Politicamente correto e igualdade?
Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati
Sou um acérrimo defensor da igualdade de género, de etnias e raças, de opção sexual, culturas, educação… Não sou um defensor da equidade nestas questões, pois consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça. O que significa que se torna subjetivo e não comparável. E os temas da diversidade e a inclusão estão a crescer em importância na sociedade e nas organizações. Basta avaliar que a diversidade e inclusão apresentam 19% de aumento de receitas nas empresas que são constituídas por equipas de direção mais inclusivas e, os resultados positivos sobem para 60% quando a tomada de decisões é feita por equipas de gestão diversificadas. Mas uma coisa é defender o que é certo e justo (a igualdade) outra é defender o politicamente correto. Correndo o risco de se estar a tornar uma ditadura social em que não podemos dizer o que pensamos em relação a questões de género, origem racial ou étnica (eu nasci em África), na religião ou convicções pessoais, na deficiência, na idade e na orientação sexual.
O caso do presidente da federação Espanhola de futebol é um exemplo disso mesmo. Julgo que é culpado do que o acusam, devido á sua relação de poder com a jogadora em questão, mas também ao seu comportamento algo “egocêntrico”. Mas não sou eu quem o deve julgar. Não o vou defender, mas julgo que as instituições lhe devem dar a oportunidade de contraditório e defesa. A educação é o melhor mecanismo para eliminar estes “bias” relativos á igualdade, mas também em relação á justiça. No entanto, todos exigem a sua demissão: o Governo, a Comissão de Presidentes das Federações territoriais espanholas, a FIFA… Porque é politicamente correto ou porque realmente querem defender o interesse supremo da igualdade?
No outro dia, li um texto fabuloso que dizia algo assim: um jovem que decidiu fazer um boneco de neve, em frente a sua casa. 1 hora depois, uma vizinha ativista feminina perguntou-lhe porque é que não fez uma mulher? Talvez por ser um machista. Na hora seguinte, um outro vizinho, homossexual, perguntou porque é não construiu um casal do mesmo género? Talvez por ser homofóbico. Ainda na outra hora seguinte, um outro vizinho, transexual, perguntou porque é que em lugar de representar um homem, não criou apenas um pessoa? Talvez por ser transfóbico. Entretanto todos decidiram fazer queixa na polícia e o jovem foi multado e acusado de tudo, acrescido pelo facto de ter feito uma construção no jardim sem licença (o estado não perde uma oportunidade de poder exigir uma coima). Quando regressava a casa, foi assediado por uma outra vizinha defensora do meio ambiente, que o acusava de ter desperdiçado uma cenoura que colocou no nariz do boneco, cenoura essa que apenas devia servir para alimentação. Foi processado e acusado de assédio, machismo, xenofobia, misoginia, transfobia… 2 horas depois, o boneco derreteu!
Edmund Burke desenvolveu um princípio relevante que pode aqui ser bem utilizado: “Para que o mal triunfe, basta que as boas pessoas fiquem de braços cruzados (o texto original dizia “bons” em lugar de “boas pessoas”, mas não quero ser acusado de machista). Portanto devemos estar vigilantes, educar, reprovar e castigar os comportamentos desviantes. Mas também devemos educar para a justiça e relembrar que a igualdade se conquista com questões substantivas ou representativas, mais do que com questões descritivas!