Randstad Insight: Feliz são aqueles

Por David Ferreira | Director de Staffing & Inhouse, Randstad Portugal

O mundo mudou, mudou muito… ainda assim, não acredito que tenhamos duas vidas distintas. Que sejamos um tipo de pessoa no contexto de trabalho e uma outra completamente diferente em casa, e muito menos, que uma não afete directamente a outra.
Por muito self awareness, controlo e esforço, se algo não corre bem na dinâmica da nossa vida profissional, isso vai mesmo acabar por ter impacto na nossa vida pessoal e vice-versa. Com este mote, não posso dizer que deixamos de executar as nossas tarefas e funções com a mesma determinação e intensidade. Mas não posso garantir que tenhamos a mesma criatividade e produtividade quando algo nos preocupa ou que temos a mesma paciência para os filhos e familiares, quando estamos preocupados com o nosso trabalho.
Por alguma razão vemos a conciliação entre vida profissional e pessoal no top 3 de critérios mais valorizados pelos profissionais, no Randstad Employer Brand Research, há mais de 5 anos consecutivos, junto de outros valores como benefícios salariais ou ambiente de trabalho agradável. É dos principais fatores que compõem um salário emocional e é também uma razão para repensar uma oferta de emprego segundo 68% dos participantes portugueses, no estudo Workmonitor 2023 da Randstad.
Estes estudos também demonstram que as lideranças dão cada vez mais atenção ao que os profissionais valorizam no local de trabalho e na sua carreira. Isto porque nas últimas duas décadas, grande parte dos gestores de empresas têm sido desafiados na dimensão do capital humano, seja pela atração como pela retenção de talento. Ainda para mais, não têm só sob a sua responsabilidade colaboradores diretos, mas também as suas famílias, formando um verdadeiro ecossistema baseado no impacto que o trabalho pode ter em todas as vertentes da vida de um qualquer profissional.
Quando uma empresa ou gestor cria um ambiente “seguro”, estável, flexível e com atenção ao bem-estar dos seus colaboradores, não está apenas a impactar as pessoas com quem trabalha, mas todas as que se relacionam nesse ecossistema. É nossa responsabilidade, enquanto gestores de talento, encarar a felicidade no trabalho como um pilar fundamental na responsabilidade social das empresas. E não falo de uma estratégia a delinear a três ou cinco anos mas um plano de ação concreto.
A criação de uma cultura de segurança profissional, onde as pessoas possam errar, admitir os seus erros, aprender e seguir em frente. De tolerância, companheirismo e trabalho em equipa, de respeito pelos outros enquanto profissionais e seres humanos.
Em suma, uma cultura que permita às pessoas serem elas próprias e onde se possam sentir e demonstrar que se sentem felizes. É esta cultura que vai permitir que as nossas empresas e o nosso ecossistema de cada um dos profissionais possam ter uma vida muito melhor.
É também assim que sabemos que felizes são aqueles que estão mais comprometidos, mais produtivos e querem permanecer neste ambiente!

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 210 de Setembro de 2023