What’s Next 2035 (Parte 1)

Opinião de Luis Rasquilha, CEO do Ecossistema Inova. Board Member/Non Executive Diretor (NED) da Mercur e da NTT Data Brasil. Advisor na AMARNA VIDA (Irlanda). Conselheiro da Diáspora Portuguesa. Professor convidado na FIA, FDC, Hospital Albert Einstein e ESALQ/USP. Colunista do MIT Sloan Review Brasil e Executive Digest Portugal.

(Parte 1 de 4)

Outubro é o mês em que normalmente a empresa onde atuo apresenta o seu relatório de tendências. Este ano não foi diferente e apresentámos o nosso What’s Next 2035, uma visão da próxima década pela lente dos três grupos de tendências que normalmente trabalhamos: megatendências, tendências comportamentais e tendências de negócio, segmentadas por 6 drivers ou forças motrizes (tecnologia e conectividade; ambiente e clima; política e economia; social e humano; saúde e bem-estar; educação, empresas e negócios).

Este artigo apresenta as forças motrizes em detalhe, deixando para os próximos artigos o detalhe de cada um dos grupos de tendências acima enunciados.

Forças Motrizes da sociedade que permitem a análise segmentada da realidade e sua definição:

  1. Tecnologia & Conectividade:

As evoluções em Tecnologia e Conectividade já traziam amplos benefícios para o dia a dia das pessoas de diferentes formas. O contexto atual de mudança tem acelerado o papel fundamental da tecnologia e da conectividade para que todos continuem as suas rotinas pessoais e profissionais da melhor forma possível.

Assistimos a diversas empresas de diferentes segmentos se adaptarem rapidamente para possibilitar, por exemplo, alternativas de trabalho remoto, equilibrando a entrega com a saúde de seus funcionários e familiares.

Automação, robótica e Inteligência artificial já estão mudando a natureza e o número dos trabalhos disponíveis e alterando as oportunidades que se apresentam no presente e no futuro. A tecnologia tem o poder de melhorar a qualidade de vida, aumentar a produtividade, a expectativa de vida e libertar as pessoas para se focarem em funções não operacionais. Mas este fenômeno também traz as ameaças ao nível social, político e econômico caso não se atinja o equilíbrio nestas mudanças.

Indiscutivelmente esta é a maior força direcionadora do presente e do futuro dos negócios e do comportamento humano.

  1. Ambiente & Clima:

As condições climáticas estão agora mais na pauta do que nunca: a subida do nível da água do mar, as secas e as inundações, o aquecimento e arrefecimento globais, a poluição atmosférica, as alterações climáticas em geral levam à transformação dos nossos ecossistemas e do nosso planeta. Isso afeta o desenvolvimento, a saúde, a produção e utilização dos recursos naturais e um conjunto amplo de impactos talvez ainda não total e devidamente mapeados.

As alterações climáticas podem (se nada for feito) potencialmente acelerar catástrofes humanitárias, potenciar conflitos e tornar partes do planeta inabitáveis. É essencial que todos contribuam para a prevenção. A prevenção poupa vidas e valores, reduzindo a necessidade de apoio humanitário quando uma catástrofe ocorre e apresenta-se como algo crescente na agenda da sociedade civil, que aumenta a sua pressão sobre líderes (políticos e empresariais) na exigência de ações concretas para reduzir as suas consequências e impactos.

A demanda por energia e água deve aumentar em 50% e 40% respetivamente até 2030. Novos trabalhos em energias alternativas, engenharia de processos, design de produtos e gestão de desperdícios serão necessários para gerenciar e reutilizar os resíduos para lidar com essas necessidades. As indústrias tradicionais de energia e os milhões de pessoas empregadas por elas sofrerão uma rápida reestruturação.

  1. Política & Economia:

O impacto da pandemia revelou-se intenso no tema da política e não foram menos pesadas as consequências na área socioeconômica: mudanças no trabalho, na produção, no consumo e na própria forma de se conviver em sociedade. Assistimos aos impactos no circuito global de produção e circulação de todo tipo de bem, afetando o fluxo do comércio internacional e a gestão da cadeia de suprimentos. Governos enfrentam desafios crescentes no que tange ao aumento do desemprego e à queda na renda disponível. Até 2030, a ONU projeta que 4,9 bilhões de pessoas serão urbanas e até 2050 a população urbana do mundo aumentará 72%. Hoje a maioria das grandes cidades já têm crescimentos superiores a uma grande parte dos países médios. Neste novo mundo as cidades serão importantes agentes de criação de outros/novos empregos.

Fruto da maior conscientização das pessoas sobre a sua real influência na sociedade e no mundo, a atenção tem-se virado também para a atuação política com efetiva busca por mudança nos sistemas políticos e econômicos vigentes, um pouco pelo Mundo. As nações em rápido desenvolvimento, particularmente aquelas com uma grande população em idade ativa, que adotarem um espírito de negócios, conseguirem atrair investimentos e melhorarem a sua educação são as que terão mais sucesso. A erosão da classe média, disparidade de riqueza e perda de empregos devido à automação em larga escala poderá aumentar o risco de agitação social nos países (mais) desenvolvidos.

  1. Social & Humano:

Temos mais gente no mundo, durando mais tempo com impactos gigantes na transformação da sociedade e dos negócios. Com algumas exceções regionais a população está envelhecendo, colocando pressão nos negócios, instituições e na própria economia.

A expectativa de vida vai afetar modelos de negócio, ambições e custos de pensão. Trabalhadores mais velhos precisarão de novas competências para trabalharem mais tempo (Upskilling Digital domina). Lifelong Learning será a norma. A falta de mão-de-obra humana em várias economias em rápido envelhecimento impulsionará a necessidade de aprimoramentos de automação e de produtividade.

E em simultâneo a situação que o mundo viveu, de isolamento, conjugada com a crescente consciência social trouxe à tona um maior humanismo e solidariedade com o próximo. Um dos legados desta década será a maior consciência e maior preocupação com o outro, dando sentido à expressão: o futuro do ser humano é ser humano.

O papel de cada um de nós e a obrigação também só aumenta daqui para a frente na busca de um mundo melhor.

  1. Saúde & Bem-estar:

Dois pilares fundamentais para o desenvolvimento humano e para a sustentabilidade das sociedades. No contexto atual, a importância destes elementos se amplifica, pois uma população saudável é crucial para a inovação, produtividade e resiliência. Investimentos em saúde preventiva, acesso a cuidados médicos de qualidade, e promoção de estilos de vida saudáveis podem reduzir a incidência de doenças crônicas, melhorar a qualidade de vida e aumentar a expectativa de vida.

O bem-estar, que abrange aspectos físicos, mentais e sociais, é igualmente vital. Um estado de bem-estar elevado contribui para a satisfação pessoal, relações sociais harmoniosas e um ambiente de trabalho mais eficiente e criativo. À medida que o mundo enfrenta desafios como o envelhecimento da população, mudanças climáticas e pandemias, a ênfase em políticas de saúde integradas e na promoção do bem-estar se torna essencial para garantir um futuro sustentável e próspero.

Incorporar essas prioridades em políticas públicas e práticas corporativas não apenas atende às necessidades imediatas da população, mas também constrói uma base sólida para enfrentar os desafios futuros, promovendo uma sociedade mais justa, equilibrada e resiliente.

  1. Educação, Empresas e Negócios:

A gestão das empresas tem sido, até hoje, influenciada pelos princípios de gestão criados na 2ª Revolução Industrial, princípios esses baseados na produção em massa, que se alcançava graças ao conceito de divisão de tarefas e ao uso da energia elétrica. Desde essa altura que as regras de funcionamento das empresas (com os normais ajustes) não sofreram grandes questionamentos nem alterações significativas mantendo-se fiel aos princípios de Taylor, Fayol e Ford. Por dois séculos, a gestão tem sido baseada na hierarquia de decisões e funções, com elevado foco na cadeia de valor e atenção máxima ao produto, numa clara visão construída “de dentro para fora”. Apesar das diferentes mudanças que o mundo tem vivido, nomeadamente no início do Séc. XXI, as empresas têm resistido a alterar o seu modo de atuar e de pensar. Modelos mentais engessados no passado e crenças culturais do século passado têm bloqueado a evolução e a transformação dos negócios, condenando empresas um pouco pelo mundo.

A educação é um dos meios mais importantes para o desenvolvimento de uma sociedade. Por meio da educação, produz-se conhecimento e, assim, todas as esferas de um país desenvolvem-se. A educação vai além da educação formal nas escolas, abrangendo também os âmbitos familiar e social. E no contexto de elevada transformação a necessidade de uma educação continuada e atualizada é um dos pilares importantes (se não o mais importante) na evolução da sociedade e dos negócios.

Fruto de um contexto em transformação, os modelos de gestão e consequentemente os negócios e as empresas têm sido envolvidas numa nova realidade de acelerada mudança em todos os níveis.

Para cada Força Motriz existe um grupo de megatendências, de tendências comportamentais e de tendências de negócio que tangibilizam cada uma delas.

Os próximos artigos apresentarão o detalhe de cada uma dessas tendências num total de 78 tendências divididas em 18 megatendências, 30 comportamentais e 30 de negócio.