de idade às necessidades do mercado de trabalho, para assim aumentar, de maneira relevante, as suas oportunidades de obter um emprego.

Os países europeus onde as empresas de recrutamento estão mais implementadas têm mais oportunidades de emprego, pelo que é possível observar que um aumento de 1 ponto percentual na penetração destas agências poderia incrementar em 3,8 pontos a proporção de pessoas dos 45 aos 54 anos com, pelo menos, competências digitais básicas. Em Portugal, esse aumento seria equivalente a 59,3 mil pessoas a mais com essas competências.

IGUALDADE DE GÉNERO

Igualdade nas oportunidades de emprego

O ODS 5 tem como objetivo obter a plena participação das mulheres no mercado de trabalho e nas oportunidades de liderança em todos os níveis de tomada de decisão (níveis diretivos). O aprimoramento da educação e o desenvolvimento de competências adequadas permitem ter acesso a trabalhos de mais qualidade e obter uma maior presença no mercado de trabalho. No período de 10 anos (2009 – 2019), na Europa, o crescimento do emprego feminino foi 4,5% menor que o crescimento total em Portugal, que foi de 5,3%.

Uma rápida incorporação no mercado de trabalho de mulheres com altos níveis de qualificação tem uma consequência direta no desenvolvimento de carreiras profissionais mais longas e com maiores oportunidades de acesso aos postos de direcção. Segundo os dados de 2021, quase um terço dos postos de alta direcção das grandes empresas portuguesas estavam ocupados por mulheres.

Neste segmento analisa-se, para os países da região do euro, a correlação dos indicadores relacionados com o ODS 5 e a taxa de penetração das empresas de recrutamento, com o objetivo de determinar se uma maior penetração destas empresas num país influencia uma maior presença de mulheres no mercado de trabalho e um maior acesso a postos de gestão.

CRESCIMENTO DO EMPREGO FEMININO ENTRE 2009 E 2019

Para fazer esta análise foram usados os dados de emprego feminino e as suas taxas de crescimento entre os anos 2009 e 2019 da Eurostat. Por se tratar de um período de 10 anos, o objetivo é evitar os resultados do efeito que a pandemia teve no emprego nos últimos anos.

Garantir maior presença da mulher no emprego é uma das metas do ODS 5. Em Portugal, a incorporação da mulher no mercado de trabalho cresceu, ano após ano, e entre 2009 e 2019 o crescimento do número de mulheres empregadas foi de 5,36%.

Ao mesmo tempo, é detetada uma correlação positiva entre a maior participação das empresas de recrutamento no mercado de trabalho e o crescimento do emprego feminino nos países da região do euro. Segundo essa correlação, um país que tenha um ponto acima na taxa de penetração das empresas de recrutamento relativamente a outro teria tido um crescimento do emprego feminino na última década de 2,75 pontos acima. No caso de Portugal, seria equivalente a ter 68 mil profissionais empregadas, a mais, até 2019.

POSIÇÕES DE LIDERANÇA QUE SÃO OCUPADAS POR MULHERES

O Instituto Europeu para a Igualdade de Género publica um indicador da distribuição dos cargos de alta direcção (presidência e comité gestor) de grandes empresas da União Europeia. No caso de Portugal, são analisadas as empresas do PSI 20.

De acordo com este indicador, em 2021, 31% dos membros da alta direcção de empresas do PSI 20 eram mulheres. A correlação internacional mostra que nos países com maior presença das empresas de recrutamento no mercado de trabalho, que coincidem também com os países com maior presença neste sector ao longo do tempo, as mulheres conseguem ter carreiras profissionais mais longas e atingir mais cargos de alta gestão.

Aumentar um ponto percentual na participação do sector poderia elevar o peso das mulheres nos cargos de alta gestão, a médio prazo, até 4,5%.

TRABALHO DIGNO

Não deixar ninguém para trás com mais oportunidades laborais

O mercado de trabalho, imerso em profundas mudanças, deve continuar a gerar oportunidades de trabalho para todos, especialmente para os grupos mais vulneráveis, como os jovens menos qualificados ou os profissionais com mais de 55 anos. Não deixar ninguém para trás significa contar com todo o talento potencial de uma sociedade, facilitando o acesso ao mercado de trabalho dos mais jovens ou a permanência, nele, dos grupos mais velhos. O sector das empresas de recrutamento, no seu papel como protagonista da intermediação laboral e facilitador do encontro entre a oferta e a procura, gera uma multiplicidade de oportunidades de trabalho para profissionais de todas as idades, pelo que pode ser um agente fundamental na consecução dos objetivos principais vinculada ao ODS 4.

TAXA DE EMPREGO DOS JOVENS (16 – 24 ANOS)

Em Portugal, segundo dados de Eurostat de 2021, estavam empregados, aproximadamente, 248 mil jovens, o que é equivalente a uma taxa de emprego de 23%, muito distante dos 34% da região do euro. Então, até que ponto a falta de oportunidades de trabalho para a população mais jovem poderá ser explicada pela menor participação do sector das empresas de recrutamento no mercado de trabalho?

A correlação obtida reflete que os países com maior protagonismo no sector apresentam taxas de emprego juvenil mais elevadas. Um aumento na taxa de penetração do sector de 1 ponto é igual a um aumento de 6,1 pontos na taxa de emprego dos jovens. Em Portugal, este aumento significaria um acréscimo de cerca de 66,5 mil profissionais jovens empregados.

TAXA DE DESEMPREGO DOS JOVENS (16 – 24 ANOS)

A taxa de desemprego dos jovens em Portugal situou- se nos 23% em 2021, estando 6 pontos percentuais acima da taxa média da região do euro, que se situa nos 17%, segundo os dados da Eurostat. É sistematicamente observado que um papel mais preponderante das empresas de recrutamento no mercado de trabalho nos países da região do euro é por taxas mais baixas de desemprego juvenil. Pela correlação obtida entre os dois, percebe-se que um ponto adicional na taxa de penetração do sector poderia reduzir a taxa de desemprego juvenil em 3,7 pontos. Em Portugal, uma redução desta magnitude seria equivalente a um decréscimo no desemprego jovem de cerca de 12,1 mil profissionais.

TAXA DE DESEMPREGO DOS MAIORES DE 55 ANOS

Segundo os dados da Eurostat, o número de desempregados com mais de 55 anos foi de 46 mil pessoas em Portugal, em 2021, e a sua taxa de desemprego foi de 5%, sendo um pouco menor que a média da região do euro para essa faixa etária.

Um maior número de oportunidades de emprego oferecidas por um mercado de trabalho dinâmico, ligado às empresas de recrutamento, pode contribuir para reduzir essa taxa de desemprego.

De acordo com esta correlação, uma diferença de um ponto na taxa de penetração destas agências implicaria uma diferença de 1,65 pontos na taxa de desemprego de profissionais mais velhos. Em Portugal, uma taxa de desemprego deste grupo populacional dois pontos menor, significaria reduzir o desemprego dos profissionais maiores de 55 anos em 14,5 mil pessoas.

REDUZIR AS DESIGUALDADES

Gerar oportunidades de trabalho para reduzir as desigualdades

Segundo o relatório apresentado pelo Banco Mundial em 2022, World Inequality, as desigualdades no mundo cresceram nos últimos anos e a pandemia causada pelo COVID-19 ilustra esta situação de forma mais clara.

Um dos indicadores que mede a desigualdade, segundo dados do Eurostat, é o rácio entre a distribuição do rendimento e a população. Na União Europeia, este rácio piorou ligeiramente e passou de 4,99, em 2019, para 5,25 em 2020. Isto significa que em 2020, a quota de rendimento dos 20% mais ricos da população da UE era mais de cinco vezes superior à dos 20% mais pobres. Esse aumento da desigualdade significa deixar muito potencial humano sem as oportunidades necessárias para atingir as suas capacidades máximas.

Ter um mercado de trabalho que aumente as oportunidades para todos os profissionais sem deixar ninguém para trás, a partir de um maior destaque das empresas de recrutamento, pode contribuir para reduzir essas desigualdades na distribuição de rendimentos.

Distribuição de rendimentos (desigualdade S80/S20)

Existe uma estreita relação entre maior acesso ao mercado de trabalho e redução dos níveis de desigualdade. Situações de desemprego geram insegurança económica e baixos rendimentos. Portanto, quando num país o mercado de trabalho não funciona com eficiência e reduz as oportunidades de trabalho, principalmente para pessoas com maiores dificuldades de acesso ao emprego, os riscos de pobreza e desigualdade aumentam exponencialmente. Estes fatores podem ser mitigados com um papel mais prevalecente das empresas de recrutamento.

De acordo com o indicador analisado, em Portugal, o rendimento das pessoas com rendimentos mais elevados (situados no quintil de rendimento superior) é 5,66 vezes superior ao das pessoas com rendimentos mais baixos (quintil de rendimento inferior).

De acordo com a correlação obtida na região do Euro, o aumento de 1 ponto percentual no papel do sector das empresas de recrutamento poderia reduzir em 7,1 décimos o índice de desigualdade de rendimentos entre os quintis extremos da distribuição de rendimentos (de 5,66 para 4,95).

Coeficiente de Gini do rendimento disponível equivalente

O coeficiente de Gini é um indicador muito utilizado para medir a desigualdade na distribuição de rendimentos. Este indicador, cujo valor se situa entre 0 (máxima igualdade) e 100 (máxima desigualdade), fixou-se, em Portugal, nos 33 pontos em 2021, 3 pontos acima do correspondente na região do euro (30 pontos).

A correlação reflete que uma maior participação do sector das empresas de recrutamento no mercado de trabalho vem acompanhada de uma redução desse indicador de desigualdade. Por cada ponto percentual adicional da presença do sector, o coeficiente de Gini é 2,7 pontos mais baixo. No caso de Portugal, isso poderia significar ver o coeficiente reduzido dos 33 para os 30,3 pontos.

Um incremento de 1 ponto percentual na participação das empresas de recrutamento no mercado de trabalho português poderia significar:

ERRADICAR A POBREZA

• 306,2 mil pessoas a menos em risco de pobreza ou exclusão.
• 243,1 mil pessoas a menos em risco de pobreza de rendimentos.
• 149 mil pessoas a menos em risco de pobreza no trabalho.

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

• 102,7 mil pessoas, entre os 34 e os 44 anos, a mais com estudos de nível secundário, superior ou FP.
• 59,3 mil pessoas entre os 45 e os 54 anos melhorariam o seu nível de competências digitais básicas.

IGUALDADE DE GÉNERO

• 86 mil mulheres empregadas a mais até 2019.
• 4,5% de aumento de mulheres em posições de liderança.

TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÓMICO

• 66,5 mil jovens a mais com emprego.
• 12,1 mil jovens desempregados a menos.
• 14,5 mil pessoas com mais de 55 anos deixariam de estar desempregadas.

REDUZIR AS DESIGUALDADES

• 7,1 décimos de redução na diferença de rendimentos entre os quintis mais ricos e os mais pobres (de 5,66 para 4,95).
• o coeficiente de Gini poderia ser reduzido para 30,3 pontos.

 

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 209 de Agosto de 2023

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