Randstad Insight: Eu voto, eu mereço mais

Por José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal

Aceitem as minhas desculpas, as desculpas de quem tem vergonha, vergonha alheia pelos debates políticos com sabor a discussões futebolísticas, onde as promessas soam a vazio, sem compromisso. Líderes por inerência, nem sempre por competência, olham-se frente a frente mediados por um jornalista em conversas, perdão, em “desconversas” onde o pragmatismo fica fora do estúdio e o respeito nem sempre está em directo. Qualquer tentativa de mudar as regras do jogo é uma derrota, porque é preciso ser populista, retirar o foco do que é relevante para dar destaque ao mediático. Os jornalistas são parte desta dinâmica, avançando com questões o quanto mais genéricas melhor, porque assim todas as respostas sem conteúdo de relevo podem ser dadas, permitindo comparações burlescas e ofensas na primeira pessoa, sempre antecedidas de título académico, como se assim não fosse um verdadeiro ataque pessoal. No final fica sempre muito por dizer, diria eu que ficou mesmo tudo o que interessa aos portugueses, mas a culpa não é dos protagonistas, mas sim do tempo, da falta dele… Um filme que se repete nos vários canais e que explora em 25 minutos uma mão cheia de nada para um país que precisa de muito mais do que isso.

Afinal para que servem os debates? Para ataques entre partidos, uma guerra dos tronos que se assiste no campo de batalha onde vale tudo, menos arrancar olhos. Espaços em que a contradição deixou de acrescentar valor e a convergência é assumida com vergonha ou estratégia de negociação, como se uma “geringonça” substituísse a ambição de uma máquina.

Portugal merece mais, todos nós merecemos mais ou será que não? Muitas vezes utiliza-se a expressão que temos o poder político que merecemos, será? Será que esta é a liderança que merecemos?

Não. Eu mereço mais. Eu mereço mais porque votei, porque faço a minha parte. E você, merece?

E é por aqui que temos de começar e que temos de nos questionar. O que fazemos nós para que seja diferente? Para que estes líderes empossados e emproados respeitem quem os ouve e se comprometam com uma visão e um caminho a seguir. A estratégia tem de estar previamente definida, o programa eleitoral tem de estar desenhado e não a aguardar qualquer ocasião oportunista. Tal como nas nossas empresas temos de ter planeamento, temos de entregar valor e não apenas prometer, mas comprometer com os nossos accionistas e stakeholders. As empresas são um excelente exemplo de muitas vezes se terem esquecido dos seus “eleitores”, dos seus colaboradores. E quando o fizeram começaram a perder talento, mas não queriam saber, porque as pessoas pareciam não ser importantes. Mas depois faltava entregar, faltavam ideias novas, faltava resiliência, inspiração e propósito. Perdiam-se pessoas, mas também os resultados. Clientes abandonavam, as reclamações aumentavam e a empresa temia pela sobrevivência… Afinal a empresa são as pessoas, cada uma delas, desde o momento em que começam um processo de recrutamento e durante o tempo todo. Porque as empresas são pessoas e é o conjunto de pessoas que lhe dão vida todos os dias. E os partidos? Os partidos são pessoas, pessoas a quem se confia para governar um país. Mas não é um país qualquer, é o nosso. O nosso Portugal que tem tanto para correr, que precisa de crescer e de transformar. Precisamos de mais, de muito mais, de ambicionar e de ter. Precisamos de produzir e de ser produtivos, de entregar valor, de ter uma proposta de valor, de crescer e de sermos mais felizes, com maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, melhores salários e melhor qualidade de vida. Um caminho que não se faz em ataques pessoais, mas no conjunto e com uma visão. Um caminho que é possível quando cada um de nós faz a sua parte e reconhece o seu papel.

Eu cidadão voto.

Eu político cumpro.

É fácil, não é? Precisamos de liderança por competência e não por decreto ou por favorecimento partidário. Precisamos que os líderes sejam protagonistas e que os protagonistas tenham liderança para que o nosso Portugal entre finalmente num caminho de prosperidade.

Eu só posso assumir o meu compromisso, o compromisso de poderem sempre contar comigo, o compromisso de votar e de ambicionar sempre mais para o meu país.

#contacomigo

#euvoto


Artigo publicado na revista Executive Digest n.º 190 de Janeiro de 2022

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